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Cantinho do Aguilar...

Os melhores de 2007

Por Eduardo Aguilar

Bem, o meu compromisso conforme a coluna anterior de dezembro de 2007 era falar sobre o meu processo de criação nessa minha mais nova empreitada que é o teatro, todavia, o comichão por fazer listas me atacou e como ainda não estou acompanhando os espetáculos teatrais como gostaria, segue uma lista de filmes, lembrando que meu critério não considera somente os filmes lançados oficialmente no circuito, mas sim, os filmes que assisti em vídeo, festivais, via Internet, e claro, no cinema!

Aos que acompanham a coluna, peço desculpas por uma eventual quebra de expectativa, e em Abril prometo falar sobre o processo de criação da minha incursão no teatro.

Lista - 2007

1.º) A Espiã – direção de Paul Verhoeven. O retorno de um mestre! Poucas vezes um diretor deu uma volta por cima tão grandiosa. Obra-prima irretocável! Seco, cruel e cínico, mas ao mesmo tempo apostando que há esperança! A reação da população ao término da 2.ª guerra nunca foi mostrada como aqui. Sebastian Koch como um nazista sensível e Carice Van Houten na pele da personagem central estão magistrais! E tudo sob o comando de um canceriano! rsrs

1.º) Sombras de Goya – direção de Milos Forman – Desconcertante! A arte, o artista, o humano, a dor, o desumano, a loucura, a possibilidade de se transformar! A prostituição como metáfora sobre a arte. Natalie Portman e Javier Bardem em estado de graça! Forman talvez em seu melhor filme e o cara é um dos maiores!

1.º) Possuídos – direção de Willian Friedkin. A loucura! A loucura! A loucura! Em um ano predominantemente marcado por atuações femininas, que dizer da ariana Ashley Judd? A maior atriz da atualidade, e ainda por cima: lindíssima!

4.º) Ariverdice Amore, Ciao
– Michele Soavi de volta a direção! Os fãs agradecem! Como ele mesmo define nos extras, se Dellamorte, Dellamore era um filme sobre mortos-vivos, este é um filme sobre vivos-mortos! Cada enquadramento de Soavi nos causa inveja, pouca gente no cinema sabe posicionar a câmera tão bem! A utilização das músicas beira a perfeição, em especial, a música título que conduz diversas cenas. Vendo sua entrevista e as cenas deletadas fica a certeza de que elas fazem falta ao filme. A cena da cadeia seria essencial para a compreensão dos vínculos afetivos entre os personagens envolvidos, e a cena do anjo caído é tão inacreditavelmente bem conduzida, que mesmo podendo ser descartada, nos faz lamentar sua ausência. Enfim, um canceriano com os revezes da necessidade de sobreviver.

4.º) Vermelho como o Céu – direção de Cristiano Bortone. Surpreendente inversão: o som cria a imagem! Um filme quase literário, e no entanto, tão impregnado da atmosfera cinematográfica! Mas é fácil explicar, o filme foi dirigido por um canceriano - rsrs.

6.º) O Orfanato – direção de Juan Antonio Bayona. Produzido por Del Toro, esse suspense tem a cena de mediunidade mais bem filmada da história do cinema e ainda por cima, utilizando a genial Geraldine Chaplin que evidentemente nos remete ao cinema de Carlos Saura. Aliás, citações sobram a granel, a mais evidente é Quien puder a matar um niño?, mas existem inúmeras outras, e todas nem um pouco gratuitas. O importante a dizer é que o filme vai muito além das citações e re-trabalha um tema caro ao produtor Del Toro: a relação pai-filho, mas dessa vez, alterada para mãe-filho, nesse sentido, me parece que o diretor Bayona soube imprimir o seu olhar pessoal sobre o tema nos conduzindo à um dos finais mais belos finais dos últimos tempos. Ah, para desgosto de alguns, é evidente a referência a Escuridão de John Fawcett por conta da cena em que a personagem central atravessa uma espécie de limbo do inconsciente via mar.

7.º) Em la ciudad de Sylvia – direção José Luis Guerín. Indicação que devo ao Filipe Furtado. Travellings maravilhosos! A contemplação filmada com muita sensibilidade, muito além do óbvio. A busca, a procura, a perda! Os olhares, os outros, outras perdas... Simplicidade eloqüente! O amigo Michel Simões, que respeito muito, entendeu que essa mesma simplicidade era uma espécie de visão pedante e pré-produzida cheia de firula, e ainda um filme excessivamente preocupado com o belo, o que normalmente me provocaria desinteresse. Enfim, visões opostas que sempre ajudam a por em crise as certezas que temos.

8.º) Pro dia Nascer Feliz – direção de João Jardim. Impactante! Mas não o estado de coisas da educação brasileira, e sim, a capacidade de ouvir de João Jardim, uma lição aos professores: saber ouvir!

8.º) Jogo de Cena – direção de Eduardo Coutinho. Que dizer? Documentários não existem mais no sentido de uma não ficção, ao contrário, são uma nova forma de abordar a ficção. O destaque fica para a montagem cirúrgica de tão precisa, e a ótima utilização da presença das atrizes famosas, com Andréa Beltrão surpreendendo a todos numa atuação cheia de força, e Fernanda Torres impressionando pela coragem de se expor. Em relação as referidas atrizes, o melhor mesmo é a utilização que Coutinho faz do depoimento de Fernanda Torres que no conjunto do filme é tão importante quanto os demais.

8.º) A Comédia do Poder – direção de Claude Chabrol. Quando um mestre está no mais absoluto domínio do seu ‘metier’. O humano e o político nunca foram tão bem costurados. Mas enfim, o cara é outro canceriano e isto está parecendo uma confraria. rsrs

11.º) Calvaire – direção de Fabrice de Welz – Filme belga com uma das cenas mais sensacionais do cinema mundial recente que mostra alguns caipiras numa dança totalmente surreal. Não é apenas isso, mas é muito difícil definir esse trabalho, mistura de Deliverance e O Massacre da Serra Elétrica, só por essa premissa, dá pra se sentir a encrenca que é esse filme.

12.º) A Desconhecida – direção de Giuseppe Tornatore. A coragem de enfrentar o melodrama e sair integro! Não é pra qualquer um! A atuação de Kseniya Rappoport é quase tão impactante quanto a da atriz holandesa de A Espiã ou a de Ashley Judd.

13.º) O Hospedeiro – direção de Joon-ho Bong. Exemplo perfeito da possibilidade de se misturar diversão e inteligência e obter um resultado artístico mais do que satisfatório. A cena do velório já entrou pra antologia, a família desajustada e que no entanto, é quem pode propor algum tipo de ajuste, é qualquer coisa de muito original em um filme no qual a essência é divertir. Assim como em O Orfanato, um dos mais belos finais do cinema contemporâneo.

14.º) 30 Dias de Noite – direção de David Slade. O filme confirma o talento do diretor de Menina-má.com e é uma das visões mais interessantes do universo dos vampiros, aproxima-se muito do Nosferatu de Herzog. Na tela, a dor de viver eternamente. A dor de viver. Algumas situações paralelas entre os mundos dos humanos e dos vampiros são incrivelmente poéticas, como as cenas envolvendo perdas dos antagonistas, aliás, a cena final é de uma ousadia absurda para um filme americano focado no entretenimento, é a inversão completa do clichê máximo do romantismo, com direito a pôr de sol e tudo, resultando plasticamente em um dos grandes achados de 2007, na minha opinião, visualmente falando a cena mais bela do ano e sem cair na estetização, justificando-se plenamente na dramaturgia. Destaque ainda para os pontos de contato com o clássico Quando Chega a Escuridão, seja pelo tipo de atmosfera proposto, ou por uma cena envolvendo abnegação de uma pessoa em favor de outra ou de um coletivo. Vale dizer, a idéia de nunca apontar o motivo da crise entre o casal central somada a solução final é realmente a melhor sacada do ano em termos de roteiro.

14.º) Proibido Proibir – direção de Jorge Duran – Lição de sensibilidade! Caio Blat, o novo Nelson Xavier!

16.º) Deja Vu – direção de Tony Scott – melhor filme de Tony! Pouco? Não! Muito!

17.º) A Última Cartada – direção de Joe Carnahan – Vai entender a crítica, estamos diante do maior talento do novo cinema americano e que mesmo assim foi praticamente ignorado por aqui. Policial macho como a muito não se fazia! A cena das assassinas lésbicas é um primor!

18.º) Vênus – direção de Roger Michell – O talento de Michell numa quase co-direção com a genial atuação de O’Toole apostando todas as cartas que é preciso manter o frescor e o prazer pela arte de viver.

19.º) Medos Públicos em Lugares Privados – direção de Alain Resnais. A solidão. A solidão. A solidão! O destino!

20.º) O Sobrevivente – direção de Werner Herzog. Li em algum lugar que estamos diante do clássico filme clichê sobre sobrevivência na guerra. Ledo engano. Subversão total! Herzog dá uma banana para o patriotismo, e na cena que em qualquer outro filme do gênero remeteria a situação de vingança, Herzog mostra uma perda que leva a dor, mas enfatiza a fuga e a necessidade de sobreviver.

21.º) Batismo de Sangue – Helvécio Ratton – o melhor retrato dos anos de chumbo feito pelo cinema nacional. Tem problemas? Muitos. E daí?

21.º) O Tigre a Neve – Roberto Benigni – melhor filme de Benigni!



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