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RUÍDO

JERRY LEE LEWIS - JERRY LEE LEWIS [1957]

Por Laís Clemente

Jerry Lee Lewis, nos conservadores anos 50 sabia muito bem como causar polêmica. O fez, por exemplo, ao anunciar que estava casado com sua prima de terceiro grau – de apenas 13 anos -, chocando assim a puritana, porém escandalosa sociedade inglesa, e fazendo com que sua carreira ficasse tão abalada que levou décadas para se recuperar. Mas essa não foi a única polêmica em que Jerry Lee se meteu, sua simples presença já era o suficiente para causar choque em uma época em que os adolescentes deveriam reprimir seus desejos sexuais. Para o crítico de música Andy Wickman, “Lewis não era como nenhum outro... Se eles eram selvagens, ele era feroz. Se a música deles era sexy, a dele era promíscua. Presley balançava os quadris; Lewis estuprava o piano”.

No entanto, Jerry Lee Lewis, talvez por ter nascido na região dos Estados Unidos conhecida como “O Cinturão da Bíblia”, (mais especificamente em Ferryday, Lousiana) parecia ter já na adolescência seu destino traçado: ser pastor da Assembléia de Deus.

Aos poucos, a influência da música sacra deu lugar a outros estilos como o blues e um sub-estilo da música country (que enfatiza mais ritmo que melodia) chamado honky-tonk. Devido a isso, Jerry se viu executando os hinos mais rápido que o normal e sendo forçado a parar com seus estudos na igreja.

Em 56, fez um teste na gravadora Sun Studios, e Sam Philips – o mesmo que havia descoberto Elvis dois anos antes - gostou do estilo impaciente do pianista, e o chamou para outra sessão. O resultado foi Crazy arms, um hit da música country que fala de traição, mas ainda sem o estilo que o consagraria.

O estilo veio junto com o sucesso. Mais especificamente quando foi lançada Whole lotta shakin’goin’ on. A canção já havia sido gravada duas vezes, mas nenhuma delas é sequer parecida com a versão de ritmo frenético de Jerry. Ritmo tal, que fez com que a canção a princípio fosse banida das rádios “brancas” americanas por ser considerada “muito sexy”, mas que posteriormente a fez chegar ao 3º lugar na parada americana e ao 8º na britânica. Nela , Jerry convida as meninas a balançarem para ele “agora fique parada em um único lugar, e rebole um pouquinho”

Essas canções estão no primeiro álbum do pianista, intitulado Jerry Lee Lewis. Nele, pode-se observar as duas facetas do pianista: seu lado rockabilly - de canções como Put me dow, Don’t be cruel e High school confidential (onde ele quase espanca o piano) - convivendo com sua faceta country - como em Good night Irene e na chorosa Fools like me.

São 13 músicas de um repertório confuso, de um músico que parece estar criando seu estilo e que ainda não se decidiu por qual caminho musical seguir.

Mas nos seus anos seguintes dentro da Sun Records seu modo de tocar ganhou influências do boogie e do blues e ao evoluir essa faceta, muitas de suas gravações country foram cada vez mais deixadas de lado. Jerry Lee não aprovou essa decisão da gravadora e considera, ainda hoje, seus rocks mais famosos como pertencendo ao estilo country “Eu sempre cantei country & western. Mesmo que cantadas como rock, Whole lotta shakin’ goin’ on e Great balls of fire continuam sendo country”, declarou.

Em 58, viria o escândalo do casamento com a prima e Jerry nunca mais conseguiria emplacar um rock de sucesso. Quando sua carreira se recuperou, se decidiu finalmente pela música country, o que faz até os dias atuais.

Jerry Lee Lewis é hoje o que se pode chamar de lenda viva. Apesar de nunca ter composto, é considerado um dos pais do rock e seu crédito deve-se a uma característica essencial para qualquer roqueiro que se preze: atitude. No palco, o estilo quase cênico desenvolvido por ele, incluía performances em que subia no piano e, segurando o microfone em uma mão, batia nas teclas com os pés ou com qualquer outra parte do corpo que estivesse mais próxima. Além disso, a personalidade arrogante e convencida de Jerry, aliada ao seu estilo ritmado e apressado de tocar, deslizando os dedos sobre as teclas do piano a todo o momento, fizeram dele uma personalidade inesquecível, mesmo em seus períodos de baixa popularidade.



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