Especial Augustas
Entrevista com Selma Egrei
Por Gabriel Carneiro
Selma Egrei tem 59 anos de idade e 38 de carreira. Fez EAD-USP (Escola de Artes Dramáticas), e logo começou a fazer filmes na Boca do Lixo. Foram mais de trinta longas, entre eles O Paraíso proibido (1971), de Carlos Reichenbach, seu debut no cinema, O Anjo da Noite (1974), O Desejo (1975), As Filhas do Fogo (1978) e Eros, o Deus do Amor (1982), os quatro de Walter Hugo Khouri – o que a marca até hoje como uma musa do diretor -, A Casa das tentações (1975), de Rubem Biáfora, e Aleluia Gretchen (1976), de Sylvio Back. Trabalhou com Cláudio Cunha, Amacio Mazzaropi, J. Marreco, John Doo, Antônio Calmon, Eduadro Escorel, entre outros. Depois de mais de vinte anos afastada do cinema, ela voltou no passado, em participações especialíssimas. Selma Egrei é uma mulher muito receptiva, com quem conversei muito além do que foi registrado em fita. Uma simpatia só.
Z – Como chegou a você a proposta de fazer o Augustas?
SE – Eu estava fazendo teatro e o Chiquinho e a Lili, que é produtora também, foram assistir à peça [O Relato Íntimo da Madame Shakespeare] e já visualizaram: “nossa, é a MaRuth”. Foram assistir à peça por assistir, e descobriram que o que estava fazendo lembrava muito a personagem que faço no filme. Convidaram-me para fazer, e foi bárbaro. Deu tudo certo.
Z – E como foi voltar a fazer um filme essencialmente paulista - você que fez tantos filmes do Walter Hugo Khouri -, de essência paulista?
Se – É muito bom. Até porque acho que agora o cinema paulista está ganhando um espaço que ele tinha perdido. Agora com a retomada do cinema, o cinema paulista está cada vez com um impulso maior. Eu acho ótimo, lógico. (risos)
Z – Como está sendo essa nova fase de filmes? Já que ficou um bom tempo sem fazê-los...
SE – Eu fiquei bastante tempo, quase 20 anos.
Z – E agora que está voltando, nesses últimos anos...
SE – Estou me entusiasmando outra vez. Eu fiz muita coisa boa e muita coisa ruim em cinema. Cheguei numa fase que dizia “não quero mais”, e então me afastei, não queria mais saber. Agora estou achando muito legal poder voltar, porque é um outro momento do cinema, feito com outra cabeça, com outra consciência. É ótimo!
Z – É muito diferente o fazer cinema hoje e nos anos 70 e 80?
SE – Nossa! É muito diferente! Muito diferente. As dificuldades são as mesmas. Nota-se que tudo é feito na raça, o orçamento é sempre baixo, é sempre curto. Isso continua igual. O cinema agora, porém, é feito com outra cabeça mesmo. São pessoas novas fazendo, e com a perspectiva que não é só comercial - que é o que regia muito o cinema daquela época, o cinema da Boca do Lixo. Era um cinema dominado por um grupo de distribuidores, que eram também os produtores, e tudo era voltado para o lucro.
Z – Mas era um cinema de um orçamento bem mais baixo, e voltados para o maior público, diferentemente de hoje, em que filmes populares têm um orçamento enorme.
SE – Bem, têm as mega produções. Isso é outra história. Eu acho que esse cinema da retomada é isso aí: baixo orçamento, feito com dificuldade, mas que tem o que dizer, que tem o que falar, e com roteiro, sobretudo. Naquela época, tudo era meio sem roteiro. O roteiro era apenas uma indicação do que ia ser feito, mudava-se tudo. Agora tem realmente uma preocupação, um roteiro feito para valer, com gente que entende do negócio. É outra coisa, é outro cinema.
Z – Como está sendo o trabalho aqui?
SE – Bárbaro! O Chiquinho é maravilhoso, e a equipe toda muito afinada com ele. É muito bom! Aqui tem muita emoção também. Toda hora o Chiquinho abraça a gente. Já teve algumas atrizes que encerraram hoje, e foi só abraços. (risos).
Z – Percebi que o clima é bem descontraído, bem tranqüilo...
Se – Muito, muito. Todo mundo se dá bem, todo mundo empolgado em fazer. Não tem um clima de má vontade, de “ai, estou ganhando o meu ganha pão”. Está todo mundo animado de fazer um filme que é legal.
Z – Era assim também na Boca?
SE – Não, não. Tinha uma certa paixão pelo cinema, mas tinha um peso de “estou ganhando o meu pão”.
Z – Nem nos filmes do Khouri? Acho os filmes dele tão passionais.
SE – Ah, sim! Era uma coisa muito especial! Teve um ou outro diretor da época que era muito especial de se trabalhar. O Khouri era um deles. Ele criava algo muito mágico entre a equipe – e a equipe, geralmente, em outras produções, não tinha unidade. Com o Khouri, as coisas se transformavam, porque ele criava um ambiente maravilhoso durante as filmagens com todo mundo. Virava uma família. Era bárbaro.
Z – Aqui também está sendo assim?
SE – Está sim. É diferente, porque com o Khouri, por exemplo, era uma equipe muito reduzida. Ele trabalhava com no máximo oito pessoas na técnica, mais dois na produção. Era uma equipe muito pequena. Agora se é feito com muita gente. É reduzido em comparação com as grandes produções, mas para o que era feito naquela época, é grande. É um clima de festa, toda hora tem festa. É muito bom. Em O Anjo da Noite, do Khouri, a equipe era o [Antônio] Meliande o diretor de fotografia, com o Miro Reis como assistente de câmera, mais dois maquinistas. Isso era a equipe técnica. Tinha o [José] Amaral, que era o still, a Isabel, que era mulher do Amaral, e a continuísta. Tinha um assistente de produção, um motorista, uma menina que fazia figuração... Isso era a equipe. O Eliezer Gomes era o ator, eu era atriz, e tinha uma participação da Lilian Lemmertz. Passava-se numa casa. A casa era o personagem.
Z – Assim como em As Filhas do Fogo, também do Khouri.
SE - As Filhas do Fogo também foi feito todo numa casa em Canela. Teve uma noite que vimos algo estranho, que parou gerador. O filme já tratava de temas sobrenaturais, e de repente aquilo acontece... Parou tudo. (risos).
Z – Qual fora seu último filme?
SE - Meu último filme fora Sonhos de Menina Moça, da Tereza Trautman. Eu já tinha parado de fazer cinema, estava fazendo teatro no Rio, e ela me convidou para fazê-lo. Era um elenco fantástico, mas ela se perdeu completamente.
Z – Está com projetos para um futuro próximo?
SE – Com cinema não. Meus projetos continuam sendo com teatro. Com cinema, vamos ver o que aparece. Agora eu me animei a fazer cinema. Tive uma participação com a Laís Bodanzky [como a falecida, de Chega de Saudade], fiz uma com Carlos Alberto Riccelli [como Celeste, em O Signo da Cidade], e agora com o Chiquinho. Estou gostando novamente.
Selma Egrei tem 59 anos de idade e 38 de carreira. Fez EAD-USP (Escola de Artes Dramáticas), e logo começou a fazer filmes na Boca do Lixo. Foram mais de trinta longas, entre eles O Paraíso proibido (1971), de Carlos Reichenbach, seu debut no cinema, O Anjo da Noite (1974), O Desejo (1975), As Filhas do Fogo (1978) e Eros, o Deus do Amor (1982), os quatro de Walter Hugo Khouri – o que a marca até hoje como uma musa do diretor -, A Casa das tentações (1975), de Rubem Biáfora, e Aleluia Gretchen (1976), de Sylvio Back. Trabalhou com Cláudio Cunha, Amacio Mazzaropi, J. Marreco, John Doo, Antônio Calmon, Eduadro Escorel, entre outros. Depois de mais de vinte anos afastada do cinema, ela voltou no passado, em participações especialíssimas. Selma Egrei é uma mulher muito receptiva, com quem conversei muito além do que foi registrado em fita. Uma simpatia só.
Z – Como chegou a você a proposta de fazer o Augustas?
SE – Eu estava fazendo teatro e o Chiquinho e a Lili, que é produtora também, foram assistir à peça [O Relato Íntimo da Madame Shakespeare] e já visualizaram: “nossa, é a MaRuth”. Foram assistir à peça por assistir, e descobriram que o que estava fazendo lembrava muito a personagem que faço no filme. Convidaram-me para fazer, e foi bárbaro. Deu tudo certo.
Z – E como foi voltar a fazer um filme essencialmente paulista - você que fez tantos filmes do Walter Hugo Khouri -, de essência paulista?
Se – É muito bom. Até porque acho que agora o cinema paulista está ganhando um espaço que ele tinha perdido. Agora com a retomada do cinema, o cinema paulista está cada vez com um impulso maior. Eu acho ótimo, lógico. (risos)
Z – Como está sendo essa nova fase de filmes? Já que ficou um bom tempo sem fazê-los...
SE – Eu fiquei bastante tempo, quase 20 anos.
Z – E agora que está voltando, nesses últimos anos...
SE – Estou me entusiasmando outra vez. Eu fiz muita coisa boa e muita coisa ruim em cinema. Cheguei numa fase que dizia “não quero mais”, e então me afastei, não queria mais saber. Agora estou achando muito legal poder voltar, porque é um outro momento do cinema, feito com outra cabeça, com outra consciência. É ótimo!
Z – É muito diferente o fazer cinema hoje e nos anos 70 e 80?
SE – Nossa! É muito diferente! Muito diferente. As dificuldades são as mesmas. Nota-se que tudo é feito na raça, o orçamento é sempre baixo, é sempre curto. Isso continua igual. O cinema agora, porém, é feito com outra cabeça mesmo. São pessoas novas fazendo, e com a perspectiva que não é só comercial - que é o que regia muito o cinema daquela época, o cinema da Boca do Lixo. Era um cinema dominado por um grupo de distribuidores, que eram também os produtores, e tudo era voltado para o lucro.
Z – Mas era um cinema de um orçamento bem mais baixo, e voltados para o maior público, diferentemente de hoje, em que filmes populares têm um orçamento enorme.
SE – Bem, têm as mega produções. Isso é outra história. Eu acho que esse cinema da retomada é isso aí: baixo orçamento, feito com dificuldade, mas que tem o que dizer, que tem o que falar, e com roteiro, sobretudo. Naquela época, tudo era meio sem roteiro. O roteiro era apenas uma indicação do que ia ser feito, mudava-se tudo. Agora tem realmente uma preocupação, um roteiro feito para valer, com gente que entende do negócio. É outra coisa, é outro cinema.
Z – Como está sendo o trabalho aqui?
SE – Bárbaro! O Chiquinho é maravilhoso, e a equipe toda muito afinada com ele. É muito bom! Aqui tem muita emoção também. Toda hora o Chiquinho abraça a gente. Já teve algumas atrizes que encerraram hoje, e foi só abraços. (risos).
Z – Percebi que o clima é bem descontraído, bem tranqüilo...
Se – Muito, muito. Todo mundo se dá bem, todo mundo empolgado em fazer. Não tem um clima de má vontade, de “ai, estou ganhando o meu ganha pão”. Está todo mundo animado de fazer um filme que é legal.
Z – Era assim também na Boca?
SE – Não, não. Tinha uma certa paixão pelo cinema, mas tinha um peso de “estou ganhando o meu pão”.
Z – Nem nos filmes do Khouri? Acho os filmes dele tão passionais.
SE – Ah, sim! Era uma coisa muito especial! Teve um ou outro diretor da época que era muito especial de se trabalhar. O Khouri era um deles. Ele criava algo muito mágico entre a equipe – e a equipe, geralmente, em outras produções, não tinha unidade. Com o Khouri, as coisas se transformavam, porque ele criava um ambiente maravilhoso durante as filmagens com todo mundo. Virava uma família. Era bárbaro.
Z – Aqui também está sendo assim?
SE – Está sim. É diferente, porque com o Khouri, por exemplo, era uma equipe muito reduzida. Ele trabalhava com no máximo oito pessoas na técnica, mais dois na produção. Era uma equipe muito pequena. Agora se é feito com muita gente. É reduzido em comparação com as grandes produções, mas para o que era feito naquela época, é grande. É um clima de festa, toda hora tem festa. É muito bom. Em O Anjo da Noite, do Khouri, a equipe era o [Antônio] Meliande o diretor de fotografia, com o Miro Reis como assistente de câmera, mais dois maquinistas. Isso era a equipe técnica. Tinha o [José] Amaral, que era o still, a Isabel, que era mulher do Amaral, e a continuísta. Tinha um assistente de produção, um motorista, uma menina que fazia figuração... Isso era a equipe. O Eliezer Gomes era o ator, eu era atriz, e tinha uma participação da Lilian Lemmertz. Passava-se numa casa. A casa era o personagem.
Z – Assim como em As Filhas do Fogo, também do Khouri.
SE - As Filhas do Fogo também foi feito todo numa casa em Canela. Teve uma noite que vimos algo estranho, que parou gerador. O filme já tratava de temas sobrenaturais, e de repente aquilo acontece... Parou tudo. (risos).
Z – Qual fora seu último filme?
SE - Meu último filme fora Sonhos de Menina Moça, da Tereza Trautman. Eu já tinha parado de fazer cinema, estava fazendo teatro no Rio, e ela me convidou para fazê-lo. Era um elenco fantástico, mas ela se perdeu completamente.
Z – Está com projetos para um futuro próximo?
SE – Com cinema não. Meus projetos continuam sendo com teatro. Com cinema, vamos ver o que aparece. Agora eu me animei a fazer cinema. Tive uma participação com a Laís Bodanzky [como a falecida, de Chega de Saudade], fiz uma com Carlos Alberto Riccelli [como Celeste, em O Signo da Cidade], e agora com o Chiquinho. Estou gostando novamente.