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Coluna CINEMA Extremo
Especial Russ Meyer

Por Marcelo Carrard

Mondo Topless
Direção: Russ Meyer
EUA, 1966.

Em 1962, o trio de diretores italianos: Paolo Cavara, Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi, lançaram o Documentário MONDO CANE, que popularizou o específico gênero de documentários que exploram imagens de atrocidades e hábitos bizarros e grotescos ao redor do mundo. Esse tipo de produção fez escola e o termo MONDO se popularizou como símbolo do Cinema Exploitation em geral, sem esquecer de seu significado formal em italiano que significa MUNDO. Uma série de filmes com o termo MONDO passaram a ser lançados, mesmo sem ter o nome original, mais para pegar carona no sucesso mundial de MONDO CANE, no Brasil: MUNDO CÃO. Aliás o termo MUNDO CÃO, surgiu no Brasil depois que os diretores do filme deram uma entrevista para o saudoso Homem do Sapato Branco: Jacinto Figueira Filho, em seu popular programa de TV no início dos anos 60.

A questão da sexualidade também foi explorada nesses documentários MONDO. Muito antes do lançamento de NOITES ERÓTICAS DO MUNDO, produzido por Bruno Mattei e Joe D’Amato, ainda nos anos 60 nosso querido RUSS MEYER lança seu clássico exploitation absoluto: MONDO TOPLESS, em 1966, nossa ! o ano em que eu nasci ! interessante isso... Bem, falando sério, para quem realmente quer compreender ou pesquisar mais profundamente o que é o genuíno Cinema Exploitation, MONDO TOPLESS é daqueles filmes básicos, obrigatórios. Aparentemente o que vemos é o registro quase ininterrupto de mulheres peitudas desfilando, ao som de uma trilha-sonora sensacional. Usando o formato do Documentário, Meyer exercita em plena América dos anos 60 toda sua anárquica subversão, explorando a “preferência nacional” dos homens norte-americanos, ou seja: PEITÕES FEMININOS. Se Meyer fosse brasileiro certamente o que veríamos seria um mega desfile de bundas, das grandes e empinadas desfilando na praia.

Muitas das Pin Ups de peitos avantajados eternizadas por Meyer desfilam pelos cenários de MONDO TOPLESS: PAT BARRINGTON, BABETTE BARDOT, SIN LENEE, DARLENE GREY, DIANE YOUNG entre outras beldades. Meyer fundamenta sua obra nesse filme escolhendo suas vestais que se repetirão nas suas produções seguintes. Muitos críticos falam que MONDO TOPLESS é um falso documentário onde praticamente nada acontece a não ser o desfile das mulheres. Em uma primeira análise superficial até pode ser, mas o filme tem suas qualidades e principalmente uma grande importância histórica para as análises do Cinema Exploitation Clássico. Nadando contra a corrente das vanguardas intelectuais européias dos anos 60 que pareciam ser as únicas produções dignas de atenção da crítica, Meyer optou por ser marginal como cineasta, deixando para a posteridade o reconhecimento de seu trabalho como autor.

No filme MAMÃE É DE MORTE de JOHN WATERS existe uma sequência onde um garoto está no quarto se masturbando ao ver um filme com mulheres peitudas. O tal filme é simplesmente MONDO TOPLESS. Meyer rodou o filme em San Francisco, onde retratou o cotidiano de strippers onde as tais moças entre um desfile e outro de seus peitos falam sobre a vida e suas visões peculiares sobre os homens. Mesmo com o excesso de exploração do corpo feminino o documentário traz a ousada possibilidade de mostrar as mulheres falando sobre os homens, uma ousadia para 1966, ainda mais um grupo de mulheres marginalizadas em uma sociedade extremamente conservadora. Ou seja, uma leitura sem preconceitos de MONDO TOPLESS pode reservar muitas surpresas, basta se desarmar de preconceitos e descobrir essa obra fundadora de Meyer que ainda hoje surpreende.




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