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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

BRAZILIAN NAZIEXPLOTATION

Por Matheus Trunk

Na segunda metade dos anos 60, o cinema brasileiro viveu um período de boom que possibilitou uma série de fenômenos cinematográficos nunca previstos nas terras tupiniquins. A partir do enfraquecimento dos ideais iniciais do Cinema Novo e o fortalecimento do cinema comercial para as massas, brotaram uma série de diretores que iriam se aventurar nas nossas telas nas mais diferentes investidas.

É exatamente nesse momento que o carioca Cícero Adolpho Vitório da Costa, volta a sua terra natal após ter trabalhado três anos em Hollywood, sendo ator em filmes como A Maior História de Todos os Tempos (George Stevens, 1965) para tentar dirigir seus trabalhos. Costa voltou da terra do Tio Sam cheio de idéias mirabolantes, porém a principal era realizar em terras brasileiras filmes de ação e aventura, como se fosse um 007 nacional. Por isso mesmo, adotou um novo pseudônimo: Adolpho Chadler.

No Brasil, seu primeiro filme realizado foi o policial “O Grande Assalto”, claramente inspirado nas fitas de James Bond, que estavam na moda na época. Porém, no segundo ele incorporou um gênero que pela primeira vez chegaria ao nosso país: o naziexplotation com “Os Carrascos Estão Entre Nós”.

O filme conta a história dos misteriosos líderes nazistas da organização “Aranha Negra”, que teriam fugido para o Brasil em 1944 para escapar do Tribunal de Nuremberg. O agente brasileiro Marcan e o americano Bill vão atrás dos fugitivos, porém o líder consegue escapar deixando insolúvel o mistério de sua identidade. Co-produzido pelo poderoso Oswaldo Massaini, “Os Carrascos Estão Entre Nós” é uma produção extremamente bem acabada com fotografia do cinemanovista Affonso Vianna. Porém, não chega a ser um grande filme. Chadler continuaria tentando dirigir longas de gênero bastante próximos deste, mas não faria mais realizações no estilo naziexplotation.

Com algum intervalo, este gênero cinematográfico seria mais vezes explorado por nossos cineastas. Em “Lílian M, Relatório Confidencial”, pornochanchada godardiana de Carlos Reichenbach, a personagem Liliam se envolve com um nazista colecionador de armas, chamado Hartmann (feito pelo diretor e fotógrafo Edward Freund). Em seu livro de memórias “O Cinema Como a Razão de Viver” escrito pelo jornalista Marcelo Lyra, Carlão comenta o personagem: “Foi tenuamento inspirado na figura do industrial alemão Henning Albert Boilesen, que segundo a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), era espião da CIA e patrocinava a Operação Bandeirante, a OBAN, criada pela repressão no final dos anos 60, em São Paulo. Dizia-se que esse cidadão (um suíço) havia sido da SS nazista. Niolesen foi “executado” pelo “Comando Revolucionário Devanir José de Carvalho”, após ser julgado como espião da CIA. Isso é discretamente citado no filme”.

No mesmo trecho do livro, Reichenbach comenta que nenhum trecho da parte sobre o alemão teve problemas com a censura brasileira. Várias seqüências do longa tiveram trilha sonora composta por músicas alemãs dos anos 30, que eram pré-nazistas. “O Jairo Ferreira dizia que eu usava os filmes para me exorcizar dos discos 78 rotações que herdei da família”, reconta o diretor em outro trecho de sua biografia.

Porém, o filme que nos anos 70 iria falar de maneira mais extrema possível sobre a presença dos nazistas nas terras tupiniquins foi mesmo o premiado “Aleluia Gretchen”, dirigido em 1976 pelo catarinense Sylvio Back. A saga de uma família de imigrantes alemães que fugindo da guerra, se refugia no sul do Brasil por volta de 1935, onde compra um hotel que se torna ponto de encontro de simpatizantes do nazismo. Com um grande elenco (Carlos Vereza, Sérgio Hingst, Miriam Pires, Selma Egrei, Kate Hansen e Líliam Lemmertz) e técnicos tarimbados (José Medeiros na fotografia e o hoje crítico de cinema Inácio Araújo na montagem), pode-se dizer que “Aleluia Gretchen” é sem dúvida a obra-prima do brazilian naziexplotation. Por isso mesmo, o longa recebeu nove prêmios nacionais.

Com tanto sucesso, o gênero chamaria a atenção dos produtores da Boca do Lixo, muito mais interessados em ter público para pagar suas produções do que receber prêmios. Tony Vieira, audacioso produtor de faroestes e filmes policiais se aventurou na onda em 1980, ao realizar “O Último Cão de Guerra”. No longa, o general Zog (?), um neo-nazista monta um campo de concentração, com o auxílio de um tenente e uma doutora. Moças que moram nas fazendas vizinhas serão seqüestradas para dar seqüência ao plano de criação de uma raça pura. Auxiliado por seu elenco quase fixo e seus técnicos costumeiros (como o comediante Heitor Gaiotti, o fotógrafo e câmera Henrique Borges e o montador Walter Wanny) esta realização foi a única investida de Tony e sua produtora MQ (Marca e Qualidade) no novo estilo.

Com a mesma facilidade que entrou, este gênero como diversos de sua época saiu de cena do cinema nacional para nunca mais entrar. Pelo menos até agora.

FILMOGRAFIA DO BRAZILIAN NAZIEXPLOTATION:
1968- Os Carrascos Estão Entre Nós, de Adolpho Chadler
1974- Lílian M, Relatório Confidencial, de Carlos Reichenbach
1975-76- Aleluia Gretchen, de Silvio Back
1980- O Último Cão de Guerra, de Tony Vieira




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