Dossiê Guilherme de Almeida Prado
Samsara – Cinema em Quadrinhos
Por Ricardo S. Tayra, especialmente para a Zingu!
Samsara – Cinema em Quadrinhos
Por Ricardo S. Tayra, especialmente para a Zingu!
Em abril de 1991, foi lançado o número 7 do selo Graphic Globo (Editora Globo), uma história completa chamada Samsara, primeiro e único trabalho de Guilherme de Almeida Prado para o mundo dos quadrinhos. Ele se uniu ao desenhista argentino radicado no Brasil Hector Gómez Alisio para produzir em papel um filme que não conseguiria rodar, por conta dos custos altíssimos. Foi considerada a primeira graphic novel brasileira e rendeu ao cineasta o prêmio HQ Mix de Melhor Roteirista Nacional daquele ano.
A história se chamaria Time Square (tempo ao quadrado), mas mudou porque a editora lançaria uma edição estrangeira com mesmo nome. Samsara, palavra que vem de tradições da Índia e trata do fluxo de renascimentos através dos mundos, se mostrou uma boa escolha. A edição, porém, fica devendo um esclarecimento sobre o significado da palavra-título.
A trama se passa em Nova York, ou New York, como é chamada. Adam Lovecraft (uma referência óbvia ao escritor norte-americano de horror) é um detetive particular que está na pindaíba e sem novos trabalhos em vista. Mas isso não o impede de esquecer da própria vida ao ficar obcecado pela figura de uma bela morena que conhece no cemitério ao visitar o túmulo de seu pai.
Passa a segui-la e a colocar suas habilidades detetivescas para descobrir quem é a misteriosa garota. Só que, ao tentar saber mais sobre ela, consegue mais perguntas que respostas. Na ânsia de desvendar o mistério, acaba se envolvendo numa trama de ficção científica (e se contar muito mais que isso estrago sua leitura).
A história é boa no geral e tem um roteiro bem acima da média das produções nacionais. A arte de Gómez valoriza muito o trabalho, a começar pela bela capa. Seus desenhos são realistas sem excessos, seguindo linhas claras num estilo semelhante ao que se convencionou tratar como “desenho europeu”.
Porém, a HQ tem um problema de ritmo, principalmente no início. Mal dá pra conhecer os personagens de saída, porque tudo corre numa velocidade enorme, tanto na mudança das cenas como a transição entre quadrinhos. O andamento se torna mais adequado no desenrolar da história, quando uma acelerada na ação é bem-vinda. É interessante notar que a questão do ritmo foi, de certa forma, destacada no depoimento-entrevista do autor publicada no livro Guilherme de Almeida Prado - Um Cineasta Cinéfilo (por Luiz Zanin Oricchio, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo). Nele, Prado conta que seu roteiro foi adaptado em alguns pontos pelo desenhista: assim, um trecho que previa para dez páginas viravam duas, enquanto uma breve descrição poderia virar seis... De todo o modo, admite que o trabalho de Gómez nessa questão de narrativa o influenciou positivamente em seus filmes posteriores.
Uma boa sacada são ilustrações antes e depois da HQ propriamente dita (incluindo a contracapa), que servem de complemento à história. Vale uma atenção em relação ao final (incluindo o letreiro do último quadrinho).
A Globo chegou a encomendar um novo trabalho à dupla, mas não foi para frente porque, logo depois, a editora encerrou as atividades de sua linha adulta. Uma pena. De todo o modo, você pode encontrar a graphic novel em sebos.
Samsara (Graphic Globo n° 7, 1991, Editora Globo) – Roteiro de Guilherme de Almeida Prado e desenhos de Hector Gómez Alisio. 68 páginas coloridas.
*Ricardo S. Tayra é jornalista, roteirista e produtor cultural, criador e editor de um blog sobre quadrinhos e outras histórias, o Sapos Voadores.
A história se chamaria Time Square (tempo ao quadrado), mas mudou porque a editora lançaria uma edição estrangeira com mesmo nome. Samsara, palavra que vem de tradições da Índia e trata do fluxo de renascimentos através dos mundos, se mostrou uma boa escolha. A edição, porém, fica devendo um esclarecimento sobre o significado da palavra-título.
A trama se passa em Nova York, ou New York, como é chamada. Adam Lovecraft (uma referência óbvia ao escritor norte-americano de horror) é um detetive particular que está na pindaíba e sem novos trabalhos em vista. Mas isso não o impede de esquecer da própria vida ao ficar obcecado pela figura de uma bela morena que conhece no cemitério ao visitar o túmulo de seu pai.
Passa a segui-la e a colocar suas habilidades detetivescas para descobrir quem é a misteriosa garota. Só que, ao tentar saber mais sobre ela, consegue mais perguntas que respostas. Na ânsia de desvendar o mistério, acaba se envolvendo numa trama de ficção científica (e se contar muito mais que isso estrago sua leitura).
A história é boa no geral e tem um roteiro bem acima da média das produções nacionais. A arte de Gómez valoriza muito o trabalho, a começar pela bela capa. Seus desenhos são realistas sem excessos, seguindo linhas claras num estilo semelhante ao que se convencionou tratar como “desenho europeu”.
Porém, a HQ tem um problema de ritmo, principalmente no início. Mal dá pra conhecer os personagens de saída, porque tudo corre numa velocidade enorme, tanto na mudança das cenas como a transição entre quadrinhos. O andamento se torna mais adequado no desenrolar da história, quando uma acelerada na ação é bem-vinda. É interessante notar que a questão do ritmo foi, de certa forma, destacada no depoimento-entrevista do autor publicada no livro Guilherme de Almeida Prado - Um Cineasta Cinéfilo (por Luiz Zanin Oricchio, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo). Nele, Prado conta que seu roteiro foi adaptado em alguns pontos pelo desenhista: assim, um trecho que previa para dez páginas viravam duas, enquanto uma breve descrição poderia virar seis... De todo o modo, admite que o trabalho de Gómez nessa questão de narrativa o influenciou positivamente em seus filmes posteriores.
Uma boa sacada são ilustrações antes e depois da HQ propriamente dita (incluindo a contracapa), que servem de complemento à história. Vale uma atenção em relação ao final (incluindo o letreiro do último quadrinho).
A Globo chegou a encomendar um novo trabalho à dupla, mas não foi para frente porque, logo depois, a editora encerrou as atividades de sua linha adulta. Uma pena. De todo o modo, você pode encontrar a graphic novel em sebos.
Samsara (Graphic Globo n° 7, 1991, Editora Globo) – Roteiro de Guilherme de Almeida Prado e desenhos de Hector Gómez Alisio. 68 páginas coloridas.
*Ricardo S. Tayra é jornalista, roteirista e produtor cultural, criador e editor de um blog sobre quadrinhos e outras histórias, o Sapos Voadores.