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Especial Sessão Inesquecível

TUBARÃO
Direção: Steven Spielberg
Jaws, EUA, 1975.

Por Marcelo Carrard

Existem momentos absolutamente marcantes na formação de nossa cinefilia. Das muitas recordações de minha infância, em que descobri o Cinema pelas mãos da Disney e por reprises de clássicos como O Mágico de Oz, um momento transformador ocorreu quando eu tinha nove anos de idade e fui assistir ao grande fenômeno de bilheteria daquele ano: 1975: TUBARÃO, dirigido pelo então iniciante Steven Spielberg. Era um dia de sol em Porto Alegre, como em toda família gaúcha genuína, era dia de churrasco, um domingo. Mas tudo começou dias antes com intensidade para mim...

Antes do “Histórico” domingo chegar, já vivia o clima de bombardeio na TV e no rádio sobre o tal filme de um tubarão assassino que todo mundo estava indo ver. Na escola muitos colegas ainda não tinham visto, por causa da censura que era de 14 anos. Me lembro de um tio, o Heraldo, irmão de meu pai comentando sobre o filme com outro tio, o Paulo, irmão de minha mãe, sobre uma cena do filme onde os atores estavam examinando um barco e uma cabeça saía de um buraco no casco do tal barco. Passei todas as noites sonhando com a tal cena, imaginando como seria. De repente chegou o tal domingo. Depois do churrascão fui levado ao Cine Baltimore por meu tio e padrinho José, irmão mais velho de minha mãe, e minha madrinha casada com ele, a Osana. Junto foi o já citado tio Paulo, já falecido e que foi responsável direto pelo meu amor incondicional ao Cinema e que por muitos anos me apresentou grandes filmes, tenho uma saudade doída dele....

A chegada ao Cinema foi um espetáculo inesquecível. O cartaz com aquele tubarão enorme e a moça nadando no alto, as filas gigantescas, me lembro claramente de como me senti o máximo por conseguir entrar na sessão, mesmo tendo nove anos de idade. Era uma insanidade total, sessões lotadas uma depois da outra e os gerentes nem tinham como controlar a idade dos espectadores. Quando o filme começou fui apresentado a emoções desconhecidos de medo e tensão, que me agradaram bastante. A sequência de abertura de Tubarão é primorosa até hoje. A medida que o filme foi se revelando para mim, me lembro do prazer da descoberta, daqueles planos gerais do mar azul naquela tela enorme. O momento mais aterrador para mim foi o da morte do menino. Sempre gostei do mar, de nadar e ficar muito tempo na água, mas depois de ver aquela sequência senti um pavor e uma identificação muito grande por ser um menino da mesma idade, sendo devorado por um tubarão...

Quando rolou a tal cena da cabeça, foi um susto, uma emoção enorme, havia imaginado dias como seria a tal sequência e superou todas as minhas expectativas. O Gore presente no filme me agradou bastante, não fiquei chocado ou traumatizado. Nascia nesse momento minha predileção especial pelo Horror Cinematográfico, pelas mãos, quem diria, de Steven Spielberg, que para mim, a partir daquele instante era o melhor Diretor do mundo.

O tempo foi passando e centenas de filmes e diretores me emocionaram com grande intensidade, até hoje isso ocorre, mas nunca esquecerei daquele domingo de sol quando fui ver Tubarão. A simplicidade da história, o impacto nas platéias o tornaram o primeiro grande Blockbuster em escala mundial da História do Cinema, e até hoje nenhum filme vendeu mais ingressos do que ele no Brasil. Nossa, quantas recordações, fiquei profundamente emocionado ao recordá-las... É bom, é muito bom ter do que se emocionar...



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