RUÍDO
RADIOHEAD - OK COMPUTER
RADIOHEAD - OK COMPUTER
Por Laís Clemente
Quase dez anos depois de montar sua própria banda, Colin, Jonny, Ed, Phil e Thom, entraram no estúdio para gravar o que seria o seu terceiro disco. Eles já haviam obtido um sucesso considerável (junto com o estigma de one hit band) com seu primeiro single, o hino loser Creep. As vendas de seu segundo disco, The Bends, haviam sido impulsionadas pela gracinha que é o videoclipe de Fake plastic trees. A carreira não ia mal, mas era necessário algo mais concreto: um álbum que lhes garantisse, definitivamente, respeito no cenário musical, sem deixar de lado o apelo pop.
Um bom exemplo disso, no disco lançado pelo Radiohead em 97, é Paranoid android. A música é dividida em três partes - cada uma com sua própria melodia -, que contam a história do confronto de um acionista da bolsa de valores com sua consciência, e repreendem a desenfreada ambição capitalista. O coro é simples, porém eficiente. As mudanças de uma melodia para outra, além de bem feitas, possibilitam vislumbrar tanto a agressividade dos riffs de guitarra, quanto a doçura de um violão, que confere um ar acústico pouco comum quando o assunto é Radiohead. Apesar dessa estrutura não linear, a canção não deixou de ser popular. Virou música de trabalho, um videoclipe bastante requisitado nas MTvs da vida e talvez a música mais lembrada de Ok Computer.
Algumas faixas adiante, em Fitter happier, sobre um fundo instrumental digno de compor a trilha sonora de qualquer filme de suspense, uma voz robótica lê uma cartilha para a perfeição. Ela se inicia com coisas até aceitáveis como exercícios regulares, beber moderadamente e vai ficando cada vez mais absurda ao regular como devem ser os beijos (sempre com saliva) e a proibição de se chorar em público. Se Paranoid android é uma crítica à ambição capitalista, Fitter happier é um soco no estômago aos comportamentos de nossa sociedade, que nos levam a viver como “porcos enjaulados sob o efeito de antibióticos”.
Em outro ponto do álbum, somos levados ao escapismo em Subterranean homesick alien e Exit music (for a film). Na primeira, Thom Yorke canta seu desejo de ser abduzido por aliens, com a esperança de conhecer o mundo não como ele é, mas como gostaria que fosse. Já em Exit music (for a film), o momento mais depressivo do disco, nem a fuga - dessa vez dos pais e não do mundo como um todo - traz a esperança de algo melhor. A incapacidade da felicidade é explícita nessa música. Mesmo quando os personagens concretizam a fuga, o frio os oprime. E nem a morte, que traz a paz eterna, em que os personagens podem virar um só, parece os satisfazer.
Quase dez anos depois de montar sua própria banda, Colin, Jonny, Ed, Phil e Thom, entraram no estúdio para gravar o que seria o seu terceiro disco. Eles já haviam obtido um sucesso considerável (junto com o estigma de one hit band) com seu primeiro single, o hino loser Creep. As vendas de seu segundo disco, The Bends, haviam sido impulsionadas pela gracinha que é o videoclipe de Fake plastic trees. A carreira não ia mal, mas era necessário algo mais concreto: um álbum que lhes garantisse, definitivamente, respeito no cenário musical, sem deixar de lado o apelo pop.
Um bom exemplo disso, no disco lançado pelo Radiohead em 97, é Paranoid android. A música é dividida em três partes - cada uma com sua própria melodia -, que contam a história do confronto de um acionista da bolsa de valores com sua consciência, e repreendem a desenfreada ambição capitalista. O coro é simples, porém eficiente. As mudanças de uma melodia para outra, além de bem feitas, possibilitam vislumbrar tanto a agressividade dos riffs de guitarra, quanto a doçura de um violão, que confere um ar acústico pouco comum quando o assunto é Radiohead. Apesar dessa estrutura não linear, a canção não deixou de ser popular. Virou música de trabalho, um videoclipe bastante requisitado nas MTvs da vida e talvez a música mais lembrada de Ok Computer.
Algumas faixas adiante, em Fitter happier, sobre um fundo instrumental digno de compor a trilha sonora de qualquer filme de suspense, uma voz robótica lê uma cartilha para a perfeição. Ela se inicia com coisas até aceitáveis como exercícios regulares, beber moderadamente e vai ficando cada vez mais absurda ao regular como devem ser os beijos (sempre com saliva) e a proibição de se chorar em público. Se Paranoid android é uma crítica à ambição capitalista, Fitter happier é um soco no estômago aos comportamentos de nossa sociedade, que nos levam a viver como “porcos enjaulados sob o efeito de antibióticos”.
Em outro ponto do álbum, somos levados ao escapismo em Subterranean homesick alien e Exit music (for a film). Na primeira, Thom Yorke canta seu desejo de ser abduzido por aliens, com a esperança de conhecer o mundo não como ele é, mas como gostaria que fosse. Já em Exit music (for a film), o momento mais depressivo do disco, nem a fuga - dessa vez dos pais e não do mundo como um todo - traz a esperança de algo melhor. A incapacidade da felicidade é explícita nessa música. Mesmo quando os personagens concretizam a fuga, o frio os oprime. E nem a morte, que traz a paz eterna, em que os personagens podem virar um só, parece os satisfazer.
Outro destaque do álbum, No surprises, é composta basicamente por delicadeza e simplicidade. A quase inaudível bateria assegura que a primeira característica não seja quebrada. A segunda é garantida pelas quatro melancólicas notas iniciais, que parecem indicar qual é o tema da música, antes mesmo que Thom abra a boca. Repetidas por quase toda a canção, elas acabam por demonstrar a opção pela vida sem surpresas feita pelo eu-lírico. Ao final, ele aceita o “aperto de mão de monóxido de carbono”, que alguns críticos acreditam ser a opção pela morte através desse gás comumente usado em suicídios.
Algumas faixas adiante, em Electioneering, o tema é política. Promessas eleitorais que não serão cumpridas, políticos querendo tirar vantagem. Enfim, nada que nós brasileiros não conheçamos há tempos. Esse talvez seja o calcanhar de Aquiles do álbum. Não somente nessa música, como também em Paranoid android e Fitter happier, as críticas são exageradas e em alguns pontos chegam a ser maniqueístas. Em canções como Exit music e No surprises a tristeza e o escapismo incomodam o ouvinte por parecerem pouco justificados.
No entanto, mesmo que se coloquem os exageros na balança, ela continua a pender para o lado positivo. Ok Computer ainda é o tipo de álbum envolvente, que capta quem o ouve desde a primeira nota em um ambiente de sons e emoções. Como se não bastasse isso, cada nova audição revela novos efeitos eletrônicos, particularidades da harmonia, uma nova frase sussurrada em um pedacinho de música. Detalhes que fazem diferença. Minúcias que tornam este um dos melhores álbuns dos anos 90.