html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
Dossiê Julius Belvedere

O Castelo das Taras
Direção: Julius Belvedere
Brasil, 1982.

Por Matheus Trunk

O começo dos anos 80 foi um dos períodos mais interessantes da história do cinema paulista. A Boca do Lixo funcionava a todo vapor produzindo filmes e mais filmes a “toque de caixa e a todo vapor”. Foi justamente nesse cenário que o então professor universitário Russel da Silva Ribeiro com o pseudônimo de Julius Belvedere dirigiu o seu único longa-metragem: “O Castelo das Taras”.

Uma professora universitária (Esmeralda de Barros) leva três jovens e lindas alunas a procurar um ambiente adequado ás suas pesquisas de parapsicologia e ciências ocultas. Elas encontrarão um castelo numa pequena cidade do interior paulista, onde a professora invocará o espírito do Marquês de Sade que irá tomar o corpo e a alma de um jovem inocente da região (Dorival Coutinho). Ele iniciará uma série de crimes contra as pobres moças.

Durante a exibição do longa, se percebe a tentativa de Belvedere em fazer um filme de gênero. Com toda certeza, foram poucas as tentativas “sérias” de se realizar uma película de terror em São Paulo na época. Do meio para o final, o filme ganha corpo e tem diversos pontos fortes.

Com toda certeza, uma delas é o trabalho de câmera do diretor de fotografia Mastrocola (hoje grande técnico de publicidade). Muitas vezes, os closes em torno do castelo conseguem impregnar algum tom de terror que dão riqueza ao filme. A edição do professor Máximo Barro também ajuda a dar sentido á história.

Porém, o elenco não é dos mais fortes. A exceção é a experiente musa Esmeralda de Barros que tinha feito muitos papéis no cinema italiano e mesmo em pornochanchadas como “O Bem Dotado - O Homem de Itu”. Todo o restante é feito por atrizes verdadeiramente semi-amadoras, que não consegue fazer grandes coisas pelo longa.

Do meio para o final, o filme decai e se tem a impressão de algo estar fora do lugar. Dorival Coutinho, ator principal e também produtor desta fita nunca foi um dos mais expressivos produtores paulistas. Seu orçamento sempre bastante foi reduzido e ele sempre realizou seus trabalhos com muita garra e brilho. Fez poucos filmes e seu grande sucesso de bilheteria e público foi mesmo este “Castelo das Taras” que foi lançado originalmente no importantíssimo Cine Marabá, no centro de São Paulo. Com a chegada do cinema explícito, pequenos e esforçados apaixonados pelo cinema como ele, saíram do campo para nunca mais voltarem.

O mesmo aconteceu com Julius Belvedere. Se o realizador tivesse mais tempo, poderia ter sido um dos mais originais diretores da Boca do Lixo paulistana. Inteligência, talento e vocação este cineasta hoje morador de Mairiporã, sempre teve. Infelizmente, o cinema de sexo explícito tirou do meio cinematográfico paulista e brasileiro grandes e interessantes pessoas como ele, Luiz Castillini, Ewerton de Castro, David Cardoso, Manoel Paiva, entre outros.

A cópia de “O Castelo das Taras” pode ser achado em VHS em algumas locadoras podreiras e em sites de vendas para colecionadores como o Putrescine. Mesmo assim, deve-se entender que a cópia já teve dias melhores e está num resultado no máximo razoável.



<< Capa