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Coluna do Biáfora

JÚLIO BRESSANE

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

Júlio Bressane. Mais que Sganzerla, mais que Glauber, mais que Luiz Rosenberg e outros, o mais assíduo e ostensivo cultor da “contestação-desaforo” em nosso cinema. Atitude que, embora um tanto (não completamente) ignorado-sabotada por nossos acadêmicos exibidores, paradoxalmente não deixa de fazer as delícias de quanto organismo cultural oficial, de todo o tipo de traitor-within (ao establishment do qual deliciadamente vivem e que os mantêm com toda a falácia, a fim de afetar uma liberalidade que essencialmente não tem) de toda esta vasta e caótica nacionalidade. Talvez seja porque, de par com essa contestação toda, jamais falte (antes, sobre) a esse tipo de contestação o mais sincero (?) e angry chauvinismo. Aqui, por exemplo, não obstante a sombra adorada de Monsieur Godard, temos Jece Valadão como “astro” (devidamente reforçado por figuras que só nesta tropicália poderiam pontificar, como Wilson Grey, Colé, Martha Anderson, etc., etc., etc.) o “Gigante” em causa é a narrativa da trajetória de um “caboclo” pelo inferno, purgatório e paraíso num (sic) “périplo ancestral pela América (que será ou não será la nuestra?). Nada a opor, pois a oferta depende da procura, do interesse pela mercadoria e da “utilidade” desta. Mas preferiríamos que, traumas ou glozas à parte, estando com uma câmera (mesmo na mão) e com 23 latas de negativo, três ou cinco intérpretes e alguma locação ao dispor, melhor política é analisar em qualquer outro estilo ou tom, alguma situação humana condizentemente real, observada e fundamentada e que aumente o conhecimento de vida do espectador. Como aliás Bressane o fez justamente em seu filme de estréia, aquele sugestivo “Cara a Cara”.

*Publicado originalmente em “O Estado de São Paulo” em 22 de novembro de 1981



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