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Dossiê Marabá

102 RESPOSTAS

Encaminhamos a pergunta: “Você acha que o Marabá deve virar multiplex?” a diversas pessoas do meio cinematográfico. Veja as respostas:

Fui criado no interior e vim para São Paulo aos 17 anos. Fui centenas de vezes ao Marabá. Sinceramente não sei bem o que dizer. Mas acho que não há muitas alternativas. O ideal seria preservá-lo como cinema através da Secretaria da Cultura (como estão fazendo com o Olido). Mas vai dar Multiplex na cabeça, se não houver outra alternativa, pois do contrário surgirá um novo templo religioso, o que seria a desgraça das desgraças.
Afrânio Mendes Cattani. Pesquisador, professor da FFLCH-USP e autor de “A Sombra da Outra- A Cinematográfica Maristela e o Cinema Industrial Paulista dos Anos 50”

Deve se transformar num multiplex sim. É a melhor saída para se conservar o nome e as lembranças que o cine Marabá deixou em nossas memórias
Afrânio Vital. Cineasta

Tem que haver mudanças pra se poder passar os filmes. Se não mudarem, os cinemas somem. Tem que ter uma estrutura melhor com ar condicionado, por exemplo. Tem que manter uma série de coisas, mas tem que ver comercialmente o que o público quer e o conforto que eles desejam. Os cineastas e a imprensa de São Paulo tem que se reunir porque no momento não tem um movimento de cinema aqui, não tem um filme de expressão. Eu não vejo um movimento de jovens cineastas.
Agenor Alves. Diretor de sete longas-metragens (Tráfico de Fêmeas; Prisioneiras da Ilha do Diabo; A Volta de Jerônimo), ator e produtor

Desde que não encerre o cinema de uma vez, eu acho que não tem problema nenhum. Todas as salas antigas praticamente fecharam e ficar multiplex não tem problema nenhum.
Alcides Caversan. Fotógrafo e câmera (A Vingança de Chico Mineiro; A Luta Pelo Sexo) e diretor de dois longas metragens (Arapuca do Sexo; O Menino Jornaleiro)

Essa é a saída. Um cinema desse tipo, com dois mil lugares é inviável. É a saída para se modernizar, tendo duas ou três salas para se modernizar.
Alessandro Gamo. Pesquisador, cineasta (O Galante Rei da Boca), professor de história do cinema brasileiro da UFScar e autor de “Jairo Ferreira- Críticas de Invenção: Os Anos de São Paulo Shinbun”

Inicialmente, não gosto da idéia do Marabá ser transformado em um multiplex. Sempre gostei da bela imponência daquele cinema com o seu balcão, as suas duas salas de espera. E tenho ótimas recordações das estréias de vários filmes meus lá (Corpo Devasso, Violência na Carne, etc).
Mas é preciso reconhecer que hoje já não existe mais um público capaz de preencher todo o espaço do Marabá, ou pelo menos toda a platéia e parte do balcão. A freqüência aos cinemas caiu, o centro tornou-se menos freqüentado, quase todos os cinemas fecharam...
O melhor seria o Marabá ter apenas duas salas de projeção:uma embaixo com o mesmo espaço da platéia e outra ocupando o balcão. Como fizeram no Metro, da avenida São João, hoje transformado em templo religioso.
Alfredo Sternheim. Cineasta (Paixão na Praia; Anjo Loiro; Pureza Proibida; Violência na Carne) e crítico

Eu, romanticamente, acho que não. Mas, não se pode parar o curso da história. Ao menos, não o estão transformando em sede de igreja ou garagem.
Amílcar Claro. Curta-metragista (Imensidade; Náufrago) e assistente de direção (Sonho de Valsa; O Beijo da Mulher Aranha; A Casa de Alice)

Esta resposta tem um problema intrínseco, este fato me proíbe de entrar no mérito da questão do Marabá. Pois, se a sala era deficitária, como mantê-la? No regime capitalista o que fala mais alto é o fator econômico, não o emocional e cultural. Pois, do jeito que a sala se encontrava, sinceramente, era melhor fechá-la. O Marabá se encontrava em um estado que era um atentado contra qualquer espectador, mesmo a cinco reais. Para deixar daquele jeito, sob o meu ponto de vista, fechar o Marabá foi mais honesto. Agora, caso a Playarte cumpra a antiga promessa de transformar aquele espaço em um multíplex, vamos bater palmas. O que eu, sinceramente, duvido é que eles realmente façam tal investimento. Por se tratar de uma empresa de perfil bastante conservador no que tange a iniciativas inovadoras. Tomara que eu queime a minha língua, pois será um empreendimento inédito que contrariaria todas as visões sobre a exibição cinematográfica hoje em São Paulo, particularmente.
André Gatti. Pesquisador e professor de história do cinema brasileiro da FAAP e da Universidade Anhembi-Morumbi

Marabá é o símbolo de uma época em que os cinemas dos centros-de-cidade eram o ápice do divertimento popular. Tinha uma altíssima frequencia e todos os grandes lançamentos almejavam programar na sala. Era ali que o Mazzaropi anualmente estreava seus filmes de sucesso, vindo numa limousine e entrando por um tapete vermelho estendido através da calçada. A desarticulação desses cinemas, faz parte do movimento de queda do número de salas, da especulação imobiliária, da onipresença e banalização do audiovisual (já é mais que "cinema"). Do fim do "cinema paradiso".
Os multiplex representam a modernização do antigo circuito, depois de sucateado. São salas em geral voltadas para uma classe média, os poucos (nem a décima parte da população) que podem pagar preços altos de shoppings, ali consomem todo tipo de produto, e normalmente não são lá muito entusiasmados com os filmes brasileiros.
Não conheço as circunstâncias de transformação do Marabá em multiplex, mas acho que a questão diz respeito aos valores da modernidade e da tradição de um modo geral. Me parece que, diante do inexorável, seria auspicioso se um multiplex do Marabá conseguir unir os dois tempos e associar o popular ao moderno, a tradição do centro da cidade com as salas de cinema contemporâneas. Acho que isso poderia ser parte da iniciativa de um terceiro momento, de mais inclusão cinematográfica. Quero ser otimista.
André Klotzel. Cineasta (Marvada Carne; Capitalismo Selvagem; Memórias Póstumas)

Se há poucas décadas tínhamos vários tipos e estilos de cinemas nas principais capitais brasileiras, cada um com sua atmosfera, forma arquitetônica, a partir de 1998, com a instalação no Brasil dos complexos de salas Multiplex (Cinemark, UIP...), houve uma uniformização das salas e a instauração do ir ao cinema como a um fast food, a fazer do cinéfilo um consumidor de filmes. Cinéfilo desde tenra idade, lembro-me dos filmes que vi na infância, adolescência e idade adulta associados aos cinemas nos quais os assisti. Não me esqueço que vi 2001: uma odisséia no espaço, a space opera de Stanley Kubrick, na majestade do Comodoro em 70 mm. A proliferação dos cinemas Multiplex ou assemelhado fez com que desaparecesse aquele clima atmosférico que se tinha ao ver um filme numa determinada sala. E como mudou o comportamento da platéia diante do espetáculo cinematográfico ? Antes, tínhamos algumas piadas engraçadas, hoje celulares atendidos, conversas e risadas fora de hora, comilança institucionalizada.
Embora residindo em Salvador, freqüentei muito, nas minhas viagens a São Paulo, o cine Marabá. A sua transformação em Multiplex, assim é se me parece, é ato criminoso, pois uma sala que deveria ser tombada em memória de uma cidade que se encontra em rápido processo de descaraterização de sua essência como urbis”
André Setaro. Crítico e professor de cinema da Universidade Federal da Bahia

A conversão dos grandes cinemas antigos em multiplex me parece uma tendência irreversível. Se alguma referência à história da sala for mantida, pelo menos as cidades não estarão perdendo cinemas, como acontecia até a década de 90 quando as salas viravam bancos ou academias de ginastica, e sim ganhando mais opções de exibição.
Andrea Ormond. Pesquisadora e editora do blog Estranho Encontro

Dos anos 30 em diante, com a chegada do som, o cinema passou a ser a grande diversão do povo em todo mundo, não existia televisão, vídeo-cassete e muito menos dvd. A diversão do público em geral era o teatro e cinema, esta uma grande novidade. Passaram-se então a construir salas enormes, verdadeiros templos, para 2, 3 mil pessoas, e, ficavam, invariavelmente lotadas. Com o advento da televisão nos anos 50, a frequência nos cinemas começou a diminuir, depois o video-cassete, o dvd, etc. Então a tendência mundial mudou, os tempos são outros, a violência. Hoje quem vai ao cinema, quer estacionar seu carro com tranquilidade, fazer uma refeição, ver vitrines e ir ao cinema. Por isso, acho perfeitamente normal que existam 10 salas de 200 lugares ao invés de uma de 2000, além do que, propicia ao público uma maior diversidade de filmes. Então, vejo com muita naturalidade transformar o Marabá em Multiplex, muito melhor do que virar templos evangélicos ou fechar literalmente. Ou seja, prefiro ter 10 Marabás pequenos do que nenhum.
Antônio Leão da Silva Neto. Pesquisador e autor do “Dicionário de Filmes Brasileiros” e “Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro”

Em área popular ou em área nobre, as salas de cinema devem ser confortáveis, com boa tecnologia de projeção, programação que atenda o perfil de seu público, que valorize o Cinema Brasileiro e com ingresso a preços acessíveis. Tanto faz sendo em salas únicas como em salas múltiplas. O importante é popularizar o acesso, mantendo a magia própria do ritual de assistir a um filme. Sou a favor da reformulação de todas as salas que não buscam isto e da abertura de novas salas que querem isto.
Augusto Sevá. Cineasta (A Caminho das Índia; Real Desejo)

A história é dinâmica, viva! E por isso mesmo o Cine Marabá, por sua história e pela qualidade da sua arquitetura, não deve deixar de existir. E antes que o transformem numa outra coisa, sem nada haver com a sua tradição, defendo tranforma-lo num multiplex, sem nostalgias.
Aurelio Michiles. Documentarista (Que Viva Glauber; Davi Contra Golias)

Concordo plenamente que haja cinemas divididos, sim. Em função da situação atual, é melhor ter cinemas divididos do que parados. Hoje em dia, é impossível haver salas como no passado havia o Piratininga com 4.500 lugares. É um absurdo para os dias atuais. Essa é a nova realidade, uma adequação aos novos tempos, onde o espaço, o metro quadrado de um imóvel é absurdamente caro! É preferível termos várias salas de exibição ao invés de termos este espaço que outrora era destinado a cinemas, virarem supermercados, shopping, etc...
Ary Fernandes. Diretor de 31 longas-metragens (O Vigilante Rodoviário; Uma Pistola Para Djeca; Mágoas do Cabloco) e produtor de 36 longas-metragens (O Vigilante; Sinal Vermelho- As Fêmeas; Anjo Loiro; Sedução; A Estrela Nua; Quincas Borba)

Sou contra a transformação do Marabá em multiplex, pode até ser uma solução comercial, mas acabaria com o melhor do Marabá: sua platéia !
Beto Ismael. Editor do blog Pornochancheiro

Acho que a empresa que administra não importa, e sim o cinema continue operante, isso é o que mais interessa, é preciso manter os cinemas fora de shoppings.
Caio Dorigoni. Colecionador de filmes

Acho que poderia se fazer um projeto que alia-se a conservação do espaço com a viabilidade comercial.
Cao Hamburger. Cineasta (O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias)

Não há outra saída, infelizmente; ou ele vira multiplex ou desaparece de vez (como a maior parte dos cinemas do centrão). A verdade é que "abandonaram" o centro da cidade. Cada mês descubro um restaurante tradicional do centro fechado. As poucas áreas de circulação (normal) que ainda funcionam no centro são em shoppings mesmo (como o da Light). Pelo jeito, não vai sobrar - no futuro imediato - nem o Bar do Estadão, com seu tradicional sanduíche de pernil, nem o bar Brahma ou o Filé do Moraes. A cinelândia paulista é outra desde os anos 70; com isso lá se foi o estímulo para a freqüência do centrão nos finais de cinema...
Carlos Reichenbach. Cineasta (Anjos do Arrabalde; Alma Corsária; Dois Córregos; Garotas do ABC)

Tudo o que for feito para dar novo alento ao velho centrão da cidade, será muito bem-vindo. Cheguei a São Paulo quando o Marabá era um grande cinema, com o Metro ao lado, ali na São João, o Ipiranga, o República (cinema que passara filmes em 3D), o Comodoro, com sala sensurround, o Marrocos, o Ouro, o Regina, o Pigalle (depois Arouche), enfim, a velha cinelândia com belas salas. Transformar o Marabá num multiplex, se a programação de filmes for boa, será um presente para o Centrão.
Carlos Roberto da Costa. Jornalista e pesquisador

Não sou muito fã dos multiplex, mas talvez a mudança seja inevitável e a última forma de manter aquele espaço. É triste ver os grandes cinemas do centro desaparecendo um a um, mas cinema virou programa de gente rica e daí surgem os multiplexs faturando muito com pipoca e cinema. Uma pena porque é preciso trazer o público do centro de volta para o cinema e isso só será possível com ingressos mais baratos, com cinemas populares. O que eu quero ver é como se equaciona essa relação multiplex com o público do centro, se há uma mudança no perfil do centro da cidade ou das pessoas que costumam frequentar os cinemas nessa região. Até porque quando os cinemas do centro tinham público, não havia tantos cinemas na Paulista e no Shopping e a relação do ingresso com o dólar, que serve de parâmetro, era bem menor. A grande questão hoje é o preço do ingresso. Pagar R$ 16,00 por uma entrada é um absurdo !!!!!
César Zamberlan. Editor e crítico do Cinequanon

Não sou contra a criação de multiplex. Mas acho que os cinemas tradicionais deveriam ser mantidos como estão. Porém, caso esta seja a única maneira de deixá-lo funcionando, que venha o multiplex.
Chico Fireman. Jornalista, editor do blog Filmes do Chico e presidente da Liga dos Blogs Cinematográficos

Quando li ontem a pergunta me veio, num primeiro momento, a resposta mais óbvia que seria: "bacana, ao menos é um espaço que não vai virar depósito de lixo e ratos, ou cinema pornô, ou igreja evangélica. Vai ser bem bom manter um cinema de 'rua' vivo ainda no centro da cidade, que é uma região carente de espaços culturais, blá, blá, blá...
Mas pensei um pouco mais e imagino que algo mais próximo do que imagino deveria ser uma resposta mais interessante e mais afinada com a realidade do assunto; deveria versar sobre a razão de se perder um espaço grande para a exibição de filmes, que tem, mais do que a vantagem de ser um espaço de "rua" ainda, a virtude de ser um espaço físico muito próximo de ser considerado uma espécie de patrimônio físico em uma cidade que não preza a preservação. Construir um Multiplex não valida - utilizando como razão, a manutenção de um espaço cinemtográfico na região - a inutilização do "espaço ícone" que é a edificação Marabá. As pessoas se deslocam com facilidade aos shoppings na busca de cinemas - não estamos tão carentes deles ultimamente. A perda do tamanho avantajado, a perda de um local que deveria ser restaurado - não reformado -; a não possibilidade de contarmos com o lugar intocado Marabá, dando de frente para a Ipiranga, muito mais como um símbolo do que como sala de cinema simplesmente, me parece muito mais importante a cada segundo que passa enquanto digito essa resposta.
Salas de cinema serão sempre muito bem vindas, mas, no caso, muito melhor seria podermos contar com um projeto que mantivesse o local vivo; de alguma maneira.
Cid Nader. Editor e crítico da Cinequanon

Sim. Hoje não tem mais lugar para aqueles cinemas enormes. Se bem que dá saudades do Marabá. Mas com o multiplex ele será um melhor cinema e também uma boa opção no centro da cidade.
Cláudio Cunha. Cineasta (O Clube dos Infiéis; Snuff- Vítimas do Prazer; Amada Amante; O Gosto do Pecado), produtor (A Força dos Sentidos; Karina, Objeto de Prazer; Amor, Palavra Prostituta) e ator

Há dois lados nessa história do Marabá. Manter como está, com aquele ar de decadência e apenas passado de grande cinema, a princípio, parece ir contra a própria história daquela sala. Manter a tradição na prática contemporânea, tal qual se dá hoje a configuração de frequência às salas de exibição, sobretudo na região central, é algo hoje fora de questão se não houver mudanças, de cara, nessa configuração da frequência e do próprio centro da cidade como espaço do cinema. Ele deixou de sê-lo. Frequentei o Marabá nos anos 70 e 80, na infância, adolescência e parte da vida universitária. Vivi a transição de um cinema ainda com o passado ecoando no presente para um cinema com história e cheiro de mofo. Não voltei mais lá nos anos 90, a não ser uma única vez, para ver aquele filme do Deny Cavalcanti com a Lilian Ramos, logo depois dela aparecer com piriquita desnuda no palanque do Itamar Franco. A sala já era um fantasma de si mesma. Agora, a transformação em multiplex, na prática, é o fim do Marabá. Recupera-se um espaço de exibição, certamente teremos um ganho de conforto e condições de exibição, certamente devemos ter uma subida de ingresso e uma elitização econômica desse acesso, haverá mais fimes, o centro poderá ter uma nova relação com o cinema, mas será uma outra coisa, seguindo a lógica de nosso tempo, que não é mais a lógica do antigo Marabá. Toda mudança traz essa relação dialética com a situãção anterior. Ganhe-se algo, perde-se algo. A questão é saber o que se ganha e o que se perde. Como o espaço é privado, como o cinema é comércio e o comércio não respeitos mitos, tradições, a própria História, tudo se torna permitido. Na prática, falando politicamente, no sentido estrito do termo política, de discutirmos o funcionamento de nosso espaço, o que poderia acontecer? Parece que o primeiro passo, não dado, é uma política pública de preservação, que defenda certos espaços arquitetônicos da dinâmica natural das mudanças da cidade, mas, como disse, somente manter a arquitetura sem manter a tradição da frequência do cinema ali, acho um pouco saudosismo inoperante. Enfim, são as contradições da vida em uma metrópole
Cléber Eduardo. Editor e crítico da Cinética e curta-metragista (Almas Passantes)

Não sou paulistano e nos anos em que morei em Sampa não freqüentei o Marabá, então talvez eu não tenha o envolvimento necessário para avaliar. Mas a mim o que importa não são exatamente as próprias salas, e sim os filmes que são projetados. Por isso, a questão dos multiplexes me preocupa mais pela programação que as salas vão ter do que pela arquitetura do lugar. Claro, uma projeção em boas condições é fundamental - e, sinceramente, como crítico e como realizador, já aprendi que salas pequenas têm melhor acústica do que salas imensas. Mas não sei se é essa a questão que moveria uma defesa do Marabá. Talvez seja uma memória afetiva e arquitetônica da cidade - mas não domino o assunto para avaliar isso, como disse.
Daniel Caetano. Crítico da Contracampo

Na verdade, o mundo não é o mesmo de trinta anos atrás. Torna-se inviável qualquer tipo de cinema parecido como o que o Marabá era antes. Portanto, o multiplex demonstra-se a melhor alternativa.
Domingos Ruiz Júnior. Ex-colaborador da Zingu!

É difícil resistir a modernidade, melhor ser multiplex, porque assim ele ainda é um cinema de rua. Mas é uma pena, porque era um cinema tão bonito, mas não tem muito o que fazer. Eu acho que o cinema de rua pelo menos é melhor que os de shopping que acaba isolando muito as pessoas.
Éder Mazzini. Montador de 41 longas-metragens (Amor, Estranho Amor; Anjos do Arrabalde; Filme Demência; Cinderela Baiana)

Não ! O Marabá é um dos mais tradicionais cinemas "vivos" do centro da cidade. O Marabá merece uma reforma que lhe devolva a "suntuosidade" de outras épocas.
Grandes estréias fizeram a programação do Marabá, num tempo em que homens vestiam terno e gravata para ir ao cinema.
Outros cinemas do centro de São Paulo sempre tiveram um "estilo próprio e diferenciado". Infelizmente, alguns, como o cine Metro, o Regina e o Comodoro foram totalmente descaracterizados. É a "história da exibição cinematrográfica" de uma das maiores cidades do mundo "indo literalmente para o brejo". Ou para alguma igreja "evangélica", como aconteceu com o elegante e confortável cine Copan. Ou ser consumido pelo fogo. A vítima? O cine República.
Freqüento o cine Marabá desde os anos 60. Era muito agradável ver um filme lá. Uma sala ampla, corredores agradáveis e poltronas confortáveis.
Não aos multiplex no centro. O cine Marabá, bem como o cine Ipiranga, o cine Windsor deveriam ter, sim, uma campanha de revitalização. Para proporcionar ao público o "espetáculo cinema", onde o burburinho e a "paquera discreta" da sala de espera é item de extrema importancia para o espetáculo. E onde o ato de adentrar num cinema de "verdade", escolher a melhor poltrona e aguardar ansioso o filme funcione como "as preliminares" do ato que ali irá se consumar entre os espectadores e o Cinema. Cinema com caixa alta, é claro!
Edu Janks. Jornalista e editor da revista Cinevídeo

Sim, sou a favor que o cine Marabá se torne um multiplex.
Explico: é preciso ter clareza que os cinemas de rua estão fechando sistematicamente, querer ignorar isso é colocar uma viseira nos olhos. Mais importante do que preservar o Marabá enquanto espaço arquitetônico e histórico, antes de tudo é preciso preservar os cinemas de rua na região central, e nesse sentido, 03 ou 04 ou 05 salas, não importa, serão muito bem vindas!
Todavia, não acho que os cinemas históricos devem simplesmente serem 'limados' de nossa memória, mas fico me perguntado se emperrar uma alternativa clara para a decadência desses espaços, considerando que não há uma política pública efetiva de preservação de memória, se isto não seria uma maneira de condenarmos e associarmos a lembrança desses templos com um sentimento de melancolia e decadência, que por sinal, já existe hoje em dia.
Enfim, preservar é importante, mas é preciso que isso não esteja em desacordo com a realidade, mesmo a galeria Olido, patrocinada pela prefeitura, me parece longe de recuperar de fato, a relação que aquele espaço já teve com a população paulistana, ou seja, soluções como a citada, muitas vezes, acabam por elitizar o espaço em questão. Não considero que esse seja o melhor dos caminhos.
Eduardo Aguilar. Curta-metragista (Oferendas; Lourdes, Um Conto Gótico; Jogos; Claustro), assistente de direção (Anjos do Arrabalde; Alma Corsária; Garotas do ABC) e colaborador da Zingu!

Acho que qualquer cinema que não feche para virar igreja, farmácia ou loja de departamentos é uma boa coisa.
Eduardo Valente. Cineasta, editor e crítico da Cinética.

Passei grandes momentos da minha adolescência no Marabá. O Marabá era muito chic. Se ele virar um Multiplex, sentirei falta da sua tela grande, seus espaços amplos. Ficará para sempre na minha memória, assim como estão o Ouro Verde da Mooca ou o Comodoro. Os tempos mudam, é fato.
De qualquer maneira, é melhor destino virar Multiplex, do que um desses templos sem sentido.Façamos culto ao cinema, ao bom cinema, seja lá em que espaço ele estiver, mas que jamais deixe de existir.
Eliana Fonseca. Cineasta (O Martelo de Volcano; Eliana em O Segredo dos Golfinhos)

Não. O do centro de São Paulo, não.
Eurico Neiva. Pesquisador e autor do livro “De Noite Tem...um Show de Teledramaurgia da Pioneira”, sobre as novelas da TV Tupi

Na verdade, eles deveriam pelo menos manter alguns cinemas grandes como o Marabá. Me lembro que tínhamos um cinema que ficava na Celso Garcia, o Cine Universo que tinha três mil lugares, e sempre lotava em todas as sessões. Em termos de cinematografia, deveriam tombar alguns cinemas históricos. O lado comercial, de dinheiro eu não sei. Virando multiplex vai acabar a sala para mais de mil pessoas. O lazer das pessoas terá que ser diferente em salas cada vez menores.
Fauzi Mansur. Cineasta de 38 longas-metragens (Cio- Uma Verdadeira História de Amor; Sinal Vermelho- As Fêmeas; A Noite do Desejo; Sedução; A Noite das Fêmeas) e produtor de 40 longas-metragens (O Jeca e o Bode; As Amantes Latinas; Gaiola da Morte)

Salas enormes com projeção e sistema de som excelente são lindas mas o que acontece com estas mega-salas, ao menos em outros lugares do mundo, é que elas precisam ficar exibindo apenas Homem Aranha e seus amigos para sobreviver. Por essa razão, acho mais viável e interessante os multiplex que, a princípio ao menos, podem oferecer um espectro de filmes maior.
Fernando Meirelles. Cineasta (Cidade de Deus; O Jardineiro Fiel)

O Marabá fica nas mãos do Estado, da prefeitura ou da Playarte. Se for ficar nas mãos da Playarte, antes um multiplex do que a sala abandonada. Como sabemos a prefeitura ou o Estado não investirão ali, não há, infelizmente, outra chance. O público parece gostar cada vez mais desse formato multiplex, e talvez essa seja uma alternativa pra salvar os cinemas do centro. Muitas grandiosas salas, como o Cine Marrocos e o Metrópole, fecharam suas portas há anos.
Fernando Roveri. Colaborador especial da Zingu!

Minha posição é de que Marabá deve ser preservado em sua arquitetura, como símbolo que foi de uma época do cinema brasileiro e da forma de exibição cinematográfica nos anos 50/60. Colunas, poltronas, tela, cortinas, fachada, hall de entrada, fazem parte da memória de nosso cinema. O Marabá faz parte de nosso passado como ícone.
Fernão Pessoa Ramos. Pesquisador, professor da Unicamp e autor da “Enciclopédia do Cinema Brasileiro” e “A História do Cinema Brasileiro”

É duro romper com as tradições. Mas o princípio-guia da vida é sempre a sensatez. É melhor um cinema ser restaurado e consertado com as devidas (e necessárias) providências virando um Multiplex do que permaencer sucateado. à margem do bom gosto e das normas mais básicas de higiene. O que vale, afinal, é o empenho para manter o cinema sempre vivo. Esforços são úteis e urgentes. Que o Marabá tenha nova e longa existência como Multiplex, pelo menos até viabilizarem solução melhor.
Filipe Chamy. Colaborador da Zingu!

Eu realmente acho que um cinema com uma história, deveria merecer alguma atenção especial por parte das autoridades. Somente acho que cinemas como esse, deveriam tornar-se cinemas de rua como o Belas Artes, exibindo filmes mais artisticamente evoluídos.
Flat. Colaborador especial da Zingu!

Existem prós e contras com relação à transformação do cinema em multiplex. Não conheço a situação do Marabá. Não sei como ele estava de público. Se for isso algo necessário para que este espaço não feche as portas, seria melhor termos um multiplex ali do que uma igreja ou um estacionamento. É uma fatalidade do mundo contemporâneo.
Por outro lado é preciso ver também que o Marabá faz parte da história da cidade, e como tudo no centro, está se descaracterizando. Se as coisas continuarem assim, em pouco tempo não teremos mais nenhum prédio ou fachada originais.
A culpa é menos do Marabá em si e mais do descaso que o centro da cidade vem sofrendo nos últimos trinta anos. Essa tal política de revitalização do centro limpou um pouco a cidade e melhorou algumas coisas, mas não leva muito em conta, por exemplo, essa coisa do centro como pólo de diversão popular. Querem fazer boulevards, reformar espaços históricos (o que é ótimo), como se a revitalização servisse somente ao turismo e à classe média. É necessário um incentivo ali para outras coisas, outras formas de diversão e cultura. Afinal, quem mora na zona leste, zona sul e zona norte, ainda passa por ali, muito mais do que quem mora nos Jardins, em Cerqueira César, Higienópolis...
O Marabá por exemplo, garanto que se o ingresso fosse mais barato, as pessoas frequentariam mais a sala. O preço do ingresso tal como está agora é algo impraticável.
Acho que existe uma disfunção no centro de São Paulo. Patrimônio histórico, política de revitalização e lazer não estão encontrando. Isso é triste.
Francis Vogner dos Reis. Crítico da revista Paisà e da Cinética

Eu acho que sim. Importante ter mais um cinema de rua para se multiplicar as salas. Com toda sinceridade, baseado no público que temos hoje é impossível termos lugar para mais de 300 pessoas. Quanto mais salas tiver, melhor será. Salas vazias não interessam a ninguém. Tem que fazer filmes que sejam grandes sucessos para lotar, senão o exibidor vai acabar falindo já que eles tem um aluguel imenso pra pagar muitas vezes sem exibirmos. Assim, com mais salas vamos ter mais condições para exibirmos os nossos filmes.
Francisco Cavalcanti. Diretor, produtor e ator de 20 longas-metragens (Porão das Condenadas; Padre Pedro e a Revolta das Crianças; Os Seqüestradores; Horas Fatais; Instrumento da Máfia)

A tendência é mesmo se fracionar e fazer várias salinhas. Na fase áurea, se enchiam os cinemas. Hoje a freqüência é bem menor e essa á a tendência atual.
Galileu Garcia. Cineasta (Cara de Fogo) e assistente de direção (O Cangaceiro)

Sempre gostei de cinemas localizados na rua. Lembro de quando freqüentava as salas das avenidas Adolfo Pinheiro e Santo Amaro na década de 80. Com a extinção delas, passei a ir assiduamente ao cine Marabá, que me deixou maravilhado com sua enorme tela e a quantidade de poltronas. Mas raramente via a sala cheia nos últimos anos, apesar dos ingressos baratos. Se tornar-se multiplex for a única alternativa encontrada para o Marabá não fechar, não vejo problema nenhum. Só espero que essa medida não encareça o ingresso.
Gio Mendes. Jornalista, que está escrevendo a biografia de Sady Baby.

Sinto muita falta de cinemas com telas realmente grandes como a do Marabá. Fico triste em pensá-lo transformado em um conjunto de caixinhas. As telas dos cinemas tem se tornado cada vez menores e as de nossas televisões cada vez maiores. Desta forma, o hábito de sair de casa para ir ao cinema vai ficar desnecessário.
Guilherme de Almeida Prado. Cineasta (A Flor do Desejo; A Dama do Cine-Shangai; Perfume de Gardênia; A Hora Mágica)

Sinto saudades das grandes salas de cinema lotadas de gente. Quem com mais de 40 anos como eu, a vida toda vivida em São Paulo, não se lembra das matinês da infância, da espera ansiosa na rampa do cine Astor para assistir aos sempre geniais desenhos Disney? E do capricho de creme no Frevinho, quase obrigatório depois da sessão?
E do frio na barriga adolescente, matando a última aula da manhã nas tardes de sexta-feira, para não perder a primeira exibição de filmes como “Rocky, um lutador” e “Os Embalos de Sábado à Noite”, de preferência num cinema do centro da cidade como o Marabá, com suas mil e muitas cadeiras e som estereofônico? Sempre chupando drops Dulcora mixto ou balas Mentex, para enganar a fome e adocicar os beijinhos roubados na sala escura?
E, um pouco mais para frente no tempo, as centenas de sessões corridas durante a Mostra de Cinema de São Paulo, assistidas na sala gigante, já decadente e cheirando deliciosamente a mofo, do cine Metrópole? Para, é claro, terminar a noite tomando um conhaque e uma sopinha, esquentando a conversa e a alma no bar do Hotel Eldorado? Apaixonada pelo assunto, eu poderia continuar aqui evocando outras tantas e muitas lembranças. Impossível não ser saudosista, gosto disso. Para mim, o espanto da descoberta da maravilhosa janela aberta para o mundo que é o cinema estará para sempre associada a essa memória das grandes sessões nos grandes cinemas.
Mas o mundo mudou. Algumas coisas para melhor, certamente. As grandes salas tornaram-se obsoletas e ir ao cinema passou a ser uma experiência associada ao consumo dentro de um shopping-center. Meu sobrinho, há pouco tempo, aos 5 anos de idade veio me contar, entre o espanto e o entusiasmo, que pela primeira vez tinha freqüentado um “cinema sem shopping”! Em Nova York! Mais confortável e repleta de inovações tecnológicas, a ida ao cinema tornou-se também – horror dos horrores! – uma experiência que sabe a aroma de pipoca com manteiga, com trilha sonora de canudinho sugando refrigerante. Mas fazer o quê? Ainda prefiro que o Marabá continue a ser um cinema ou várias salas de cinema conjugadas, bem conservadas e restauradas por projetos arquitetônicos responsáveis e respeitosos do que se transformar em estacionamento ou loja de ferramentas (que, aliás, também são essenciais no mundo real). Só não dá para abrir mão de uma coisa: da qualidade do que as novas e pequenas telas passarão a exibir. Antonionni, Felinni, Fassbinder, Kurosawa, Ozu, Pasolini, Tarkovsky, ai meu Deus... muita coisa dá saudade mesmo. Ainda bem que eu tenho as minhas memórias.
Helena Tassara. Curta-metragista (Era Uma Vez o Brasil; Frutas do Brasil- Bacuri, Graviola, Pitanga)

Não acompanhei muito a queda da sala, já que cuido mais da parte técnica do cinema. Em termos de marco, foi uma boa sala, uma referência. Foi uma surpresa perder uma sala como o Marabá, com muita história, porém está se modernizando. O Cine Ouro, por exemplo tinha saca de recepção com música ambiente para esperar a sessão. O Cine Marrocos era outra maravilha, com barzinho e tudo muito bonito. Isso acabou, o cinema ficou frio demais, muito comercial. Portanto, ficou muito difícil fazer cinema hoje porque não temos onde lançar os filmes em 35 milímetros. Infelizmente, vai ter que passar e jogar tudo pro digital.
Henrique Borges. Fotógrafo e câmera de 46 longas-metragens (Os Depravados; Massacre em Caxias; A Dama do Sexo)

Depende. No caso do Marabá, se for um multiplex com salas razoavelmente grandes, acima de 300 lugares, e que preserve seu caráter de cinema popular, sou a favor. Acho importante haver multiplex de rua, fora de shoppings e com preços baratos.
Ícaro Martins. Cineasta (O Olho Mágico do Amor; Onda Nova; Estrela Nua) e presidente da Associação Paulista de Cineastas

Eu tenho lembranças muito boas do Marabá tal como era. Mas entendo que a vida dos cinemas está ligada a seu destino econômico. Se fizerem um multiplex decente e popular estarão colaborando para a revitalização do Centro.
Inácio Araujo. Crítico da “Folha de S. Paulo”

Acredito que esta discussão deva ser aprofundada. Um ponto fundamental é que a arquitetura maravilhosa do cinema seja mantida. Quantas salas seriam previstas? Que tipo de filmes passariam nestas salas? Existem várias formas de multiplex. Acho que este não deve ser um projeto que seja concebido exclusivamente pelo fator comercial. Deve-se levar em conta o local do cinema na geografia da cidade; as carências de salas de cinema no Brasil etc. De todo modo, "rezo" muito para que o Marabá não vire mais uma igreja. Aí sim seria uma lástima
Kiko Goifman. Documentarista (33)

O multiplex é uma tendência moderna. Hoje em dia, não temos mais esse tipo de público para mil lugares. Fazer salas menores para um público maior, pode tornar o Marabá sendo um cinema de arte como o Belas Artes. Por isso, sou favorável que ele se torne multiplex.
Jeremias Moreira Filho. Cineasta (O Menino da Porteira; Mágoa de Boiadeiro; O Fuscão Preto)

Eu preferia que o cinema fosse reaberto como era nos anos 1960, quando comecei a fazer cinema. Mas sei que isso é difícil, os cinemas tendem a salas pequenas e os centros urbanos se deterioraram muito. Para se manter o cinema seria preciso uma ação conjunta, iniciativa privada e governos, recuperando o centro e propondo políticas de atração de público. Seria muito bom.
João Batista de Andrade. Cineasta (Gamal, o Delírio do Sexo; Wilsinho Galiléia; O Homem Que Virou Suco; A Próxima Vítima) e secretário de cultura do estado de São Paulo

Eu acho uma boa, porque é um cinema tradicional. Eu acho uma bela opção pra se fugir do esquema normal de shopping center.
João Callegaro. Cineasta (O Pornógrafo)

É claro que qualquer iniciativa que salvaguarde o Cine Marabá, é bem-vinda nesse momento. É um templo mítico do cinema brasileiro. Além de uma memória riquíssima, foi no Marabá por exemplo que "O Bandido da Luz Vermelha" de Rogério Sganzerla se consagrou, renovando a utopia que um filme elaborado pode cair sim no encanto do público. Sobre a destinação do espaço, não sei exatamente o que significa um multiplex, seria a reprodução de um modelo já existente ? Ou o projeto prevê um diálogo efetivo com a história do centro de São Paulo e sobretudo com o imaginário do cinema paulista desde seus primórdios ?
Meu receio, confesso é que apenas a "fachada" arquitetônica seja preservada para embalar um projeto meramente mercantilista. Imagino que não, pois a mobilização para revitalizar o centro de São Paulo e recuperar o patrimonio cultural de São Paulo vem movida por um sentimento amoroso somado a utopia do bem-estar que almeja sempre uma metrópole civilizada. Gostaria de conhecer o projeto, inclusive, para me manifestar mais profundamente sobre esta campanha !
Joel Pizzini. Documentarista (Evangelho Segundo Jece Valadão; Depois do Transe; Anabasys)

Em primeiro lugar, a “magia do cinema” é amplificada nas salas colossais dos cinemas do Centro – que faziam elas mesmas parte do espetáculo. Qual será o diferencial de um Cine Marabá dividido em cinco salinhas? A localização? A fachada? A sala de estar? Porque no principal, a platéia, não vai ser diferente dos multiplex da vida.
Minha segunda objeção tem a ver com o que a gente deseja para a nossa cidade. Por que nas grandes capitais do mundo – Nova York, Paris, Londres – continua a haver grandes cinemas de rua – e lucrativos ? Para não ir muito longe: também no Rio de Janeiro e Buenos Aires.
É que o fim dos cinemas de rua e da Cinelândia paulistana são conseqüência do modelo de cidade que vem predominando de 25 anos para cá – onde o espaço público é abandonado à sua própria sorte, o Centro Histórico é degradado, o transporte individual predomina sobre o transporte coletivo, a experiência fascinante de se viver em um espaço urbano altamente complexo e sofisticado que é uma grande metrópole se empobrece, com as pessoas se enclausurando dentro de muros, de carros, shopping centers e dentro de si mesmas.
Grandes cinemas de rua, íntegros e não divididos como o Marabá, são importantes para a recuperação do Centro, para o turismo, para a qualidade de vida e até para a auto-estima dos paulistanos. Defendo a volta do Marabá, e também do Marrocos, do Paissandu, do Ipiranga, sem prejuízo para os proprietários – por que não conceder incentivos fiscais a eles, se vários shoppings de São Paulo foram construídos ou reformados com dinheiro do BNDES? os benefícios de se trazer de volta os palácios cinematográficos da Cinelândia são muito superiores aos custos. São Paulo é uma cidade extraordinária, que precisa se dar o devido valor e parar com esse triste costume de pensar pequeno. Transformar seus grandes e históricos cinemas, marcos da engenharia, da arquitetura e da arte, em multiplex, é pensar pequeno.
Dentro de 10, 15 anos, o Centro de São Paulo deverá voltar a brilhar, sendo a recuperação da Cinelândia parte essencial desse processo. A vida pública, a vida urbana, a urbanidade e o urbanismo deverão voltar a ser valorizados, é isso ou a barbárie.
Jorge Eduardo Rubies. Presidente da Associação Preserva São Paulo e responsável pelo site www.piratininga.org

Eu não sei bem responder essa questão. Eu tive pelo menos um filme lançado lá no Marabá. Porém, é a evolução, a coisa vai acontecer dessa maneira. Outros cinemas como o Paysandu e o Art Palácio também poderiam se transformar em multiplex. Não sei o resultado disso, porque a maioria dos multiplex estão em shoppings onde os espectadores tem mais segurança. Mas será ótimo termos mais salas de cinema, será uma ótima opção pra quem produz. A tendência é essa.
José Adauto Cardoso. Diretor de 14 longas-metragens (...E a Vaca Foi Pro Brejo; O Motorista do Fuscão Preto; As Taras de Um Mini-Vampiro)

Sou contra os multiplex. Acho detestável a forma como se vê cinema nestas salas. Porém, estamos nesta encruzilhada: ficar fechado e virar sabe Deus o quê ou abrir neste formato. A única opção para a população do centro é o Roma e aquele da Dom José que também só passa pornô por atacado. O resto é Centro Cultural (BB, Galeria Olido, futuro SESI, etc.). Se o Marabá for reformado e abrir com preços acessíveis para a população, acho que haverá mais uma opção de cinema.
José Inácio de Melo Souza. Pesquisador e autor do livro “Paulo Emílio no Paraíso”.

Acho ótimo. Tem que acompanhar o progresso. Não adianta nada termos um cinema vazio que não vai ninguém. Se ele se tornar multiplex, nós ganhamos mais uma sala para exibir mais filmes nacionais.
José Miziara. Diretor de 17 longas-metragens (Bem Dotado- O Homem de Itu; Embalos Alucinantes; Mulheres do Cais; Pecado Horizontal) e ator

O Cine Marabá tem uma história e uma longa tradição de exibir sempre filmes de grande sucesso de público e crítica. É um cinema que já foi padrão de excelência em instrumentação de projeção e conforto para os espectadores. Hoje, infelizmente, vive dias de pouca expressão. Sua transformação em espaço multiplex vai descaracterizar totalmente sua vocação incial, mas ao mesmo tempo vai devolver a ele a dignidade de voltar a ser uma referência. Acho que ele vai ser mais útil e melhor aproveitado se for transformado. É a vida seguindo seu rumo e seu ritmo implacável. Feliz vida nova ao Marabá!
Jota Santana. Crítico, escreveu sobre a Boca do Lixo no jornal “Notícias Populares”. Fez still e também foi ator em alguns filmes.

Isso é uma tendência natural. É difícil termos tantas opções para um mesmo público, é mais fácil ter quatro opções para cem, duzentas pessoas. Todos os cinemas antigos de São Paulo ou fecharam ou se tornaram cinemas pornôs. O custo operacional é muito grande e os cinemas estão se elitizando cada vez mais. Infelizmente, apenas a classe média alta tem acesso ao cinema.
O acontecimento disso em São Paulo é completamente igual ao que aconteceu em Los Angeles, Amsaterdam, Bruxelas e nos Estados Unidos. Cinema popular pressupõe um custo elevado e por isso, estão cada vez mais perdendo seu público. Uma coisa ridícula os cinemas serem mais caros nos finais de semana, por exemplo.
No final dos anos 70, um cinema como o Marabá dava vinte cinco mil e trinta mil pessoas num só final de semana. Se desse treze mil, por exemplo, o filme saia de cartaz. É triste ver tudo isso, na minha adolescência eu ia muito ao Cine Marrocos, em sessões fantásticas, ás vezes até triplas.
Juan Bajon. Diretor de 33 longas-metragens e produtor de 38 longas-metragens

Isso é um absurdo. Deviam manter os cinemas antigos de alguma maneira. Apesar dos multiplex trazerem mais lucros e mais público, os antigos tem uma tradição, um valor histórico que tem de ser preservados.
Judson Ovídio. Colaborador especial da Zingu!

Sim, um multiplex popular!
Laís Bodansky. Cineasta (O Bicho de Sete Cabeças; Chega de Saudade)

Pessoalmente, não me agrada a idéia dos Multiplex - talvez pelo tipo de programação que esses cinemas costumam trazer, além daquele visual padrão meio brega. Mas, pior do que ver o Marabá descaracterizado como cinema, é vê-lo transformado em outra coisa que não um cinema. Não conheço muito bem o projeto, mas, se servir para viabilizar a manutenção de um lugar tão importante (e mítico) para o cinema brasileiro, eu acho bom.
Laura Cánepa. Pesquisadora e editora especial do Cinequanon

Isso é uma infelicidade, mas o Marabá tinha que mudar. O Marabá foi uma coisa fantástica, porque todo o tipo de gente freqüentava aquele cinema. Porém, o tempo mudou e o cinema mudou. Vai ser na verdade um telão de equipamento digital. Não podemos negar que é uma tentativa de se revigorar o cinema dentro dos tempos atuais, mesmo não sabendo se vai dar certo.
Luiz Castellini. Cineasta (As Amantes Latinas; A Reencarnação do Sexo; Ousadia; Elite Devassa; Instinto Devasso)

O cinema de rua é uma das minhas metas. O cinema em shopping é caro e impopular. Eu sou a favor que se torne multiplex, desde que eles dêem pelo menos uma sala somente para se exibir filmes brasileiros. Eu luto pra que essas salas não sejam somente do filme estrangeiro. Eu luto pelo cinema do presente. Só o presente me interessa e o futuro a Deus pertence. Fazemos um cinema de guerrilha !
Luiz Gonzaga dos Santos. Cineasta (Patty, A Mulher Proibida e Anúncio de Jornal)

A transformação de um dos mais famosos Palácios do Cinema do Centro de São Paulo: o Cinema Marabá, em um multiplex é uma deprimente notícia para aqueles que realmente gostam de cinema e buscam a preservação da memória arquitetônica da região central da capital paulistana. O Cinema Marabá deveria ser reformado nos mesmos moldes do Cine Odeon do Rio de Janeiro, e se transformar em um endereço obrigatório para cinéfilos de todas as gerações, com realização de Mostras e lançamentos especiais de filmes, principalmente brasileiros. Uma reforma realmente bem sucedida no Marabá, observando sua bela arquitetura e seus espelhos da entrada, iriam melhorar todo o em torno da rua, trazendo mais dignidade para o Centro de São Paulo.
Marcelo Carrard. Colaborador da Zingu!

A pergunta me lembra de uma entrevista que fiz com o José Mojica Marins em 1995, na qual ele comentava, assombrado, que seu "24 Horas de Sexo Ardente" fez tanto sucesso que foi o primeiro filme pornô a passar no Marabá- o que dá ao mesmo tempo a idéia da importância desta sala e da degradação do mercado exibidor que começou a ocorrer naquela época.
Infelizmente, creio que concordar ou não com a transformação do Marabá em multiplex não adianta muita coisa; se as grandes salas do centro de São Paulo não são mais economicamente viáveis (pelo menos sem um subsídio estatal _embora o Olido, por exemplo, seja muito ruim), a triste reforma para um conjunto de salas menores (sem dúvida uma descaracterização grotesca de um patrimônio cultural paulistano) é obviamente um mal menor, se comparado ao destino de outras grandes salas da região que eu freqüentava, como o Ipiranga e o Comodoro... Eu sonho com a reabertura de salas como estas e o Marrocos, mas infelizmente a disposição para investimentos no centro da cidade tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada tem sido insufuciente, embora eu não tenha dúvidas de que o povo prestigiaria salas de qualidade e preço justo na região.
Marcelo Valleta. Jornalista e diretor de curtas (A Volta do Regresso)

Sim. Porque transformado em multiplex, ele será revitalizado e o centro da cidade continuará atraindo público. Não podemos ser saudosistas. Não dá para sonhar com os velhos tempos da Cinelândia paulistana. As cidades são organismos vivos e sofrem grandes modificações. O tempo dos grandes cinema de rua passou. Hoje, com a dificuldade de estacionamento, a pessoa só sai de casa se tiver certeza que encontrará um filme para ver. Com a oferta de várias salas e vários filmes, ela encontra incentivo para deixar o "conforto doméstico". O que espero é que a programação do Multiplex Marabá seja variada e que abra espaço para filmes brasileiros, hispano-americanos, europeus, africanos, asiáticos, etc. Que o cinema norte-americano tenha seu espaço, claro, mas que não seja a força hegemônica.
Maria do Rosário Caetano. Jornalista e autora dos livros “Cineastas Latino-Americanos”, “João Batista de Andrade”, “Fernando Meirelles” e “Festival de Brasília 40 Anos”

Nenhum cinema está suportando uma sala imensa. Com público não temos concorrência da TV e da novela que substitui o que o cinema era. Eu acho lamentável a situação toda, que não deveria se ter salas multiplex e se perder salas como essa. São marcos históricos da cidade de São Paulo e do Brasil.
No apogeu da cinelândia, as pessoas voltavam das salas dizendo maravilhas dos cinemas. Como do Cine Ipiranga, por exemplo. A sala sobrevivia como um templo e se radiava para todo o país. Acontecia a mesma coisa em outras grandes cidades do mundiais como Nova York, Los Angeles.
Mas uma cidade como essa deve se orgulhar de seus cinemas, embora essas salas do centro já estivessem fechadas para o grande público. Eu lamento tudo isso profundamente.
Mauro Alice. Montador de 57 longas-metragens (Noite Vazia; Floradas na Serra; O Beijo da Mulher-Aranha; Carandiru)

O Marabá não vai conseguir mais ser cinema. Hoje ele é um grande elefante branco, não com como economicamente substituí-lo. O público que ele atingia no seu auge, o B e C tem agora a televisão. Anteriormente, haviam gêneros cinematográficos feitos diretamente para esse público. Também acho que o Marabá não tem espaço ou tamanho físico para ser um multiplex.
Eu tenho 77 anos, porém quando muito era jovem eu ia todas as noites ao cinema. Em finais de semana, então eu ia de manhã, de tarde e de noite. Eu era mecânico e mesmo assim o cinema era barato. Hoje, eu sendo professor de faculdade e tudo mais o que pago tornou-se uma coisa distante. O Cine Piratininga, era enorme tinha 4.500 lugares ! Era um verdadeiro grupo populacional lá dentro. Hoje mesmo que o ingresso custasse 50 centavos eu duvido que 4.500 pessoas fiquem numa mesma sala de cinema. Por isso, estão dividindo diferentes salas para públicos diferente.
O dia em que os corintianos voltarem ao cinema, o pavilhão nove voltar a ir ao cinema a coisa vai ser diferente. Somos somente nós, a classe A que é pequena. Eu que conheci esses dois tempos cinematográficos, me sinto indiferente. Havia um deslocamento para a área central de São Paulo como a Praça da Sé, o centro.
Máximo Barro. Pesquisador, historiador e montador de 49 longas-metragens (A Ilha; O Corintiano; O Quarto; Uma Mulher Para Sábado; Cléo e Daniel)

Penso que projetos para revitalização e modernização de grandes e tradicionais cinemas de São Paulo deve ser considerado uma grande e esperta maneira de reviver, de maneira diferente, locais dos quais todos nós, amantes do cinema, gostamos. O Marabá é um caso ainda mais interessante - prédio é tombado, portanto visualmente, por fora, nada mudará. A intenção de fazer com que o Marabá seja mais assiduamente frequentado não é de modo algum agressivo. Potanto, acho que, sim, o Marabá deve ser transformado em Multiplex
Melody Westerna. Colaboradora da Zingu!

Acho ótima a idéia de transformá-lo num multiplex. Primeiro porque garante uma boa reforma, e mais um passo para revitalização do centro e depois porque não perdemos mais um espaço de cinema para outro estabelecimento comercial qualquer. Se foi o tempo onde encontrávamos uma sala de cinema em nosso bairro, as poucos que sobraram precisam ser preservadas!!!
Michel Simões. Editor do blog Cinetcom

Uma pena. O multiplex é o fast-food dos cinemas. Ao mesmo tempo, vira sim uma coisas moderna mas sem o mesmo glamour. Ter um Marabá lotado é algo muito difícil de se repetir. Só sei que os filmes perdem ao serem exibidos em uma tela menor. Se perde também um pouco do brilho e da magia.
Nicole Puzzi. Atriz

Eu tenho pensado nesta questão das salas de cinema. Gosto de me referir a "um tempo em que os cinemas tinham nome". E mais do que nome, identidade. Ir ao cinema Tal significava ir a um determinado cinema que tinha uma certa programação e, digamos, personalidade.
Um cinema no centro da cidade seria muito bom. Com a fachada (e o interior) tradicional do Cine Marabá, melhor ainda. Mas, com certeza, a atual economia do entretenimento deve qualificar o Marabá de muito grande, pouco rentável, um dinossauro apesar de seu passado de glórias.
Um multiplex sugere uma certa modernidade, tudo muito clean. Mas, com proposta rentável, público diversificado e tal e coisa. Uma hipótese que pode ser levada em consideração: um multiplex que respeitasse o jeitão retrô do cinema, mantivesse o astral, um resto de identidade que respeitasse (e até restaurasse) a arquitetura dos cinemas da época, o que poderia dar um certo charme e ser um atrativo a mais para os negócios. Uma proposta que guardasse o passado dentro do presente, como nos países civilizados.
Nuno César Abreu. Pesquisador, professor da UNICAMP e autor do livro “Boca do Lixo- Cinema e Classes Populares”

Quando me formei na ECA, um sonho bastante distante era o de dirigir um longa-metragem e exibi-lo no cine Marabá. Por caminhos curiosos, acabei realizando-o, pois meu documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro foi exibido ali em sessão dupla com o filme... Paixão de Cristo!!!!!
O Marabá deveria ser tombado como patrimônio da Cidade. Sem dúvida foi um dos cinemas mais importantes de São Paulo, quiçá o maior. Infelizmente com a decadência dos cinemas de rua (hoje, só sobrevive quem está em Shopping Center, com segurança, estacionamento, elevador e praça de alimentação), a freqüência ao Marabá diminuiu demais, o que explica tal projeto de reforma... Salas menores, telas menores... A experiência coletiva e absolutamente catártica de assistir a uma sessão de cinema ao lado de mil pessoas infelizmente parece que é coisa do século passado.
Retalhar o Marabá em diversas salas é um sinal dos tempos. Sua resistência imperiosa seria o sinal de que não estamos fadados à crueldade determinista. Encarnação do Demônio, a volta triunfal de Mojica e seu Zé do Caixão, é um filme que está sendo talhado para sua monumental grandeza. Que o natural e o sobrenatural permitam que tal encontro se realize!
Paulo Sacramento. Cineasta (O Prisioneiro da Grade de Ferro), montador e produtor.

O modelo de se fazer, distribuir e exibir cinema viveu grandes transformações nos últimos 10 anos. Dez anos atrás havia pouco cinema brasileiro, menos títulos internacionais lançados no mercado, menos salas, salas maiores, salas com péssima qualidade de som e imagem, ingressos mais baratos, menos força no dvd e na tv a cabo, e uma urgência menor da sociedade em seu consumo.
Hoje, felizmente, temos um bom e constante cinema brasileiro. E também felizmente contamos com excelentes salas de projeção.Estes são os ganhos. A contra-partida pelo outro lado da equação é bem desfavorável. As salas foram quase todas reformadas e, devido a este investimento, o ingresso tornou-se proibitivo para grande parte da população.
Paralelamente, a enorme oferta de títulos, a grande concentração nos blockbusters (por uma máquina de marketing de uma eficiência jamais vista), aliado a um senso de urgência própria da sociedade pós-internet, fez com que os filmes fiquem muito pouco tempo em cartaz e sejam consumidos por muito poucas pessoas. Isso é grave e coloca em risco a sobrevivência do cinema brasileiro.
Como solução, não vejo a persistência de salas grandes mas outros mecanismos como circuitos alternativos de exibição popular, repreensão às carteiras de estudantes fajutas, mecanismo de incentivo aos exibidores para exibição de cinema brasileiro entre outros.
Eu, como espectador e cinéfilo, prefiro o Marabá como uma grande sala ao invés de um multiplex, mas acho que isso é um sinal dos tempos. Um cinema único daquele tamanho atende mais a um ideal romântico de um tempo passado do que a realidade de hoje. Se for para fazer campanha por reforma do sistema de exibição, prefiro colocar a energia em outras ações.
Philippe Barcinski. Cineasta (Não Por Acaso)

Evidentemente, eu gostaria que o histórico Marabá continuasse como sempre foi. Uma grande sala no centrão de SP, onde já fui dezenas de vezes assistir filmes das mais variadas procedências e gêneros e em horários sempre malucos. Adorava ir nas matinês. Nos últimos tempos, infelizmente, ele ficou meio decadente em função de uma série de fatores, econômicos e sociais, que não cabe aqui analisar. Agora, com a chamada revitalização da zona central de São Paulo, eu, particularmente, gostaria muito que o Marabá continuasse a existir como sala de espetáculos cinematográficos. Se não como antes, mas, então, como um Multiplex, já que também, o conceito de sala de cinema hoje, mundialmente, mudou muito. Já não se fazem salas de cinema como antigamente, grandiosas, majestosas, de mil, dois, ou até três mil lugares. Se for pro Marabá sobreviver, que seja como Multiplex e que tenhamos preservada a possibilidade de freqüentar um cinema no centrão, repetir sempre a mágica do escurinho do cinema, assistir a um bom filme, mesmo que em salas menores e mais concentradas. Vida longa ao Marabá.
Reinaldo Pinheiro. Curta-metragista (BMW Vermelha)

Para ajudar com a revitalização do centro, é um grande negócio. Não estava dando certo mais esse tipo de sala de cinema, então é interessante o novo modelo para ser feita uma verdadeira revitalização.
Renalto Alves. Diretor, fotógrafo e câmera

Sou contra. Aquilo ali é o templo do cinema em São Paulo.
Renato Vieira. Colecionador de filmes

Infelizmente vai virar sim.
Richard Turano. Dono da comunidade “Eu Ainda Vou no Marabá” no Orkut

Eu acho que a transformação do Marabá em um multiplex poderia ser uma idéia interessante se fosse um complexo de cinemas que praticasse preços populares, acessíveis ao público da região central da cidade onde quase não há cinemas com boas salas de projeção. Não acredito na viabilidade naquela região, de mais um complexo com os mesmos preços praticados em shopping centers.
Roberto Gervirtz. Cineasta (Feliz Ano Velho; Jogo Subterrâneo)

Infelizmente, sim. Por maior que seja minha nostalgia por essa sala maravilhosa, acho que há carência de multiplex no centro.
Roberto Moreira. Cineasta (Contra Todos)

Eu acho que sim. Embora exista o romantismo de ser um cinema "de rua", é fundamental uma adequação às novas platéias, à oferta de salas e de filmes. Se o espaço do Marabá permite que ele se torne um multiplex, por que privar o público do Centro de ter mais opções?
Roberto Sadovski. Editor da revista SET

Ter mais salas cinema é melhor, mesmo porque muitos fecham. Porém, acho chato porque é um cinema tradicional de São Paulo como o Art Palácio, o Ipiranga onde passavam os melhores filmes.
Rodolfo Nanni. Cineasta (O Saci; Cordélia, Cordélia)

Eu estou pouco me importando pra isso. Devemos pensar nas produções, isto sim. Sem produções não teremos cinema para exibi-las e eles vão exibir fita americana. Teria que reformar pra ser cinema lançador como era antigamente.
Rodrigo Montana. Cineasta (Rodeio de Bravos), diretor de produção (Sedução; O Guarani) e presidente da Associação São Paulo, a Cidade e o Cinema

É o seguinte: acho ótimo. Toda iniciativa para revitalização do centro é bem-vinda. É uma área interessantíssima de São Paulo que ninguém visita porque não há segurança, não há atividades culturais, não há limpeza, não há nada que torne convidativo você ir até lá. Outra coisa bacana na iniciativa é essa boa vontade em voltar a investir em cinemas de rua. Claro que a Playarte não está fazendo nada de boazinha, a empresa visa o lucro - é assim mesmo que tem de ser, era assim que os cineastas da Boca agiam. Mas pode ser um sinal de que a fórmula cinema + shopping center está começando a perder a força. Se houver o esforço de preservação que vem sendo anunciado, tanto melhor. Aquele prédio é histórico, e não poderia ficar às traças como estava. Pensando que podia virar algo como um estacionamento ou uma igreja, temos sorte de que o velho Marabá vá continuar sendo um cinema. E cinema tem de passar o que as pessoas querem
Rodrigo Pereira. Jornalista, pesquisador e autor do livro “Anthony Steefen”

Deve se tornar multiplex. É uma coisa boa e que veio pra ficar. Não adianta brigar, melhor que se tornasse uma coisa ruim como igreja ou supermercado. É algo necessário, para continuar e evitar males maiores.
Rossana Ghessa. Atriz

O Marabá tinha que ser como era, eu mesmo lancei todos os meus longas lá. Tem que voltar a ser a coqueluche do cinema de São Paulo, passando grandes filmes como “Django”, que passou na época. Na verdade, os tempos estão iguais, temos somente um problema de segurança na Avenida Ipiranga que se tornou um centro de prostituição.
Deveria voltar a ser a coqueluche. Reformando, se faria mais salas enormes já que infelizmente tudo isso acabou, virou lixo. Por isso, eu pretendo lançar meu filme “Maníaco do Parque” no Marabá. Tem que baixar o preço do ingresso também. Na nossa época, um ingresso era o preço de uma cerveja, bem barato três cruzeiros. Lancei “Gregório 38”, “A Vingança do Chico Mineiro”, todos meus filmes lá dando vinte e duas mil, vinte e duas mil pessoas por final de semana.
Rubens da Silva Prado, também conhecido como Alex Prado. Cineasta, produtor e ator de 26 longas-metragens (Gregório 38; Sangue Em Santa Maria; A Vingança do Chico Mineiro)

É inevitável. Melhor termos antes um multiplex que não termos cinema lá. Infelizmente, não existe uma política de apoio a sala de exibição, portanto, é preferível que se torne multiplex. Se a coisa fosse séria e os governos também, a coisa seria bem diferente.
Rubens Eleutério. Cineasta (Volúpia Ao Prazer; O Orgasmo de Miss Jones), fotógrafo e câmera

Tem um lado triste que é ver terminar um palácio de antigamente. O lado bom é que só assim ele não fechará totalmente. Infelizmente, não se para o tempo.
Rubens Ewald Filho. Crítico e autor do “Dicionário de Cineastas”

Não vejo problemas em se transformar o galante cine Marabá num multiplex, contanto que seja mantido parte do projeto original do prédio. Não conheço o projeto atual, mas a princípio acho interessante se reavivar um cinema de rua, ainda mais do velho centro. Se tiver que ser como multiplex, que seja. As coisas são como são, não adianta um purismo estéril. Mas volto a frisar, tem que haver um diálogo arquitetônico entre o novo projeto e o velho e tradicional cinema.
Rubens Rewald. Cineasta (Mutante; Corpo)

Acho que não dá para lutar contra a realidade e a lógica do capitalismo, e assim que o mundo contemporâneo se apresenta e de qualquer maneira quanto mais salas tivermos pra tentar exibir nossos filmes acho melhor. A pena é que não temos mais cinemas de rua e em bairros, fora de shoppings que viabilizem a ida de outros públicos, especialmente aquele público c e d que certamente poderiam assistir filmes nacionais. Mais e assim meu velho quem mando no mercado brasileiro não somos nós.
Rubens Xavier. Curta-metragista (Paixão Maria; Sete Vidas; Boca Aberta;Ufogão; Pedeguerra)

Infelizmente só conheço o Marabá de ter passado na rua e ser informado, acho que pelo Arthur Autran, da localização dessa sala mítica e cheia de significados para o cinema brasileiro (tão cheia que é inútil me alongar sobre isso). É claro que é triste, tristíssimo, desolador, saber que pouco a pouco todas as salas de cinema que carregam consigo as informações e peculiaridades de construção de outras épocas vão acabando ou sendo reformuladas – ou seja, vão acabando como arquitetura e experiência de outras épocas para se tornarem "contemporâneas". No Rio sobrevivem o Palácio, o Odeon, alegando caráter de exceção (que eles evidentemente têm). Em Recife o magnífico São Luiz já se foi. Em poucos anos, talvez, a experiência de salas individuais, gigantescas em proporções de assentos, construções cheias de reverência serão apenas palavras na boca dos mais velhos ou citações em livros – e é nítido que não só o cinema, mas toda a cultura perde com isso. Sábia é a sociedade que consegue abrir-se para o novo mantendo algo de seu passado como forma de consolidar uma experiência coletiva. Os multiplexes são a contemporaneidade da exibição, no que há de ruim e no que há de bom. Mas quando só houver eles, o cinema e a cultura nacional como um todo vão ficar um tanto mais pobres no que se refere às práticas culturais das épocas passadas
Ruy Gardnier. Editor e crítico da Contracampo

O Marabá tem que pelo menos, continuar a ser sala de cinema. O que hoje em São Paulo, praticamente não existe.
Salvador do Amaral. Fotógrafo e câmera de 25 longas-metragens (Coisas Eróticas; Padre Pedro e a Revolta das Crianças; Horas Fatais; Instrumento da Máfia)

Por um lado, gostaria que o Marabá fosse reformado mas mantivesse suas características, ou seja, continuasse um cinema portentoso de rua. Como isso é utopia, claro que prefiro que ele vire um multiplex do que se transforme em igreja ou estacionamento - que é o destino de várias outras salas imponentes do centro. Um multiplex de rua, e ainda mais naquela região, que é sempre um pouco resistente à renovação e aos incentivos comerciais, deve atrair pessoas que normalmente não vão ao centro velho - por medo ou preconceito -, e isso não deixa de ser positivo. O ideal seria manter os preços populares que é o que o cinéfilo mais precisa - e quem deixou de ser cinéfilo por problemas financeiros principalmente. Se isso não acontecer será uma pena.
Sérgio Alpendre. Editor e crítico da revista Paisà

O Cine Marabá tem um lugar guardado no meu coração de cinéfilo. Comecei a freqüentá-lo em meados da década de 70, e lá pude assistir a grandes filmes mais, verdade seja dita, muita porcaria também.
É que no Marabá foram lançadas algumas das piores pornochanchadas feitas na Boca, o que não impedia que a enorme sala estivesse sempre lotada. E isso é que caracterizava o cinema, essa programação mais popular, voltada para o povão que freqüentava o centro velho da cidade.
Para um office-boy matando tempo antes de voltar pra firma (eu, numa fase de minha vida) ou um desempregado (eu também, em outra fase) ver aqueles grandes cartazes pintados na fachada, mostrando mulheres nuas em poses sensuais era uma tentação irresistível.
Com o tempo, devido principalmente à decadência do centro velho, com o fechamento de diversos cinemas tradicionais, e a deterioração da sala, fui deixando de freqüentar o Marabá.
Mas continuei indo ao menos uma vez por ano, quando tinha um filme que me interessava (e o ingresso era o mais barato de todos) e para verificar o estado de abandono. O último filme que vi lá foi a nova versão de “O Coronel e o Lobisomem”. Foi desanimador: a sala tinha cheiro de mofo, ou coisa pior; as poltronas, duras como pedras, eram as mesmas de sempre; o banheiro dos fundos, no qual eu ia pela primeira vez (até então sempre tinha ido naquele da frente, mas estava fechado no dia), dava medo só de se dirigir até ele, um verdadeiro labirinto (e vou poupar-lhes de descrever o estado em que se encontrava); a projeção era péssima, o som inaudível. Não que uma projeção perfeita fosse melhorar o filme, mas...
Nunca mais voltei.
Agora me perguntam se acho que o Marabá deve se tornar um multiplex. Se tivessem me perguntado isso uns 10 anos atrás a resposta seria um categórico: NÃO! Hoje respondo com um entusiasmado: SIM!!! O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL!!!
O que foi que mudou? Não sei dizer ao certo. Eu com certeza mudei bastante de lá para cá, creio que para melhor. Mas o Mundo também passou por uma mudança incrível nos últimos anos.
Acredito que se o projeto do “Marabá Multiplex” (título meu) der certo, atrair um grande público, pode ser que outros cinemas desativados do centro voltem a abrir nos mesmos moldes, como o Ipiranga, Paissandu, Marrocos, etc., dando um novo alento para a região. No fundo continuo o mesmo romântico sonhador de sempre, mas agora com um pé na realidade.
Sergio Andrade. Colaborador da Zingu!

Não.
Sérgio Bianchi. Cineasta (Mato Eles?; A Causa Secreta; Cronicamente Inviável; Quanto Vale ou É Por Quilo ?)

A minha resposta é pura e simples: não. Certos cinemas deviam ser tombados como patrimônio, e o Marabá é um deles. Eu sei que, hoje, não existe público para lotar o cinema como antes. Mas, então, que façam do Marabá um centro cultural.
Sergio Martorelli. Crítico

Acho que sim. Sabe por que ? Para que ele sobreviva outra metade de século. Infelizmente, nos dias de hoje, salas com grande numero de lugares não sobrevivem exibindo filmes. Com um ingresso beirando R$ 20,00, valor com o qual vc consegue comprar filmes, acho que várias salas menores, exibindo um leque maior de opções para o espectador, além de ser um grande atrativo, faz com que o cinema consiga ter uma saúde financeira maior, garantindo que sobreviva. O Marabá, assim como o Marrocos, é tombado pelo patrimônio histórico da cidade, sendo assim, sua estrutura original não pode ser modificada. O projeto que a Playarte tem é excelente, pois preserva o cinema na sua estrutura original, mas divide a grande sala em 5. Não vejo a hora da inauguração, porque ir ao cinema no centro, e um cinema todo reformado e novinho, vai ter aquele sabor especial novamente. E, espero muito que a negociação entre a Imobiliária Savoy e a Cinemark chegue a um acordo e o maravilhoso Marrocos volte a funcionar novamente.
Sergio Ricardo Habermann. Dono da comunidade “Salvem a Cinelândia Paulista” no Orkut

O que eu posso dizer sobre o Cine Marabá?
Entrei apenas uma vez no Cine Marabá, foi quando vi o filme "As Safadas", episódio feito pelo Inácio Araújo nos anos 80, produção do Galante. Naquele momento, era esse o perfil dos filmes que sustentavam muito bem aquela sala popular.
Não era freqüentadora desse cinema alvo de office-boys e representantes comerciais que enchiam o que era até um tempo atrás o "Centro da Cidade", onde eles circulavam e no meio do trabalho, escapavam para um filme.
Gostava - e gosto ainda só que não existe mais - de passar diante dessas salas e ver os grandes cartazes pintados com o título dos filmes e ilustrações numa estética característica, comuns nos grandes cinemas do centro.O Marabá, com seu apelo popular, caprichava nas sugestões eróticas.
É claro que gostaria que esses anúncios continuassem, o que pressupõe que aquele público popular ainda estaria lá, mas ele não está por que a cidade mudou, os serviços mudaram, etc, etc.
Sendo assim, e sabendo também que o destino dessas grandes salas tem sido virar Igreja Evangélica (o que é feito do Marrocos?), acho que entre isso e um multiplex, vamos ao multiplex. Apostar em várias salas no Centro é, quem sabe, apostar na existência de um público de baixa e média renda que poderá frequentá-las. Isso, vamos torcer, pode ser muito bom.
A fórmula de exibição hoje é o multiplex. Não é a melhor, mas nesse caso (entre desaparecer um cinema para virar igreja), não é o pior. Vamos torcer por uma transformação razoável. Sem muito plástico e muito cheiro de manteiga enjoativa.
Que esse quarteirão característico da Avenida São João - onde desde os anos 1940 (me corrija se eu estiver errada) o Marabá olha de frente para o Ipiranga - possa continuar cinematográfico, já me parece uma vitória. Vitória da cidade, vitória do cinema.
Sheila Schvarzman. Pesquisadora, professora de cinema da Universidade Anhembi-Morumbi e autora de “Humberto Mauro e As Imagens do Brasil”

Se o projeto for legal e mantiver o projeto arquitetônico original, pode ser uma boa forma de manter a vocação original do Cine Marabá.
Tata Amaral. Cineasta (Um Céu de Estrelas; Através da Janela; Antônia- O Filme)

O cine Marabá faz parte de minhas memórias mais antigas, um templo de luzes e mistério, foi lá que vi os grandes clássicos de "´holiúde" dos anos 60. Gostaria que se transformasse num espaço de salas de qualidade, que o lindo hall se tornasse ponto de encontro, flerte e sedução entre os jovens. Será triste se virar mais uma entrada de multiplex de mau gosto, com seus funcionários protegidos por vidros blindex; numa arquitetura esterilizada e importada direto do Texas onde tudo fede a pipoca amanteigada. Será que as pessoas acham isso moderno ?
Toni Venturi. Cineasta (O Velho- A História de Luiz Carlos Prestes; Latitude Zero; Cabra Cega)

Comercialmente, o multiplex é mais viável. Mas não sei se isso tira um pouco do glamour das salas de espetáculo, porque essas novas são todas mini-cinemas. Hoje em uma cidade importante como São Paulo, não há salas grandes. Não sei se é saudosismo, mas São Paulo deveria ter algumas pelo menos como memória. Mas em cinema como em qualquer outra atividade comercial o negócio é dinheiro.
Virgílio Roveda. Fotógrafo e câmera (Gringo, o Último Matador; Caçada Sangrenta; ...E a Vaca Foi pro Brejo), assistente de direção (A Opção; A Herança; Meu Nome É Tonho) e diretor de produção (Noite em Chamas; O Menino da Porteira)



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