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Dossiê Jodorowsky
ALEJANDRO JODOROWSKY:
Conferência sobre Cinema
CCBB, São Paulo, 06/12/2007
Transcrição de Daniel Salomão Roque

JODOROWSKY – Quando você é um verdadeiro artista, não faz imagens para provar idéias, você faz imagens porque elas surgem do fundo da sua alma e muitas vezes você nem sabe o que está fazendo. Há um célebre psicanalista francês, o Lacan, que disse: “Primeiro eu falo, depois eu penso”. Primeiro eu filmo, depois eu penso. Para mim, é muito difícil fazer filmes porque sempre me pedem um roteiro perfeito. Para mim, o roteiro é apenas o começo de um enorme processo criativo. Quando escrevo, estou num estado de transe e defino os detalhes, mas nas filmagens as coisas sempre mudam e a história vira outra coisa, porque acontecem coisas que ninguém espera. E na hora da montagem, tudo muda de novo. Quando eu ponho as músicas e a dublagem, volta a mudar. Geralmente, eu não uso as vozes dos atores. No “El Topo”, a mulher de preto é dublada por um homem, a jovem loira tem a voz de uma mulher de 50 anos. A mudança de vozes é uma maneira de se expressar. Enfim, tudo muda e eu nunca poderia ter o produto final planejado no ato de escrever o roteiro. Então, é difícil falar de cinema. Mas, vejam bem, todo ser humano tem uma filosofia. Cada um de vocês tem sua própria filosofia, a começar pela linguagem. O legado que a linguagem nos dá, é uma filosofia. Pensar em japonês não é a mesma coisa que pensar em inglês, ou francês, português, espanhol. Portanto, é uma grande limitação falar apenas um idioma, seu cérebro vai por um único caminho. Falar mais de um idioma enriquece sua visão de mundo. Além da linguagem, todos nós temos uma filosofia derivada da nossa mãe, da nossa família, da sociedade e da cultura. Agora, andando pelas ruas de São Paulo, me dei conta de que vocês não percebem a sorte que têm de serem brasileiros. Claro, sofrem com muitos problemas internos... a violência, a divisão das riquezas, a pobreza, etc. Mas é um país florescente, muito longe da angústia européia. A Europa vive constantemente em angústia. O terrorismo, a guerra, a bomba atômica, a depressão, é tudo terrível. As pessoas andam de mau humor. Ontem fui num restaurante tomar uma canja de galinha e quase desmaiei com o barulho que havia em volta: “PARABÉNS PRA VOCÊ! NESTA DATA QUERIDA!” (gritando). Um barulho enorme! (risos). Digeri mal a galinha! Mas pelo que eu vejo na rua, há uma celebração muito forte da vida. Vocês têm sorte. Agora eu me pergunto, essa cidade enorme, para onde ela vai? Edifícios altíssimos, milhões de pessoas se mexendo de um lado para o outro, para onde isso vai? A primeira coisa que eu me perguntei, na juventude, era: “Para onde eu vou?” “De onde eu venho, para onde eu vou?”. E descobri que minha resposta era: “Eu venho de mim, e vou até mim”. Tenho que descobrir quem eu sou, o que é isso, o que penso da vida. Então, quando jovem eu já havia expressado essa filosofia no meu primeiro filme, “A Gravata”. Eu sequer pensava em cinema, só pensava em registrar pantomimas. Mas o tema era o de sempre: sou um corpo que tem um espírito ou um espírito que tem um corpo? Isso sempre foi o principal nas minhas buscas. Então, “A Gravata” é a história de uma mulher, baseada num conto hindu, sempre gostei de contos hindus. Essa mulher tem um marido intelectual, ela adora o espírito do marido, mas o corpo não lhe satisfaz.... vocês sabem, os intelectuais sofrem certos problemas, não? (risos). Aí ela buscou um homem que não sofresse desse tipo de problema, um homem forte, um lutador. Mas espiritualmente, ficou insatisfeita. Então, resolveu trocar suas cabeças: pegou a do intelectual e colocou no corpo do lutador, e encontrou seu amante perfeito. Mas ao passar do tempo, a cabeça do intelectual debilitou o corpo do lutador, e a cabeça do lutador fortificou o corpo do intelectual. Então, deu na mesma. O que dizia o conto? Naquela época eu não sabia, mas dizia que o corpo não é o proprietário do espírito. Mas aí produzimos uma separação, existem aquelas pessoas que vivem no corpo pensando que têm um espírito; quando você é o seu corpo, você produz poucas mudanças. O corpo envelhece, engorda, enfraquece, aí as pessoas implantam peito, bunda, lábio, tiram isso, aquilo, mas é uma mudança ridícula, pequena, de forma. É muito limitado viver no corpo. Você está sempre lutando para não mudar, para permanecer jovem, belo, forte, saudável, é uma luta feroz e muito, mas muito angustiante. Mas quando você é um espírito as coisas são diferentes, porque o espírito está constantemente em expansão, sempre enriquecendo, existem níveis de consciência que vão do mais limitado ao mais amplo. É isso que eu quis mostrar no “Incal”, onde há um detetive que começa limitado, e logo cresce a ponto de conhecer o universo quase inteiro. Então, o corpo olha com desprezo para o próprio espírito, não crê em seu espírito, e o espírito olha com compaixão para o seu corpo, pois o espírito se sabe imortal, e ao olhar para o corpo, que é mortal, sente grande compaixão. Aí eu cheguei onde estou hoje em dia. Durante anos, fui somente um espírito e desprezei o meu corpo. Usei meu corpo como um instrumento de pantomima e etc, mas não como um ser humano, mas pouco a pouco eu fui vendo com grande compaixão o meu corpo humano. Vi que há no meu corpo uma imensa sabedoria, aprendi a amá-lo no estado em que está. E foi nesse estado que eu a conquistei!

[Jodorowsky se refere à sua atual esposa, muito mais nova, a quem leva nesse momento para o palco]

JODOROWSKY – Ela não me vê! Como que ela pode estar com um velho tão feio? Ela disse que isso é besteira, suponho que ela vê o meu espírito. E eu lhe pergunto: como não fica enojada com esse velho? Então, essa mesma compaixão eu coloquei nos meus filmes, nas minhas leituras de tarot... porque quando eu vejo uma pessoa que não encontrou seu próprio espírito, que sofre, que se desvaloriza, que vê seu próprio corpo como um inimigo, ou que usam seu corpo para agredir os outros, que têm medo... com grande compaixão, tento fazê-las chegar dentro dessa maravilha que está em todos nós. Porque todo problema se resolve com uma mudança de ponto de vista. Essa pessoa que você crê que é, que sofre, não é você. É a sua criança interior. Você é infinito, eterno, é outra coisa. Quando assisto filmes, todos eles são sobre a luta pelo poder e pelo dinheiro, nunca se está lutando pela sabedoria, pelo amor à vida, pelo conhecimento... então, eu sinto compaixão pelo cinema americano, eu tenho piedade! (risos). Oh, pobres americanos! Pensando no dólar... todo mundo com um dólar na testa.... poder... força... Robocop... Homem-Aranha.... Superman... Vocês sabem que o Super-Homem é muito simbólico, não? No último filme, ele foi castrado, limaram pelo computador as suas duas bolas! O Superman é assexuado, por isso que ele consegue voar, ele perdeu muito peso! Bem, o Joel (nota: Joel Pizzini, curador do Festival Jodorowsky) me pediu que eu falasse das minhas técnicas. Como bom crítico cinematográfico e cineasta, se interessa pela técnica. Bom, eu comecei para valer com meu primeiro longa-metragem, “Fando e Lis”. Eu não sabia nada de cinema. Acredito que a arte não se ensina na escola. Se você é um verdadeiro talento e vai para a escola, acaba podado. Todos os professores das escolas são artistas fracassados. Sim, sim, é a pura verdade. Bom, então eu disse: “Eu vou filmar, mas como se produz um filme?”. Eu fazia teatro, e me encontrei com um louco, chamado Juan Lopez Moctezuma.

[algumas pessoas da platéia gritam o nome do mais célebre filme de Moctezuma, “Alucarda”]

JODOROWSKY – Sim, isso mesmo, “Alucarda”... esse filme foi feito graças a mim, com o dinheiro que me roubaram nas filmagens de “A Montanha Sagrada”! E então, ele estava completamente louco, me dizia: “É tão fácil fazer um filme, são 10 rolos, que custam 10 mil dólares cada, aí basta convencer 10 pessoas a te dar 10 mil dólares, e está pronto o seu filme!”. E é isso. O bem que você faz, volta para você. Quando eu era criança, assisti “O Corcunda de Notre Dame”, com Charles Laughton. E eu adorava, durante anos quando eu era criança eu brincava de imitar o corcunda. Eu sempre adorei essas coisas de monstros, e penso que tudo aquilo que é disforme nada mais é do que fruto da imaginação da natureza. Na pintura, eu gostava de Bosch, Goya, Rembrandt, quando mostrava um boi aberto, Velásquez com os anões, sempre fui muito influenciado pela pintura desse tipo. Então conheci um rapaz, um mongolóide com o rosto disforme, que era muito rico, chegou a ser analisado por Jung, e não conseguiu curá-lo de nada. Então, eu adorei aquele monstro torto que fez o Jung fracassar, escolhi ele como meu assistente de direção. Eu dirigia teatro e colocava ele entre eu e o ator, ele ficava fazendo desenhinhos na parede. Também empreguei ele como meu motorista, ele dirigia e as pessoas ficavam em pânico, porque todas as nossas vidas estavam em perigo! Ele foi muito feliz. E ele fumava maconha, então numa noite qualquer ele dormiu com o baseado aceso. O colchão pegou fogo, ele entrou em desespero e se jogou pela janela. Caiu do sétimo andar e morreu. Por isso, “Fando e Lis” está dedicado a Samuelito Rosa. E seu pai, que era um joalheiro riquíssimo, me disse: “Você foi tão bom para meu filho, que quero te produzir uma obra de teatro”. Então eu lhe disse: “Não, produza meu filme, vai custar só cem mil dólares!”. Claro, “Fando e Lis” foi feito totalmente grátis... eu não ganhei nada, os atores não ganharam nada, a equipe não ganhou nada, estávamos preocupados apenas em fazer um tipo diferente de cinema. Filmei nos fins de semana, escondido de todos os sindicatos, porque nessa época um jovem não podia fazer cinema sem ter permissão dos diretores mais velhos. E eu disse: “Não vou pedir permissão para nada, quero filmar e vou filmar, faço o que quero”. E eu tinha uma teoria de que as coisas precisavam ser verdadeiras. Na cena em que o doutor chega, tira o sangue da menina e o bebe, é tudo verdade. Era um médico amigo nosso que tirou o sangue dela e bebeu. Aí surgiu uma lenda de que eu era um vampiro que havia chupado o sangue da atriz, porque a atriz era um pouquinho louca. Quando eu terminei “Fando e Lis”, não pude mostrar, demorou um ano para sair o filme. Nesse ano aconteceu algo com ela que a fez emagrecer muito, parece que num dia ela comia apenas um ovo e uma xícara de café. Quando ela chegou a Acapulco, no festival onde o filme estreou, estava apenas carne e osso. Aí começou os boatos de que eu é que tinha chupado o sangue. Emilio Fernandez, o grande cineasta mexicano, disse: “Eu vou matar esse desgraçado!”. Esse filme nasceu de uma paixão louca, e sempre ocorriam milagres. Quando começaram a surgir problemas, o sindicato de curta-metragistas me falou para dividi-lo em quatro capítulos, assim poderia afirmar de que não era um longa, mas sim quatro curtas colados um no outro. E na televisão, os diretores famosos resolveram fazer uma espécie de juízo, fui convidado pelo apresentador, que gostava de mim e me alertou de que seria tudo muito agressivo. E eu disse: “Sim, sim, não tenho medo, eu vou, mas me ponha no centro”. Aí eu estava no centro, sentei numa pilha de listas telefônicas, que me fizeram ficar mais alto que todos, cheguei lá de branco, com cabelos longos, como Cristo... triunfei! A partir daí que eu comecei a pensar em qual técnica eu queria para o cinema. Muita gente assiste meus filmes e nem percebe, mas tenho uma posição moral no que se refere ao uso da câmera. Em “Fando e Lis”, “El Topo” e “A Montanha Sagrada”, não há noite. Eliminei a escuridão, e nenhum personagem tem sombra, eliminei a sombra no negativo, para a luz parecer que vem de dentro dos personagens. Todas as minhas tomadas são em contraluz, para eliminar a sombra. Eu nunca revelei isso, pois nunca dei palestras sobre cinema, foi o Joel que me colocou no meio dessa coisa! Eu nunca serei um professor de cinema, Deus me livre! Eliminei as sombras e, entre a câmera e o que está sendo filmado... vocês sabem, os diretores “estéticos” sempre enfiam algum objeto ornamental... por exemplo, os japoneses colocam uma árvore e uma coisa se movendo atrás... a câmera se desloca mostrando a árvore em primeiro plano e a coisa lá no fundo. Nada disso, nos meus filmes nunca há algo entre a câmera e os atores. Não me venham com esse papo de que a câmera existe. A pessoa está aqui, parada, e aí o “grande cineasta” resolve fazer um movimento mirabolante... e eu me pergunto, pra que tudo isso? Câmera demonstrativa. Não! A câmera não deve existir, nenhuma demonstração de câmera! Se eu quero passar do ponto X ao Y, faço um pássaro passar por esse caminho, por exemplo. Todo movimento de câmera deve ser em relação a algo que se move. No “El Topo”, eliminei os close-ups. Só há um close-up em “El Topo”, e penso que em cinema é uma degeneração contar uma história só com caras. Aquele pessoal da televisão são todos homens-tronco, só aparecem até a cintura. Atores-troncos, sem pernas, só caras, caras, caras, caras. Em meus movimentos de câmera, há um significado. Numa translação, conto coisas materiais; num avanço ou retrocesso, conto coisas espirituais, psicológicas. Inclinações para sonhos ou devaneios. É uma rebelião absoluta contra o cinema americano e inglês, Hitchcock, que desenham a tomada que vão fazer. Tudo o que eles dizem está dentro do quadro, mas a vida não é assim. Quando há um acidente, cinco mortos, a coisa só fica interessante por determinado ponto de vista. A tomada perfeita não existe. Você faz uma tomada e existem coisas que passam fora desta tomada. A tomada é apenas parte do espaço, não é todo o espaço. Às vezes eu vejo os quadros de Pasquale, que é uma magnífica pintora abstrata, e nunca o que ela faz está fechada num quadro, o que ela faz continua para todos os lados, é como se fotografasse um espaço infinito. Mas o Joel quer coisas técnicas, não? (risos). Em “El Topo”, contei uma história, e em “A Montanha Sagrada” quis romper com tudo isso. O que importa a tradição, é cinema! Em “A Montanha Sagrada”, rompi com toda a montagem tradicional. E com o conto. Não conto uma história. Apenas descrevo personagens. Só depois de muito tempo é que surge uma história. E no começo, cerca de meia hora sem texto, só imagens. Cinema não é teatro. No cinema, o que se pode mostrar, não se deve dizer: anotem! E o que não se pode mostrar, deve dizer. Todo texto é uma detenção da ação. Mas enfim, não vim dar um curso de cinema. Quando eu fiz “Fando e Lis”, o filme foi comprado por uma distribuidora nos EUA, e eu acreditava que os EUA era uma maravilha, todos nós tínhamos essa ilusão, que eles sabiam tudo de cinema. E lá, cortaram todas as partes estranhas do meu filme, para virar uma história de amor romântica. Foi um fracasso absoluto, ficou só três dias em cartaz. Um jornal disse o seguinte: “Jodorowsky está tão longe de alcançar o Buñuel, como Fando e Lis de chegar a Tar”. Aí eu fiquei desesperado para conversar com qualquer jornalista para esclarecer que aquele não era meu filme, e nenhum jornalista, nenhum desses merdas se dispôs a falar comigo! Aí eu disse: “Tudo bem, eles estão me desprezando, aí farei um filme de cowboy, todos eles vão correr atrás de mim e será a minha vez de desprezá-los”. E assim surgiu “El Topo”. Era pra ser um western, mas resultou num “eastern”. Não pude fazer um western porque não sou americano, e pra mim os faroestes se passavam num país encantado imaginário. Coloquei mestres, taoísmo, referências hindus, o personagem se ilumina, vira um monge zen-budista, se sacrifica pela Humanidade, etc. Conheci um estelionatário, que emitiu vários cheques falsos, quatrocentos mil dólares. Com esse dinheiro eu fiz “El Topo”, filmei no meio do deserto, escondido do sindicato, terminei o filme e fomos vendê-lo em Nova Iorque. Todos os grandes estúdios quiseram ver o filme e se entusiasmaram. Nisso, conhecemos um cara que era meio estranho, ele colocava à minha disposição montinhos de maconha, cocaína, morfina, heroína, e eu pensava: o que esse cara pode fazer pela gente? Estávamos desesperados e percebemos que só podíamos rezar. Esse cara mostrou o filme para o John Lennon e a Yoko Ono, eles viram o filme e ficaram encantados. E o John Lennon e a Yoko Ono faziam curtas... certo dia esses curtas foram projetados num cinema, lá estavam todos os críticos e a intelectualidade norte-americana, na época que John Lennon era Deus, e ele disse: “Fiquem para assistir ‘El Topo’, um filme sensacional”. As pessoas ficaram e acabou virando um culto, aquela coisa das sessões da meia-noite, etc. E eu não recuperei meu dinheiro. Em cinema, nunca ganhei dinheiro, apenas um salário de operário no final do mês. Assinava os contratos e ficava com 10% de nada. Agora saiu a caixa de DVDs com meus filmes, que está sendo vendida no mundo inteiro, e de novo ganhei 10% de nada. E estou muito feliz! Bem, sabem por que interpretei o protagonista do “El Topo”? Porque nenhum ator mexicano quis fazê-lo! Era um papel difícil, e o ator teria que deixar barba e cabelo crescer, depois raspar tudo e ficar careca, mexer com animais destripados, todo mundo recusou. A atriz, a loira, encontrei na rua. Havia tomado 500 LSDs. Estava completamente chapada! Trepou com todos os técnicos e passou gonorréia para todos. Nunca soubemos seu verdadeiro nome. A anãzinha tinha 26 anos, fazia aula de teatro, tocava piano, fui vê-la tocar uma vez, e lhe convidei para o filme. A avisei de que não deveria se maquiar, porque em “El Topo” eliminei a maquiagem. Nada de maquiagem, como nesses filmes americanos em que a mulher está perdida no meio do deserto e com o rosto impecavelmente maquiado! Detesto maquiagem, e sempre que sou entrevistado na televisão invento ser alérgico apenas para não ser maquiado. Ah, e a anãzinha tinha hímen, era virgem! De cara, no primeiro dia de filmagem, a vejo toda maquiada, e tive um tremendo ataque de raiva. E depois fiquei sabendo que o assistente de fotografia a estava paquerando... eles tiveram uma filha. “El Topo” foi como uma premonição, porque ela nunca acreditou que pudesse ser desejada pelos homens, e teve uma filha igualzinha a ela, pequenininha igual, que hoje trabalha em praticamente todos os filmes americanos que são filmados no México, ela é como se fosse uma guia. E a anãzinha depois estudou com meu mestre zen, e hoje é professora de meditação. Bem, antes de eu fazer “A Montanha Sagrada”, John Lennon disse a Allen Klein: “Dê a Jodorowsky um milhão de dólares para fazer o que quiser”. Viram só, milagres existem! Claro, tive que multiplicar os pães. Contratei apenas técnicos aposentados, melhores que todos e felizes por estarem trabalhando. Enquanto filmava um cenário já estava preparando o outro. Quando o outro estava pronto, passava a filmá-lo enquanto desmontava o anterior para construir outro novo. Então, meus filmes parecem custar milhões, quando na verdade os fiz com muita economia. No filme tem muitos animais, e custa caro utilizá-los... mas havíamos feito amizade com o guarda do zoológico, e de noite íamos buscá-los escondido, com a permissão dele. Graças a isso, tive todos os animais que quis. Eu queria me iluminar e queria que os atores se iluminassem. Pensei: porque uma película não teria a força de um Evangelho, de um Sutra, de um texto sagrado? Porque não falar de tarot, cabala, simbolismo? Aí resolvi buscar atores que fossem aquilo que interpretavam. O milionário realmente era um milionário. Colocaram ele para fora da Bolsa, por ser um estafador. Num dia, perdeu 18 milhões de dólares. Sempre andava ao lado de um guarda-costas e de seu filho, que tinha 22 anos de idade. E ele picava o filho nos braços... lhe injetava heroína, morfina, todos os tipos de drogas. Eu fiquei chocado quando vi isso, e lhe disse: “Não entendo, és um cavalheiro, como faz isso com o próprio filho?”. E ele sempre dizia: “As drogas são só uma questão de quantidade. Cem litros de água também podem te matar, tudo pode matar. Além do mais, eu tenho dinheiro para me drogar a vida inteira. E para drogar meu filho também”. Bom, ele morreu nas ruas de Nova Iorque como um vagabundo, um indigente, e seu filho está até hoje na cadeia pelos assassinatos que depois cometeu. O nazista que aparece no filme realmente era nazista, acreditava nas idéias de Hitler. E o narcisista, é claro, era um ator da televisão! E eu tinha que ser um mestre, mas eu não era um mestre. E quando fui procurar um guru, ele me exigiu 20 mil dólares para me iniciar, quis ficar no melhor hotel, e na hora ele tirou um saquinho com um pó laranja, dissolveu num refresco de frutas e me disse: “Esse é o melhor LSD. Toma, puro”. E não me aconteceu. Daí ele tirou um pacote e me disse: “Isso é maconha da pura. Fuma.”. Fumei. E aí surgiu uma janela e toda a realidade se transformou, eu vi passar diante de mim toda a história da pintura! E então me foram mostrado vários símbolos, e eu os entendi como nunca. A sessão durou 8 horas. Num certo momento, ele me exigiu concentração máxima e me colocou diante de uma mandala, através da qual eu acabei vendo em letras fluorescentes o logotipo da Coca-Cola. E foi assim que alcancei a iluminação, através da Coca-Cola! Bem, tudo isso me ajudou na minha interpretação. Filmei tudo na rua, sem autorização das autoridades. Levei um ator que ficava vestido de policial barrando as pessoas e os carros. Filmei perto de um mercado e as pessoas vaiavam, jogavam todos os tipos de frutas, e cansado daquilo tudo, disse: “Escutem, essa cena é muito importante e conta como os espanhóis destruíram a cultura mexicana, a cultura do seu país. Então os sapos serão os espanhóis, e os camaleões representarão a tradição do seu país. Por favor, imploro, respeitem. Não façam barulho, não joguem mais frutas. Deixem-me filmar isso”. E as centenas de pessoas se calaram, foi formidável. Fiz aquilo no meio das pessoas. Igual ao “Santa Sangre”, filmei no meio da rua. Emilio Fernandez, o mesmo que queria me matar, construiu um enorme palácio no México, estilo americano. Quando ele morreu, esse palácio foi herdado por sua filha, que era minha fã e me permitiu usá-lo no meu filme. Eu o transformei numa casa em ruínas. Eu queria colocar um elefante lá dentro, e para isso eu teria que demolir a porta. Custaria dois mil dólares, e o produtor não quis fazer. Se vocês vissem o ataque de histeria que eu tive. Saquei o dinheiro, cuspi neles, joguei no chão e disse: “Aqui estão seus dois mil dólares! Ponha esse elefante aqui dentro!”. Eu queria que meu filho sangrasse pelo nariz, mas não tínhamos dinheiro para efeitos especiais. Tomamos um tubo longo, com 100 metros, colocamos no nariz, tiramos pela boca, esticamos, prendemos numa bomba e fizemos o sangue jorrar. Assim o fiz, à mexicana! Tem uma cena em que meu filho luta contra uma enorme serpente. Eu não sabia que as serpentes mordiam! Bem... nem o meu filho! Assim fomos fazendo o filme. Em “A Montanha Sagrada”, quando eu tive que tocar num tigre, meu Deus! Vocês não sabem o que é tocar num tigre, ainda mais com aquele bando de mexicanos em volta te chamando de viado. Para conseguir fazê-lo, tive que raciocinar e enfiar na cabeça que seria impossível aquele tigre me matar... mas o medo... é uma coisa primitiva. Me colocaram um revolver no peito, por causa da cena em que soldados dançam com civis. O bêbado armado gritou: “Nada de viadagem! Homens com mulheres, senão te mato!”. No “Santa Sangre” tem cenas incríveis que filmei na praça Garibaldi, no meio dos mariachis, dos bêbados, ladrões... aí tinha a minha assistente, que era uma lésbica caminhoneira, e o meu outro assistente, que era um homossexual Gay Power que só andava de rosa. Ela contratou os ladrões para garantir que ninguém roubaria nada. E ele me levou ao concurso “Miss Mexico”, proibido pela polícia... e aí, num galpão escondido, passavam as “misses” de cada cidade, e eu tinha que levantar plaquinhas com números... eles ficaram tão agradecidos que fizeram questão de emprestar seus trajes. E assim consegui cenas magníficas, por ter sido jurado de um concurso de travestis. Filmei ao lado de uma igreja chamada “Igreja de la Soledad”, construída para as prostitutas. Elas fazem ponto lá e levam os clientes para um galpão. Como eu era o diretor, me respeitavam muito, então me mostraram tudo. Haviam vários cubículos separados apenas por cortinas. Promiscuidade absoluta, elas lavavam a vagina nuns baldes de plástico, e depois surgiam uns curandeiros que supostamente curavam todas as doenças que podiam ter contraído. Não estavam nem aí para AIDS, sífilis, etc. Cobravam três dólares: um para elas, outro para o cafetão, e outro para o padre. O padre fomentava a prostituição: um dólar por puta. Claro, são apenas casos, não é necessário saber disso para apreciar o filme, mas é bom saber das aventuras que se vivencia na produção de uma película. Eu precisava de uma canção mística, cantada por um cego. Saí na rua, e um cego me tocou com uma bengala. Perguntei: “tem uma canção mística?”. E ele: “Claro, toco num grupo de cegos protestantes, quer ir ao nosso ensaio?”. Eles aparecem no filme. E é por isso que eu digo que o roteiro é só um ponto de partida. Cansei de falar sobre cinema, vamos falar sobre alguma outra coisa? Alguem tem perguntas?

MULHER DA PLATÉIA – Teve um momento de “A Montanha Sagrada” que me incomodou...

JODOROWSKY – Mesmo? O que te incomodou?

MULHER DA PLATÉIA – Tipo assim... na verdade teve vários e vários momentos... [platéia gargalha]. Mas o principal foi o sacrifício dos animais. Porque existe... ou não? Era encenação? Sapos... galinhas...

JODOROWSKY – Ah, não venha me reclamar das galinhas! Hoje mesmo eu falei da canja de galinha que tomei no restaurante! Vocês comem galinhas, comem coelhos, comem vacas... quem é você pra falar que eu mato galinhas?!? Sabe, cada um daqueles sapos me custou 50 dólares. Na hora da explosão, tive que colocar sapos de goma, pois os de verdade eram muito caros. Mas seria um sacrifício divino! Há milhares de anos que se matam sapos, na França todo mundo come rãs! Por mim, explodiria os sapos e depois comeria as patinhas. Falemos de violência, me encanta a violência! Mas só mato animais comestíveis.

MULHER DA PLATÉIA – Bem, é que na palestra anterior, você comentou sobre essa questão da violência, que você usa isso como uma transmutação e um meio de chegar à cura. Confesso que a cena me incomodou, mas quando vi o senhor falar disso, pra mim a coisa mudou de figura...

JODOROWSKY – Adoro animais, sempre convivi com eles. Já tive um crocodilo, criação de borboletas, gatos, já tive 18 gatos, cobras... quando fiz “El Topo”, utilizei apenas animais enfermos, que iriam ser sacrificados no matadouro. Na realidade eu nunca torturei animais, mas sou um artista, não sei o que faço, mas faço o que quero e não devo satisfações. Mas dane-se, se eu quisesse torturá-los, teria torturado. Já torturei gente. Chicoteei a atriz principal de “Fando e Lis” até que ela urinasse. Queria filmá-la mijando, porque acho lindo. Coloquei 20 tarântulas em cima de um dos atores de “A Montanha Sagrada”. Se a arte não é violenta, não é arte. A pior arte é aquela que diz: “Oh, é tudo tão lindo, o amor!”. A arte nasce do conflito, para chegar à beleza das coisas horríveis. Mas não falo da violência boba dos filmes policiais e de guerra. Para mim, a violência é a violência da Guernica de Picasso. A vida é um fenômeno de violência. A explosão de uma galáxia, é violento. O nascimento de uma criança, com todo aquele sangue, é violento. Gosto da violência que conduz à vida, e não da que nos leva à auto-destruição. É o caso de Goya quando mostra o massacre da pobre gente, que é para nos formar uma consciência.

SENHOR DA PLATÉIA – Em 2004, esteve no Brasil a filha de Emilio Fernandez... o senhor disse que ele era muito violento, não? Eu não tive coragem de perguntar para ela se é verdadeira a história de que seu pai assassinou um jornalista por ter feito uma crítica negativa de um dos seus filmes. Você sabe se isso é verdade?

JODOROWSKY – Sim, é verdade, mas na verdade ele matou duas. Mas como ele é uma figura tão importante para o cinema mexicano e sempre foi muito influente, nada lhe aconteceu. Digo isso porque tentou matar a mim, quase fui o terceiro!

SENHOR DA PLATÉIA – Me permita só mais uma pergunta: Cantinflas era “maricón”?

JODOROWSKY – Cantinflas era famosíssimo por seu sucesso com as mulheres. Era diretor de sindicato e, apesar de comediante, era uma pessoa muito séria. Mas fique tranquilo, ele não era homossexual. Às vezes, lamento não ser homossexual. Imagine que sensação maravilhosa, ser possuído! Eu sempre tive inveja da vagina feminina. Tão sensível, tão acolhedora! Sempre dizem também que o ânus dos homens é muito sensível, mas isso eu sinceramente não sei se é verdade! Nunca me atrevi a experimentar.

[Neste momento, fiz a Jodorowsky uma pergunta e meu gravador caiu no chão. Ao pedir uma pausa para pegá-lo de volta, o cineasta me disse que não havia necessidade de gravar tudo, que eu deveria confiar na minha memória. Afirmei que a mesma era péssima, e ele disse que iria melhorar.]

EU – Sempre tive curiosidade com relação ao seu processo criativo... quer dizer, você faz muita coisa, cinema, quadrinhos, teatro, poesia, literatura. Quando surge uma idéia na sua cabeça, uma idéia de uma história por exemplo, ela surge automaticamente como um gibi, um livro, um filme, uma peça, ou isso é algo que é definido depois, quando a idéia amadurece?

JODOROWSKY – O cinema faço como cinema, o quadrinho como quadrinho, a poesia como poesia. Bem, para mim é difícil te dizer. Como artista, não sei o que faço. Quando sinto que tenho que fazer algo, simplesmente o faço. Faço arte que não dá dinheiro: cinema, poesia. E também faço arte que me permite desfrutar de uma vida confortável: quadrinhos. Às vezes, literatura. Alguém me perguntou por que faço tanta coisa de uma vez, e eu respondi: “Porque posso”. Bom, faço tudo. Pra que eu iria me limitar?

RAPAZ DA PLATÉIA – Boa noite. Eu trabalhei muitos anos no cinema mexicano, na década de 90, e o senhor é muito famoso, existem muitas lendas sobre a sua pessoa, seus métodos, e uma que eu gostei muito é a de que você, na hora de fazer o casting feminino, exigia uma xerox do ânus das atrizes.

JODOROWSKY – Bom, para sair um pouco da astrologia eu inventei um método novo de adivinhação, a ânusmancia. Coloco a pessoa sentada na fotocopiadora, em função das rugas superficiais eu leio o futuro, e das rugas profundas o passado. E se há manchinhas, mando a pessoa ir tomar banho. Isso é a ânusmancia, muita gente famosa mostrou seu ânus para eu analisar, mas outras não quiseram. George Harrison não quis. Asia Argento não quis. Os políticos do Chile também não quiseram! Não sei o que acontece, muita gente não aceita! Não sei se vocês sabem, mas George Harrison iria fazer “The Holy Mountain”, ele leu o roteiro, adorou, e topou na hora atuar no filme. Me disse: “É uma obra-prima, magnífico, mas tem uma cena que não quero fazer, aquela em que ele está de costas para a câmera, ao lado de um hipopótamo, e o mestre lhe limpa o ânus. Não quero mostrar o meu ânus”. “Mas como?”, eu lhe disse, “É uma grande lição de humildade! Deixar alguem limpar seu ânus é a maior lição de humildade que se pode dar! Sem chance, não posso usar você, a cena é fundamental, não posso cortá-la”. E a cena é bela! Então peguei um ator mexicano desconhecido e fiz com ele. Perdi milhões! Quando eu penso, juro que esqueci... John Lennon e Yoko Ono queriam fazer “O Senhor dos Anéis”, eles ofereceram para mim dirigir. Yoko Ono seria a princesa... Lennon me entregou uns papéis e disse para que traduzisse pro espanhol, e eu simplesmente esqueci. Teria sido milionário! Se eu tivesse feito “Duna”, por exemplo, eu seria o novo Spielberg. Eu teria me convertido num cretino, fazendo as vontades da política dos EUA... não! Tudo que eu perdi, eu ganhei. Se por honestidade você perde dinheiro, você irá recuperá-lo. Eu acredito que os artistas precisam ser honestos antes de tudo. Quando me convidaram para esse festival, um jornalista me perguntou: “O Brasil tem artistas?”. E eu disse: “Se o Brasil produz um Glauber Rocha, é um grande país”. Quando eu conheci o Glauber Rocha, o que mais me comoveu foi a sua honestidade, nunca fez concessões para ninguém, para o bem e para o mal. E parece que morreu jovem e pobre, não? Que nem meu amigo Topor, Roland Topor, quando morreu tivemos que fazer uma vaquinha para comprar seu caixão. Mas comigo isso não vai acontecer, pois sou santo, mas não tonto. Eu sigo as teorias de Gurdjieff, e uma das coisas que ele diz é que o homem espiritual deve aprender a ganhar seus próprios trocados. Existem duas maneiras de ganhar a vida: explorando ou fazendo serviços. E é o que faço, presto serviços. Creio que mereço vestir o traje que uso agora.

RAPAZ DA PLATÉIA – Ainda assiste filmes?

JODOROWSKY – Sim, todo dia vejo filmes. E todas as séries americanas, todas, adoro, minha tevê tem uma telona, e vejo no DVD.

RAPAZ DA PLATÉIA – De cineastas contemporâneos?

JODOROWSKY – Sim, todos! Takashi Miike... sim! Aquele que fez Oldboy... sim! Aquele húngaro que fez “Taxidermia”... sim! “Six Feet Under”... sim! “Soprano”.... sim! Aquele das mulheres desesperadas.... “Desperate Housewifes”... sim! “Lost”... sim! Vejo tudo! Vejo até “Bette a Feia”!

[alguém lhe pergunta do seu próximo filme]

JODOROWSKY – Bem, existem alguns projetos. Não sou um fabricante de hambúrgueres, sou um artista, e não gosto de fazer de novo o que já fiz, o artista deve se renovar. Existem artistas maravilhosos, mas que se repetem. O primeiro filme do Tarantino, por exemplo, eu achei formidável. Os outros também são maravilhosos, mas pra que fazer mais filmes se sempre o que você vai fazer é só externar sua admiração pelo cinema de Hong Kong? Depois que fiz “Santa Sangre”, disse: “Não posso fazer mais nada, por enquanto me esvaziei”. Esperei me renovar. Fiz quadrinhos, depois livro, etc. Durante muitos anos. Recentemente saiu na Espanha um volume com meu teatro completo, nos EUA saiu a caixa com meus filmes em DVD... tenho três projetos. Um deles é “Bouncer”, um western no meu estilo, baseado nos meus quadrinhos, que fizeram muito sucesso. Como está tendo a greve dos roteiristas, querem filmar antes de julho, mas querem um ator famosíssimo, o cinema industrial depende dos atores. É uma catástrofe! Não vou citar nomes, mas um astro super conhecido veio para mim e se ofereceu para fazer. Todo mundo me pediu para aceitar e eu recusei, eu disse: “Não, ele é muito belo, mas se ele aceitar colocar um enorme nariz postiço, faço com ele!”. O outro é “King Shot”, uma fita completamente avant-garde, é um spaghetti-gangster-metafísico. Nick Nolte topou fazer, ofereci porque gosto muito do seu trabalho. Marilyn Manson também vai fazer. Esse vai ter quatro produtores, ainda tem muita coisa pra resolver. E o outro... bem, tenho uma conta num banco, onde economizei dinheiro por anos, para produzir meu documentário chamado “Psicomagia”. Será uma terapia coletiva. Todos os filmes se vangloriam de arrecadar milhões de dólares, e vou anunciá-lo como “Um Filme para Perder Dinheiro”. Vou colocar de graça na internet. Simplesmente porque quero fazer. Com certeza farei uma delas em 2008, o que significa que no começo de 2009 vocês poderão assistir. Será um grande escândalo mundial! (risos).



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