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Especial Augustas
Entrevista com Georgina Castro
Por Gabriel Carneiro
Foto de Tainá Tonolli

Georgina Castro começou no cinema com O Céu de Suely, de Karin Aïnouz. Isso foi em 2006, e no filme ela é a amiga prostituta Georgina da personagem Hermila. Na realidade, Georgina, teoricamente, deveria ser a personagem principal. Isso não impediu, porém, que Chiquinho a escalasse para o longa que planejava, o Augustas. Georgina é de um simpatia extrema, vertendo suas interpretações da personagem Jane para os leitores da Zingu!.

Z – Como se deu o convite para trabalhar no Augustas? Você já conhecia o Chiquinho?

GC – Não. Na verdade, o Chiquinho tinha visto um outro filme que eu fiz, O Céu de Suely, e, então, ele me convidou para fazer o filme, pois, segundo ele, já me via na personagem. E surgiu assim, no final do ano passado.

Z – Você é daqui de São Paulo?

GC – Não, eu sou cearense, mas moro aqui já faz três anos.

Z – Como está sendo trabalhar com o Chiquinho, com a produção do Augustas?

GC – Ah, uma delícia. É o que sempre falo: essa equipe é muito tranqüila. Acho que por terem uma segurança naquilo que querem. Não há muito stress - dentro do possível, é claro, porque sempre tem em cinema -, mas é tudo muito gostoso de se fazer. Fazemos meio que brincando.

Z – Como foi encarnar a personagem de uma prostituta?

GC – Na verdade, a Jane não é uma prostituta. Ela se torna uma, tanto que a última cena dela, tem essa explosão [a cena do beijo]. Ela passa o filme todo tentando algo. Ela já havia morado em São Paulo, e aí foi para essa cidade, Nova Jijoca, cidade dela, que é no interior, no meio do nada. No filme, não se é especificado onde a cidade fica, pode ser no interior de qualquer lugar do Brasil. Ela quer sair daquela cidade, quer voltar para São Paulo, e o Alex é essa ponte para ela. Ela vem para trabalhar na casa do Alex - ele acha que Jane vai dar uma base para ele, uma segurança. Só que ela já vem com outras pretensões. (risos) Ela meio que usa ele no filme um pouquinho. (risos) Mas ela gosta dele.

Z – Como está sendo viver nessa história semi-biográfica?

GC – Há aspectos que são meus. Quando você consegue usar coisas tuas, pessoais, para a personagem, que é outra pessoa, é muito gostoso. Nós temos uma história, Jane é de outra cidade e vem para cá, como eu. Por ser uma personagem que existiu mesmo, torna tudo mais interessante - é muito legal mesmo! No começo, o Chiquinho não queria que lêssemos o livro. E eu sempre quis lê-lo. Quando começaram as filmagens, ele disse: “pode ler o livro”. Eu li e fiquei imaginando que essa história aconteceu mesmo, que essa pessoa existe. Quis saber mais dela, o que aconteceu com ela, se ela ainda é prostituta...

Z – O fato de ter lido o livro alterou a construção da personagem?

GC – Acrescenta. Tem que se ter o cuidado para não confundir: há várias coisas que estão no livro, mas não estão no filme. Claro, não é possível colocar tudo. Mas, para mim, acrescentou muito, que não estava no roteiro, mas estava subentendido. Na construção da personagem, o que a levou a se tornar prostituta, porque fez isso. Ela quer muito voltar para São Paulo, é a quase a razão dela. São Paulo tem um poder muito forte sobre ela. É uma coisa de São Paulo, ainda mais na Augusta. Você olha aqui e não se sente repreendido. Você faz o que você quer, você se veste como quer. Por ter morado em São Paulo, há esse desejo de liberdade. A personagem tem essa ânsia pela liberdade, tem essa inquietação muito grande. Ela se identifica muito com a cidade.

Z – O filme se passa na década de 80. Você acha que tem muita diferença de hoje para época em que se está filmando?

GC – (risos) Não conheço muito, porque não sou daqui. O que eu sei é o que já vi em filmes, e pelo que as pessoas falam. Não tenho muito essa referência, mas acredito que não mudou tanto não.

Z – Pelo que vi, não se mudou muito o cenário...

GC – Não, e mesmo porque o filme se passa na década de 80, mas não nos prendemos muito à época. Pode se passar agora também. Não tem essa referência que é a década de 80.



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