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Coluna do Biáfora

MENINO DO RIO

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

Um “garotão” granfininho Ipanema (o sintomático André De Biase) está praticando “asa delta”, sob as vistas da “turma” mais “carioquenta” que possa haver (um inacreditável Sérgio Mallandro, Tânia Boscoli, Evandro Mesquita, Cissa Guimarães, até o guri Antonio Duarte), quando um menino pobre, ingênuo e sonhador, mas não tão modesto que não pense em passar a vida como surfista no Hawai e “astro” possivelmente da TV Globo, que veio de Santa Catarina mas fala e se apresenta como o mais traquejado copacabanal ou ipanemense freqüentador do antigo “Beco das Garrafas” (Ricardo Graça Mello, também inacreditável) que imediatamente é atropelado e adotado pelo “entourage” de De Biase (Valente, realmente um príncipe Valente de seu grupo, menino “bem”, futuro namorado de uma granfina que já tem noivo – Cláudia Magno, irregular, porém às vezes jeitosa - mas se julgava apaixonada pelo pai do herói, o também incrível Adriano Reys). Tudo é incrível, tudo é ora, ora, tudo é oba, oba, nesta fita que Antonio Calmon dirigiu (com o parcial artesanato de sempre) para o clã dos Barreto (os pais Lucy e Luis Carlos e o herdeiro I, Bruno) e que Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, segundo o folheto, consideram uma “volta à pureza do antes tão combatido cinema de “glamour” e escapismo e até mesmo como um tiro de justiça contra o “monopólio do marketing dos capitalistas”, contra a “alienação” (mesmo sendo a própria, segundo durante anos eles sempre “atacaram”) e conseguindo ser até mesmo “um filme político sobre surf, feras e gatinhas “e que” ensina que os artistas brasileiros devem recuperar a sua juventude”. Calmon escreve que o filme recupera o “romantismo” (?) que ele tinha e externava ao tempo de sua estréia (1970) com “O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil”. Alguém entendeu? Nós não. Apenas lembramos que um dia alguém já disse que a cinemanovice era filha direta e dileta(via janguismo) do Estadonovismo.

* Publicado originalmente no O Estado de S. Paulo de 10 de janeiro de 1982



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