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Coluna do Biáfora


PECADO NA SACRISTIA

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

De todo o muito e propalado amor “às raízes culturais”, “locais”, de toda a psicose “engajada transformadora” que se vê no ambiente cinematográfico nacional, só temos motivos para acreditar como não oriunda de cálculo de êxito, de facilidade de colocação e proventos de “boxoffice” ou promoção no Exterior, naquelas externadas, praticadas ou demonstradas por três ou quatro realizadores: os gêmeos mineiros Santos Pereira, o baiano Luiz Paulino dos Santos e o piauiense Miguel Borges. A crença e os planos cinematográficos destes, sim, não nos parecem ser pose visando ouropéis em Paris, Roma, Berlim ou entre os bem melindrados traumatizados e “peculiares” intelectuais da transação ou facilidade folclórica. Pois de Miguel Borges é esta fita, que gira em torno de um cortador de cana, que se vê às voltas com uma porção de figuras da crença e temores sertanejos: a Cuca, a Iara, a Mula sem Cabeça, etc. Borges é um instintivo e, de certo modo, um violento, e só erra quando, ao invés de já ter providenciado um intérprete condizente com o que pretende de telúrico e de autêntico, reincide em utilizar um ator e tipo típico da geração “Bar Amarelinho” como Ivan Candido. Mas parece que aqui ele acertou ao conseguir “tratar” Ítala Nandi, deixando-a menos figura esticada de espelho deformante de parque de diversões, em torná-la atriz mais mansa e menos suficiente e “over acting”, em mostrá-la até mais suave e feminina. Por outra, informaram-nos que o melhor resultado está com a normalidade de Francisco Milani. “Pecado na Sacristia” ganhou prêmios de qualidade do MEC-Embrafilme e o prêmio de roteiro no anterior festival de Brasília. Isto, porém, dados os antecedentes e as reincidências, poderia até soar como contra-indicação. Limitemo-nos pois à autenticidade e à rudeza natural de Borges e vamos ao filme.

* Publicado originalmente em “O Estado de São Paulo” de 14 de agosto de 1977



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