html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
RUÍDO

BOB DYLAN - BLONDE ON BLONDE

Por Laís Clemente

Blonde on Blonde, considerado por muitos críticos um dos melhores álbuns de Bob Dylan, foi lançado em um período conturbado da vida do artista. Houve perda de aceitação de seu antigo público, resultante de seus álbuns folk-rock (Highway 61 revisited e Bringing it all back home), somada aos conflitos constantes de Dylan com a imprensa; e as pressões por um novo lançamento, culminaram em uma crise emocional.

Em 66, Dylan lançaria Blonde on Blonde, disco em que ele continua a negar a necessidade de ser o poeta-profeta do folk e se embrenha no mundo do blues e do folk-rock.

Analisemos a capa do disco: na imagem acima, pode-se ver um Dylan desfocado - e não identificado -, e apenas o logotipo da gravadora, a Columbia, é revelado no álbum, como que para indicar que não é o mesmo artista de gravações passadas que realizou essa obra. Mas será que já se conheceu alguma vez a real faceta de Dylan? Em entrevistas, quando perguntado sobre o significado de suas letras, o músico sempre respondia: “O que você acha que elas significam? Eu sei lá, eu só as escrevo”. O que dizer sobre o trabalho de um artista tão enigmático?

Começar do início talvez seja o mais sensato. É em clima circense que o álbum se inicia: em Rainy Day Woman #12 & 35, Dylan prega que todos devem ficar chapados. O chapado, além de, logicamente, fazer referência aos alucinógenos consumidos não só por Dylan, mas por qualquer artista de sua época, é uma alusão aos relacionamentos amorosos. Em relações conturbadas, ou “de dia de chuva”, a privacidade cai por terra e, como os metais parecem indicar, tudo vira palhaçada. Mesmo assim, segundo Dylan, ficar sozinho não é muito sábio: “todo mundo deve ficar doidão!”, prega. Quanto aos enigmáticos números 12 & 35, em versão mais oficial, tratar-se-iam das idades que o músico calculou para duas mulheres que entraram no estúdio de gravação em dia de chuva. Em uma interpretação menos oficial 420, o resultado da multiplicação dos dois números, seria uma alusão a 4:20, o horário em que os estudantes californianos costumavam fumar maconha, para que não fossem descobertos por seus pais.

Durante os 4 minutos e 56 segundos de Visions of Johanna, uma canção sem refrão, o eu-lírico é assombrado por Johanna, por museus, por lotes vazios e por lofts, enquanto ao mesmo tempo a procura por esses lugares. Louise, sua companheira, apesar de delicada, não é enigmática como Johanna, é “como seu reflexo no espelho”, e insiste em dizer friamente que Johanna não está onde seu amado pensa enxergá-la. No museu, mesmo que toda a história da humanidade passe por seus olhos, ele mais uma vez só consegue pensar em Johanna, parecendo por vezes, se esquecer que Louise está ao seu lado.

Como toda música tem sua história, Visions of Johanna teria sido escrita por Dylan para aquela que seria sua primeira esposa, Sara, enquanto o cantor ainda namorava a cantora Joan Baez. No entanto, em 75, Baez escreveu uma resposta à Visions of Johanna, Winds of the Old Days, acreditando ser ela a Johanna da canção.

Outro destaque do álbum é I want you, uma das poucas músicas de Dylan com uma pegada realmente pop. O ritmo balançante e a melodia conquistam mesmo os avessos às longas letras de Dylan. E por falar em letra, esta - ao menos aparentemente - parece não ter nenhuma alusão às drogas, o que faz com que ela atraia também ouvintes um tanto quanto mais caretas. Trata-se de uma perseguição amorosa, em que tudo conspira para que o sentimento se concretize: políticos, salvadores, uma criança de terno. A música chegou ao Top 20, em 66. Não foi a única canção do álbum a atingir uma boa colocação nas paradas. Blonde on Blonde, mesmo mantendo a tendência da pegada rock e blues (não condizente com o início de sua carreira), e sem fazer as habituais críticas à sociedade, vendeu mais de dez milhões de cópias e colocou a música Rainy day woman #12 &35 na lista dos Top Ten. Vai entender...



<< Capa