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Dossiê Guilherme de Almeida Prado

Autor bom é autor morto

Por Gabriel Carneiro

Em uma longa entrevista comigo e com Marcelo Carrard, Guilherme de Almeida Prado esboçou mais do que a trajetória de sua carreira. Houve certos momentos, certas perguntas, em que sua veia de opinador sobre a situação do cinema nacional se insuflou, divagando dentro daquele universo que conhece, ama e tenta entender.

São questões certeiras, e que valem a pena ser discutidas. Fiquei pensando em duas teorias dele: não se depende de sucesso no Brasil para se fazer cinema e só se restaura e remasteriza películas de obras de diretores mortos.

Ele expôs que, para se continuar a fazer cinema no Brasil – e só no Brasil -, o diretor não precisa fazer qualquer sucesso de bilheteria. Há diretores que nunca tiveram um sucesso na carreira e que tem uma vasta filmografia. E pior, seus filmes são ruins. Esse conceito de fazer cinema jamais construirá uma indústria cinematográfica. Fato. Se pegarmos os rendimentos dos últimos anos, poucos filmes fizeram mais que 50 mil espectadores. Os filmes não chegam nem perto de se pagarem. Ele comenta que nem precisa se ter o trabalho de fazer uma produção bem acabada, ir atrás de um bom lançamento... Há diretores, de fato, que não emplacam um sucesso há anos, e que tem seus filmes sempre mal recebidos, e estão aí, a cada ano lançando mais filmes polêmicos, ruins, e que ninguém dá atenção.

Indústria cinematográfica é algo que não há de prosperar nesse padrão. Nunca deixaremos de fazer filmes sob a tutela do Estado. Deve haver um incentivo às artes, elas não sobrevivem sozinhas, infelizmente. Mas se tudo depender do Estado, se não houver mais patrocínio, grandes empresas que financiem, seremos eternos parasitas. Não creio que esse seja o objetivo. Precisamos de mecenas, de pessoas que estejam interessados em patrocinar a arte, que não precise mamar nas tetas do Estado. Se não fizer diferença quem traz retorno, como poderemos fortalecer o cinema?

Além disso, há a crescente indústria de DVDs, que, quando se trata de filmes brasileiros, mostra-se muito deficiente. O s grandes autores nacionais estão longe de ver suas obras no formato digital. Os diretores mais cultuados estão tendo seus filmes restaurados e remasterizados, como Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Joaquim Pedro de Andrade. Todos mortos, é claro. Mesmo dos que estão mortos, falta muita coisa ser lançada, com restauração. Tem bastante coisa de Humberto Mauro e Mazzaropi, mas em cópias ruins. Há três filmes, fora de catálogo, de Walter Hugo Khouri... Dos vivos, muita gente nem sonha em ver seus filmes: Nelson Pereira dos Santos, José Mojica Marins – tem 6 filmes lançados, em cópias de qualidade não tão boas -, Carlos Reichenbach, e o Guilherme de Almeida Prado, entre outros.

A captação de dinheiro é muito complicada para esse artifício. Assim como para se fazer filmes. Ninguém dá bola para o cinema brasileiro, exceto para o cinema global. Parece que não há público, e há público sim, restrito, mais há. É só questão de saber adequar-se.

Para entender um pouco mais sobre os pensamentos de cineasta brasileiro, de filmes geniais, como A Dama do Cine Shanghai e A Flor do Desejo, além de longa entrevista, temos análise de todos os seus filmes e de sua graphic novel, além de um perfil exclusivo.



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