Pequenos grandes homens: o problema dos curtas
Por Filipe Chamy
Um Cão Andaluz, de Luís Buñuel
Qual o problema dos curtas?
Aparentemente, nenhum. Mas por que então essa resistência do público em geral? Sim, a palavra é essa: resistência. A verdade é que curtas (e médias) são filmes quase sempre marginalizados ante os tão poderosos longa-metragens. Não se sabe bem por quê. Na verdade, deve ser uma questão de estatística. Pouquíssimas pessoas se dão o trabalho de procurar filmes de até meia hora para verem. Não baixam na Internet. Não alugam. Não vêem em mostras. Esperam, quando muito, passar na TV. Talvez um extra de algum DVD. Ou vêem coisa ou outra no YouTube.
É admirável o quanto os curtas são preteridos, em face dos filmes de maior metragem. O pessoal que faz listas nunca os anota. Vocês não verão nas relações dos melhores filmes do ano curta-metragens. Se uma pessoa vê um curta e você pergunta a ela que filme ela viu no dia anterior, ela vai falar um preguiçoso: “ah, não vi nenhum filme”. Até alguns cineastas (!) e críticos subestimam curtas, pois quando falam dos primeiros trabalhos de alguns diretores pulam direto para o primeiro longa da filmografia. Assim, o primeiro filme de François Truffaut não é Une visite, mas Os incompreendidos. Quentin Tarantino não estreou com My best friend’s birthday, mas com Cães de aluguel. Andrei Tarkovsky deu seu primeiro passo com A infância de Ivan, não The killers. Muitos cinéfilos não procuram os curtas que completam a filmografia de seus diretores favoritos.
Aparentemente, nenhum. Mas por que então essa resistência do público em geral? Sim, a palavra é essa: resistência. A verdade é que curtas (e médias) são filmes quase sempre marginalizados ante os tão poderosos longa-metragens. Não se sabe bem por quê. Na verdade, deve ser uma questão de estatística. Pouquíssimas pessoas se dão o trabalho de procurar filmes de até meia hora para verem. Não baixam na Internet. Não alugam. Não vêem em mostras. Esperam, quando muito, passar na TV. Talvez um extra de algum DVD. Ou vêem coisa ou outra no YouTube.
É admirável o quanto os curtas são preteridos, em face dos filmes de maior metragem. O pessoal que faz listas nunca os anota. Vocês não verão nas relações dos melhores filmes do ano curta-metragens. Se uma pessoa vê um curta e você pergunta a ela que filme ela viu no dia anterior, ela vai falar um preguiçoso: “ah, não vi nenhum filme”. Até alguns cineastas (!) e críticos subestimam curtas, pois quando falam dos primeiros trabalhos de alguns diretores pulam direto para o primeiro longa da filmografia. Assim, o primeiro filme de François Truffaut não é Une visite, mas Os incompreendidos. Quentin Tarantino não estreou com My best friend’s birthday, mas com Cães de aluguel. Andrei Tarkovsky deu seu primeiro passo com A infância de Ivan, não The killers. Muitos cinéfilos não procuram os curtas que completam a filmografia de seus diretores favoritos.
Há alguns casos que ultrapassam a fronteira da incoerência e da compreensão. Diretores que possuem importantíssima obra consagrada aos curtas, sendo que alguns deles têm até uma porção volumosa de suas carreiras dedicada a esses pequenos filmes menosprezados (ou sequer percebidos). Buster Keaton, o grande gênio surrealista da comédia muda, é um deles. Fez dezenas de curtas, a maioria de altíssima qualidade, que nada devem a seus longas famosos. E médias também. Sherlock Jr., Vizinhos vigilantes e My wife’s relations são algumas de suas pérolas injustiçadas, lindíssimas obras que não perdem em nada frente a filmes de maior duração. Outro artista, mais radical na experiência do surrealismo, Jan Svankmajer, teve ainda maior intimidade com essa forma de expressão: em sua brilhante carreira, os poucos longas dividem espaço com inúmeros curtas, divertidos, bem realizados e profundamente atraentes. Destacam-se, por exemplo, Food, Darkness/light/darkness e Dimensions of dialogue. Mais um cineasta que viveu quase que exclusivamente de curta-metragens? O mestre Norman McLaren, um dos maiores pensadores da questão som versus imagem no cinema, e sem dúvida um dos animadores mais importantes de todos os tempos. Seus principais trabalhos incluem filmes sobre balé e desenhos experimentais e metafísicos, como Synchromy, Neighbours e Blinkity blank.
Mas talvez o nome mais incisivo seja o de Luis Buñuel, cineasta que, com méritos, sempre é citado no panteão dos deuses da sétima arte, e que começou com um curta-metragem, o polêmico e ainda hoje bizarro Um cão andaluz. Experiência única, de nível sensorial abstrato e sem qualquer tipo de amparo lógico ou explicação temática plausível, tornou-se um dos mais influentes, debatidos e copiados filmes de todos os tempos, estudado, analisado e dissecado em todos os seus aspectos, muitas vezes reverenciado e referenciado como o ápice do diretor.
Cinema não tem época, gênero nem nacionalidade. Os bons filmes continuam sendo feitos, assim como as obras-primas e as mediocridades e lixos. Mas as pessoas devem abrir suas cabeças e ver filmes pelo que eles são, e não pela forma com que se apresentam. É triste notar o tratamento dado aos curtas, até por gente que diz gostar de cinema.
Mas talvez o nome mais incisivo seja o de Luis Buñuel, cineasta que, com méritos, sempre é citado no panteão dos deuses da sétima arte, e que começou com um curta-metragem, o polêmico e ainda hoje bizarro Um cão andaluz. Experiência única, de nível sensorial abstrato e sem qualquer tipo de amparo lógico ou explicação temática plausível, tornou-se um dos mais influentes, debatidos e copiados filmes de todos os tempos, estudado, analisado e dissecado em todos os seus aspectos, muitas vezes reverenciado e referenciado como o ápice do diretor.
Cinema não tem época, gênero nem nacionalidade. Os bons filmes continuam sendo feitos, assim como as obras-primas e as mediocridades e lixos. Mas as pessoas devem abrir suas cabeças e ver filmes pelo que eles são, e não pela forma com que se apresentam. É triste notar o tratamento dado aos curtas, até por gente que diz gostar de cinema.