Dossiê Guilherme de Almeida Prado
As Taras de Todos Nós
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Brasil, 1981.
Por Sergio Andrade
Depois de ter feito seu “curso de cinema” nas ruas da Boca do Lixo, tendo como professores o diretor de fotografia Cláudio Portiolli e diretores como Ody Fraga e José Adalto Cardoso, entre outros, Guilherme de Almeida Prado estava pronto para por em prática tudo o que havia aprendido com esses mestres. Em 1981, ele produz, escreve e dirige As Taras de Todos Nós, seu primeiro longa-metragem dividido em três episódios.
Vi o filme nessa época, e nunca mais revi. Ele sumiu de circulação e só recentemente fiquei sabendo, pelo Gabriel Carneiro, que existe apenas duas cópias na Cinemateca – uma em 16mm e outra em 35mm. Nem mesmo o Guilherme tem.
Coube a mim escrever sobre As Taras de Todos Nós, que é, na verdade um exercício de lembrança. Vamos a ele, então.
De início, o que mais me surpreendeu foi a sofisticação empregada num produto típico da Boca, com enquadramentos caprichados, bela fotografia, cenários bem cuidados, diálogos bem escritos (o que deve ter causado estranhamento nos espectadores que procuravam apenas o básico daquelas produções).
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Brasil, 1981.
Por Sergio Andrade
Depois de ter feito seu “curso de cinema” nas ruas da Boca do Lixo, tendo como professores o diretor de fotografia Cláudio Portiolli e diretores como Ody Fraga e José Adalto Cardoso, entre outros, Guilherme de Almeida Prado estava pronto para por em prática tudo o que havia aprendido com esses mestres. Em 1981, ele produz, escreve e dirige As Taras de Todos Nós, seu primeiro longa-metragem dividido em três episódios.
Vi o filme nessa época, e nunca mais revi. Ele sumiu de circulação e só recentemente fiquei sabendo, pelo Gabriel Carneiro, que existe apenas duas cópias na Cinemateca – uma em 16mm e outra em 35mm. Nem mesmo o Guilherme tem.
Coube a mim escrever sobre As Taras de Todos Nós, que é, na verdade um exercício de lembrança. Vamos a ele, então.
De início, o que mais me surpreendeu foi a sofisticação empregada num produto típico da Boca, com enquadramentos caprichados, bela fotografia, cenários bem cuidados, diálogos bem escritos (o que deve ter causado estranhamento nos espectadores que procuravam apenas o básico daquelas produções).
No primeiro episódio, por exemplo, O Uso Prático dos Pés, a parte do corpo que mais se via daquela que era uma das mulheres mais desejadas e despidas da pornochanchada, Matilde Mastrangi, eram justamente os pés. O mais incrível era constatar que os pés dela poderiam ser tão, ou mais, excitantes que sua bunda! Uma ode ao fetichismo.
Confesso que não lembro de absolutamente nada do segundo episódio, A Tesourinha, no qual um viúvo tem como hábito colecionar os pêlos pubianos de suas parceiras, até o dia em que recebe a visita de uma sobrinha disposta a conquistá-lo. Como se percebe, Guilherme antecipa em alguns anos o Marquês em La Escopeta Nacional, de Luis G. Berlanga, e o João de Deus em A Comédia de Deus, de João César Monteiro, que tinham a mesma mania de colecionar esse tipo de preciosidade.
Mas é no terceiro episódio, Programa Duplo, que se percebia que estávamos diante de um real talento do cinema.
Um pobre coitado de um funcionário público (Roberto Miranda, genial), frustrado no trabalho e no casamento, entra no cinema para assistir uma pornochanchada e começa a se imaginar participando das cenas ao lado da esposa.
O grande diferencial desse episódio está no trabalho de montagem. Na seqüência do cinema os planos se alternam entre o rosto de Roberto e o que acontece na tela. Quando ele começa a se masturbar, os cortes vão se tornando cada vez mais rápidos até o momento em que ele... bem, vocês sabem...
Confesso que não lembro de absolutamente nada do segundo episódio, A Tesourinha, no qual um viúvo tem como hábito colecionar os pêlos pubianos de suas parceiras, até o dia em que recebe a visita de uma sobrinha disposta a conquistá-lo. Como se percebe, Guilherme antecipa em alguns anos o Marquês em La Escopeta Nacional, de Luis G. Berlanga, e o João de Deus em A Comédia de Deus, de João César Monteiro, que tinham a mesma mania de colecionar esse tipo de preciosidade.
Mas é no terceiro episódio, Programa Duplo, que se percebia que estávamos diante de um real talento do cinema.
Um pobre coitado de um funcionário público (Roberto Miranda, genial), frustrado no trabalho e no casamento, entra no cinema para assistir uma pornochanchada e começa a se imaginar participando das cenas ao lado da esposa.
O grande diferencial desse episódio está no trabalho de montagem. Na seqüência do cinema os planos se alternam entre o rosto de Roberto e o que acontece na tela. Quando ele começa a se masturbar, os cortes vão se tornando cada vez mais rápidos até o momento em que ele... bem, vocês sabem...
Um verdadeiro exercício de metalinguagem, que se tornaria a característica básica no cinema desse nosso grande diretor. O aluno havia sido aprovado com louvor.
As Taras de Todos Nós recebeu uma menção honrosa da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Agora é aguardar que venha a ser exibido novamente.
As Taras de Todos Nós recebeu uma menção honrosa da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Agora é aguardar que venha a ser exibido novamente.
*imagens retiradas do livro Guilherme de Almeida Prado - Um Cineasta Cinéfilo, por Luiz Zanin Oricchio: crédito de acervo pessoal de Guilherme de Almeida Prado.