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Dossiê grandes musas da Boca

MATILDE MASTRANGI

Frases
“Que mulher, que atriz de hoje em dia tem a gostosura, o descaramento, a deliciosa e assumidérrima safadeza da Matilde Mastrangi ? Outro dia me peguei babando por um filme em que ela contracenava (...) com David Cardoso. (...) Confesso que me senti nostálgico de uma época em que as mulheres eram menos narcisistas, menos ideologicamente formadas- nostálgico de uma época em que supostamente os homens eram mais homens e as mulheres mais mulheres”.
Eduardo Haak, cineasta

“Durante uma filmagem em Portugal, fiquei seis dias numa suíte de hotel dormindo na mesma cama com a Matilde Mastrangi. Não rolou absolutamente nada (...) Eu sonhava formar um par romântico com ela no cinema, tipo Rock Hudson e Doris Day, John Herbert e Eva Wilma, mas não deu certo. A gente gostava de outras pessoas e passamos aqueles dias trocando impressões e confidências”.
David Cardoso, ator, diretor e produtor que contracenou com Matilde Mastrangi em diversos longas-metragens

Poema
Por Diniz Gonçalves Júnior, especialmente para a Zingu!
Do recato à malícia
Matilde parece
aquela vizinha do lado
olhos pudicos ou libertinos
esfinge que troca de pele
a cada nova estréia

Depoimento
“Matilde Mastrangi é uma Deusa! Com lugar de honra no meu Olimpo. O engraçado é que a primeira impressão que tive de Matilde foi ruim.

Eu já tinha assistido alguns filmes estrelados por Matilde, mas nenhum que tenha me marcado. Sempre colocaram Matilde nos papéis de madames grã-finas, algo que pouco tinha ver com seu talento de comediante. Matilde é uma italiana da Mooca. Do tipo popular. Nunca deram a ela os papéis onde realmente poderia mostrar seu talento histriônico e sua sensível verve de atriz. Sofia Loren e Anna Magnani também sempre soavam falsas quando faziam esses papeis sofisticados.

Mas eu ainda não sabia disso quando a vi pessoalmente pela primeira vez no set de filmagem de "Palácio de Vênus" de Ody Fraga. Eu era o assistente de direção e tinha tido um trabalho enorme para separar as cenas da Matilde porque ela estava fazendo outro filme no Paraná e só chegou para filmar duas ou três semanas depois que tínhamos começado o filme. Para piorar, ela estava uns dez quilos mais gorda e não entrava em nenhum dos vestidos de baile que a produção tinha conseguido emprestado. Tivemos que alargar tudo. De cara pensei que era complicação demais para tão pouco, mas logo que começamos a filmar, me apaixonei pelo jeitão desencanado da Matilde. Não tinha as frescuras habituais de querer que a equipe saísse do set nas cenas de nudez e tinha uma maneira extremamente séria de levar tudo na brincadeira. E, como ela mesmo sempre dizia quando mostrava seu traseiro, Matilde tinha um enorme "talento". Uma coisa que ninguém nunca falou foi que Matilde também tem uma pele extremamente bonita. Algo aveludado que fotografa muito bem.

Mas nossa amizade realmente começou numa pausa para almoço em que ela sentou ao meu lado e foi logo dizendo: "Quero ser sua amiga porque acho que você um dia vai ser um bom diretor de cinema e eu quero trabalhar contigo." Nunca ninguém tinha me dito algo assim. Nem eu mesmo sabia se seria um bom diretor de cinema.

Um ano depois disso, eu precisava de uma estrela de cinema, um nome forte para garantir o investimento no meu primeiro longa-metragem, "As Taras de Todos Nós". Liguei para Matilde, lembrei do tal almoço, e a convidei para o filme. Ela perguntou sobre o roteiro e eu disse que era sobre um vendedor de sapatos apaixonado pelo pé dela. Ela respondeu que ia fazer o filme, sem mesmo ler o roteiro, só pelo papel. Afinal, antes só a haviam convidado para papéis onde eram apaixonados por sua bunda. O filme foi um enorme sucesso, muito graças a Matilde.

Quando fui fazer o "Flor do Desejo", Matilde me ligou: "Não tem nenhum papel pra mim?" Não tinha. Naquela mesma noite encontrei com David Cardoso que comentou que estava querendo a Matilde pra um filme seu, mas que ela não tinha aceitado o papel. Eu pensei: "Pôxa, se ele soubesse que ela me procurou hoje cedo..." fiquei com a impressão que tinha que arranjar alguma coisa para Matilde.

Mais tarde, fiquei sem dinheiro pra terminar as filmagens e tive que improvisar um final diferente com pouca grana. Chamei a Matilde e improvisamos uma seqüência com ela fazendo um ex-miss.

Quando fui fazer "A Dama do Cine Shanghai", havia planejado que Imara Reis faria todos os personagens femininos (com exceção apenas do principal, feito por Maitê Proença). Havia uma lógica interna para isso, mas um dos personagens soava forçado e convidei Matilde para fazer a secretária do Jorge Dória. Matilde disse: "Tá bom, eu faço, mas no próximo você escreve um papel bom para mim."

Cumpri a promessa e escrevi um papel talhado para Matilde em "Perfume de Gardênia". Como quase sempre acontece quando escrevemos um papel especialmente para alguém, Matilde estava grávida quando fiz o filme e o papel foi feito por Betty Faria, que ganhou vários prêmios de atriz coadjuvante com o papel. Matilde teria ganho também, com certeza. Matilde acabou apenas fazendo uma pequena participação como a camareira de Christiane Torloni e eu disse a ela que, dali pra frente, não faria nenhum filme sem que ela fizesse alguma participação. Ela seria o meu Hitchcock. Sem dúvida, Matilde é muito melhor para os olhos do espectador que aquela figura rechonchuda.

Em "Perfume de Gardênia" comecei a trabalhar também com o marido de Matilde, Oscar Magrini e, no curta-metragem "Glaura", Matilde, Oscar e a filha dos dois fazem uma família bem no estilo de personagens que Matilde sabe fazer como ninguém.
Em "A Hora Mágica", Matilde fez uma cantora com pinta de vedete e agora, em "Onde Andará Dulce Veiga?", Matilde faz três papéis diferentes. Os três feitos de forma brilhante. Matilde Mastrangi é a única atriz que trabalhou em todos os filmes que fiz até agora e que pretendo fazer.”
Guilherme de Almeida Prado, cineasta que dirigiu Matilde Mastrangi em um curta-metragem (Glaura, 1990) e em sete longas-metragens (A Tara de Todos Nós, 1981; A Flor do Desejo, 1983; A Dama do Cine Shanghai, 1987; Perfume de Gardênia, 1992; A Hora Mágica, 1998 e Onde Andará Dulce Veiga ?, 2007)

Filmografia
2007- Onde Andará Dulce Veiga ? de Guilherme de Almeida Prado
1998- A Hora Mágica de Guilherme de Almeida Prado
1992- Perfume de Gardênia de Guilherme de Almeida Prado
1987- A Dama do Cine Shangai de Guilherme de Almeida Prado
1984- Caçadas Eróticas, episódio “A Espiã Portuguesa” de David Cardoso
1984- S.O.S. Sex Shop de Alberto Salvá
1984- Erótica, a Fêmea Sensual de Ody Fraga
1983- Flor do Desejo de Guilherme de Almeida Prado
1983- Corpo e Alma de Mulher de David Cardoso
1983- Tudo na Cama de Antônio Meliande
1982- Amor, Estranho Amor de Walter Hugo Khouri
1982- A Noite das Taras II, episódio “A Guerra da Malvina” de Cláudio Portioli
1982- Pecado Horizontal de José Miziara
1981- Volúpia ao Prazer de Rubem Eleutério
1981- As Taras de Todos Nós, episódio “O Uso Prático dos Pés” de Guilherme de Almeida Prado
1981- A Cafetina de Meninas Virgens de Agenor Alves
1981- A Cobiça do Sexo de Mozael Silveira
1981- Pornô!, episódio “O Prazer da Virtude” de David Cardoso
1981- Em Busca do Orgasmo de Waldir Kopesky
1980- A Noite das Taras, segundo episódio de David Cardoso
1980- As Intimidades de Analu e Fernanda de José Miziara
1980- Palácio de Vênus de Ody Fraga
1980- Orgia das Taras de Luiz Castellini
1977- Emanuelle Tropical de J. Marreco
1976- Incesto de Fauzi Mansur
1976- Já Não Se Faz Amor Como Antigamente, episódio “Flor de Lys” de Adriano Stuart
1976- Bacalhau de Adriano Stuart
1975- Cada um Dá o Que Tem ?, episódio “A Grande Vocação” de Sílvio de Abreu
1974- As Cangaceiras Eróticas de Roberto Mauro



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