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Dossiê Marabá

Não - A morte do rei

Por Gabriel Carneiro

Por que o Marabá não deve virar multiplex? Pelo simples fato de ser um monumento tão presente e importante na nossa história, que alterá-lo, seria destruí-lo.

Para começar, pensemos em sua grandeza arquitetônica. Sua imponência vem do tamanho, seu aspecto de superioridade vem de seus traços, de seus moldes. A revitalização é mais que bem-vinda. Estava faltando, devido a sua representatividade. Infelizmente, irá além. Mesmo que do lado de fora preserve suas características, por dentro será reconstruído, e o cinema de rua, a única sala realmente grande que sobrou, dará espaço para cinco salas médias, padronizadas.

O Marabá, pelas mãos do Grupo Playarte, tornar-se-á algo pífio. Repito, perderá sua imponência. O cinema do centro velho não mais existirá, um multiplex lá dificilmente permanecerá ainda mais ao preço que se cobra.

Diz-se que é um local tombado – eu realmente pensava que lugares tombados não poderiam ser transformados de modo algum -, e, portanto, se assim o for, deveria manter sua essência, mesmo que sua majestade aos poucos morra.

Onde eram as grandes estréias da Vera Cruz? No Marabá. Caiçara estreou lá. O Cangaceiro, Sai da Frente... Os grandes marcos do nosso cinema passaram por lá, naquela sala, como hoje conhecemos – talvez, apenas, sem o glamour e magnânima.

A verdade é que há admiradores, e sempre haverá. O centro velho está decante, há preconceitos, e muito se evita tais áreas. O Marabá deixou de ser diversão, porque o cinema deixou de ser popular. De qualquer forma, não significa que devemos virar as costas para o que nos concebeu. Porém, há quem reconheça o valor. E para tais pessoas deve existir.

O local deve ser preservado, ou seja, mantido como é, apenas revitalizado. Deve continuar uma sala apenas; deve haver alguma política de preservação como marco histórico, como local turístico. Porque não fazer um anexo, como um museu, que te fizesse passear pela história do local e do cinema? O cinema mantém-se com seus preços populares e com uma programação adequada, só fazer com que haja interesse e objetivos em vê-lo dentro do seu papel.

A perda do Marabá, para nossa história, equivaleria à perda do Cine Belas Artes, para o circuito de alternativo. São símbolos, e como símbolos devem permanecer.



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