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Dossiê Guilherme de Almeida Prado

A Hora Mágica
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Brasil, 1998.

Por Marcelo Carrard

Dentro da filmografia de Guilherme de Almeida Prado, A Hora Mágica é o mais singular. Totalmente diferenciado de suas obras anteriores, o filme era, na verdade, um projeto antigo do cineasta. Livre adaptação do conto de Julio Cortázar, o filme desvenda o universo clássico da Era do Rádio e sua transição para o mundo da Televisão, em que também vemos, novamente, elementos metalingüísticos, quando surge em cena o mundo dos bastidores do cinema. É uma obra sobre o início da “Era da Imagem”, em que a voz, único suporte de expressão para os atores das radionovelas, passa a necessitar da imagem com a popularização da TV. No rádio, nem sempre a voz combinava com a imagem física dos atores e muitos “galãs” perderam a sua mágica, o mistério de uma imagem construída pelo imaginário dos ouvintes. O glamour da Era Dourada de Hollywood está presente em cena, na elaborada representação estética das atrizes que surgem como um decalque das Divas do Cinema Clássico norte-americano. O figurino, a maquiagem, tudo possui um ar de requinte, algumas vezes discreto e em outras, bem mais acentuado. A ambientação da trama na década de 50, além de reafirmar toda a homenagem ao universo do Cinema Clássico de Hollywood, marca a questão da chegada à metade do século XX e o surgimento de uma nova forma de difusão de imagens, que mescla dois meios popularizados mundialmente na primeira metade do século: o rádio e o cinema.

No elenco de A Hora Mágica, temos atores que costumam colaborar com Guilherme, como Raul Gazola, que aparece em Perfume de Gardênia, sua musa Maitê Proença, o veterano José Lewgoy e Julia Lemmertz. Um dos pontos altos da produção é sua impecável direção de fotografia, que ficou a cargo de Jean-Benoit Crépon. A textura das imagens, a luz do filme tem uma grande força narrativa. A trama romântica central do casal: Lucia/Tito, interpretados por Lemmertz e Gazola, tem uma interessante densidade dramática e a química entre os atores é muito intensa. Existe uma interessante referência às chanchadas na seqüência do Baile á Fantasia. Do universo de Cortazar, ficaram poucos e sutis elementos. A questão da dublagem e da montagem e suas repetições, o ator com voz engraçada e que nada combina com seu papel de herói, mostra muito claramente os bastidores de uma filmagem. Tanto em A Dama do Cine Shanghai quanto em Perfume de Gardênia, Guilherme parece demonstrar um fascínio por contar histórias de filmes dentro de filmes. Inclusive em Onde Andará Dulce Veiga? essa questão da metalinguagem está onipresente.

A Hora Mágica é um filme de acabamento mais perfeito que os filmes anteriores do diretor. Como produção, não tem praticamente falhas e possui até um certo tom envernizado. Fruto de uma geração de filmes marcada pelo “Renascimento do Cinema Brasileiro”, A Hora Mágica tem um roteiro elaborado, bem trabalhado e o resultado final é menos intuitivo. Porém, tem grandes méritos artísticos e configura um amadurecimento de Guilherme como autor. No elenco, aparecem dois destaques femininos: Imara Reis e Tânia Alves, que estão ótimas em cena. Outro grande destaque do elenco é a lenda viva da Boca do Lixo, com quem Guilherme trabalhou em clássicos como Pornô! e Aqui, Tarados!: o ator, produtor e diretor David Cardoso.



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