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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Renata Fronzi

Por Adilson Marcelino, especialmente para a Zingu!

Na sua biografia em forma de depoimento para a Coleção Aplauso, “Chorar de Rir”, escrita por Wagner de Assis, Renata Fronzi conta, já na abertura, que a primeira vez que andou na vida foi atravessando um palco de teatro. Não à toa, o jornalista titula o capítulo de apresentação de sua personagem como “Meu país é o palco”. Realmente, uma das associações mais imediatas com essa estupenda atriz e comediante é o Teatro de Revista, mas com espaço generoso também para seu brilho na televisão e nas telas do cinema.

Renata Fronzi nasceu em família de artistas italianos - os avós paternos eram bailarinos e criaram uma companhia de mímica; já os avós maternos eram artistas de operetas. Nascida em 1º de agosto de 1925, na cidade de Rosário, Província de Santa Fé, na Argentina, durante uma excursão da companhia dos pais, Renata Fronzi veio para o Brasil na primeira infância. Os pais são Cesar e Yolanda Fronzi, também artistas de operetas, e por isso o fato da atriz ter, literalmente, começado a andar nos palcos, já que sua mãe a levava para os teatros ainda quando era bebê.

Com formação de bailarina clássica – entrou no Teatro Municipal de São Paulo para fazer balé desde pequena, logo integrou a companhia dos pais e, na adolescência, já fazia teatro amador com eles. No teatro, Renata Fronzi atuou em várias companhias: Cia Brasileira de Operetas, Cia Eva Todor, Cia Walter Pinto, Cia Aurimar Rocha, Cia de Revista Geisa Boscoli, Cia César e Renata Fronzi de Teatro, Cia Zeloni. Foi com Eva Todor que estreou profissionalmente aos 15 anos na peça “Sol de Primavera”, de Luis Iglesias.

Um capítulo à parte é a Cia Walter Pinto, quando na década de 1940, Renata Fronzi esquentou a libido de muita gente como uma das inesquecíveis vedetes das revistas do Teatro Recreio. No teatro de revista, Renata Fronzi cantava, dançava e atuava em esquetes cômicos. Página glamourosa das artes cênicas brasileiras, no teatro de revista brilharam nomes como Virginia Lane, Íriz Bruzzi, Mara Rúbia, Zaquia Jorge, e depois Leila Diniz.

Na época em que atuava nas revistas, Renata Fronzi conheceu César Ladeira, o mais importante locutor de rádio do Brasil. Foi paixão fulminante, pois os dois se casaram apenas seis meses depois de conhecerem.

Logo no início da televisão, Renata Fronzi atuou na TV Tupi, em programas como “Câmera Um”, “Teatrinho Troll” e “Chico Anysio Show”. Mas foi na Record que se eternizou em um marco da televisão brasileira: “A Família Trapo”. Esse programa humorístico, que foi exibido de 1967 a 1971, reuniu uma turma da pesada: além de Renata estavam Ronald Golias, Jô Soares, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real e Otelo Zeloni. A direção foi dos mestres da TV, Manoel Carlos, Nilton Travesso e Carlos Alberto da Nóbrega.

Renata Fronzi atuou em muitos outros programas memoráveis, como “Esta Noite se Improvisa”, “Times Square”, e “Bronco”. A estréia em novelas foi em 1971, em “Minha Doce Namorada”, de Vicente Sesso. Com quase duas dezenas de novelas no currículo, um ótimo momento foi revisitando sua origem italiana como Loreta em “Pão Pão, Beijo Beijo”, de Walter Negrão, na Rede Globo, em que fez parceria inesquecível com a gigante Lélia Abramo.

Renata Fronzi é sinônimo de comédia no luminoso panteão brasileiro, no qual figuram nomes como Oscarito, Grande Otelo, Ronald Golias, Dercy Gonçalves, Violeta Ferraz, Zezé Macedo, Consuelo Leandro, Zé Trindade, Ankito, Jô Soares, Costinha e Walter D´Avila. Todo esse tesouro da cultura nacional invadiu os lares brasileiros nas deliciosas chanchadas da Atlântida e de outros estúdios, como a Herbert Richers, época em que o cinema brasileiro levava multidões ao cinema.

As chanchadas tinham um receita imbatível: grandes nomes da música lançando marchinhas de carnaval; enredos sintonizados com os acontecimentos da época; tipos bem marcados como o mocinho, a mocinha, o vilão, o atrapalhado, o malandro, a sogra, a empregada; e um elenco de atores e comediantes inesquecíveis.

Renata Fronzi fez papéis variados, sendo que um tipo marcante era a da gostosona. O primeiro filme foi “Fantasma por Acaso” em que fazia, ao lado de Mara Rúbia e Zaquia Jorge, um trio de aeromoças que recepcionavam Oscarito no céu depois que seu personagem morria. Em sua biografia, Renata Fronzi é só elogios para Oscarito, que segundo ela era um artista maravilhoso e solidário com os colegas. Fronzi elogia também Ankito e Grande Otelo como grandes companheiros de cena.

A atriz e comediante fez muitos filmes, quase três dezenas, nos quais foi dirigida por grandes mestres, como Moacyr Fenelon, Carlos Manga, Victor Lima, J.B. Tanko e Carlos Alberto de Souza Barros. Foi dirigida também por seu padrasto e genial fundador da Cinédia, Adhemar Gonzaga, um dos homens mais importantes da história do cinema. Com ele fez “Carnaval em Lá Maior” (1955) e “Salário Mínimo” (1970).

Renata Fronzi tem momentos inesquecíveis e hilários no cinema. Nas telas, fez parcerias inesquecíveis com os atores Oscarito, Zé Trindade e Ankito, e com os cineastas Carlos Manga, Victor Lima e J.B. Tanko. Com Manga tem cena impagável em “Guerra ao Samba” fazendo cara de segundas intenções e dizendo “Eu adoro Picassô!”. Em “Garotas e Samba” tem grande momento como a trambiqueira Nana, em que paquerava Zé Trindade, parceiro de outros filmes e que tinha uma frase inesquecível quando abatia as mulheres: “caiu na risada, considero castigada”. Ainda com Zé Trindade é a mulher boa do título, “Marido de Mulher Boa”, e a esposa opressora em “Espírito de Porco”, ambos de Victor Lima.

Ainda com Victor Lima, Renata Fronzi brilhou em outros sucessos como “De Pernas para o Ar”, “Pé na Tábua”, “Massagista de Madame”, e como uma grã-fina em “É de Chuá”. Já com J.B. Tanko, atuou em “Garota Enxuta”, e como a colunista de fofocas em “Vai que é Mole” Em todos esses filmes, com exceção de “Massagista de Madame”, Ankito também esteve presente no elenco.

Depois de décadas longe do cinema, Renata Fronzi atuou em uma produção italiana, “O Barbeiro do Rio”, dirigido por Giovanni Veronesi. Novamente afastada, retornou às telas em uma produção americana “Morto na água”, dirigido pelo brasileiro Gustavo Lipsztein. Depois, fez com Carla Camurati, em 2001, “Copacabana”, seu último filme.

Renata Fronzi saiu de cena em 15 abril de 2008, mas ficou para sempre eterna na cultura brasileira e na memória de seus apaixonados fãs. Com certeza, é representante do que de melhor já se fez na arte da comédia nesse país.

Renata Fronzi no cinema
- ´Fantasma Por Acaso’ (1946), de Moacyr Fenelon;
- ‘Toda a Vida em Quinze Minutos’ (1953), de Pereira Dias;
- ‘Carnaval em Lá Maior’ (1955), de Adhemar Gonzaga;
- ‘Guerra ao Samba’ (1956), de Carlos Manga;
- ‘De Pernas pro Ar’ (1956), de Victor Lima;
- `Treze Cadeiras’ (1957), de Franz Eichorn;
- `Pé na Tábua’ (1957), de Victor Lima;
- `Garotas e Samba’ (1957), de Carlos Manga;
- `Espírito de Porco’ (1957), de Victor Lima;
- `Massagista de Madame’ (1958), de Victor Lima;
- `Hoje o Galo Sou Eu’ (1958), de Aloisio T. de Carvalho;
- `É de Chuá’ (1958), de Victor Lima;
- `Pistoleiro Bossa Nova’ (1959), de Victor Lima;
- `Garota Enxuta’ (1959), de J. B. Tanko;
- `Vai Que É Mole’ (1960), J. B. Tanko;
- `Marido de Mulher Boa’ (1960), de J. B. Tanko;
- `Briga, Mulher e Samba’ (1960), de Sanin Cherques;
- `O Homem que roubou a Copa do Mundo’ (1961), de Victor Lima;
- `Quero Essa Mulher Assim Mesmo’ (1963), de Billy Davis e Ronaldo Lupo;
- `Papai Trapalhão’ (1968), de Victor Lima;
- `As Aventuras de Chico Valente’(1968), de Ronaldo Lupo;
- `Salário Mínimo (1970), de Adhemar Gonzaga;
- `Como Ganhar na Loteria sem Perder a Esportiva’ (1971), de J. B. Tanko;
- `Amor e Medo’ (1974), de José Rubens Siqueira;
- `Assim Era a Atlântida’ (1975), de Carlos Manga;
- `Um Soutien para Papai’ (1975), de Carlos Alberto de Souza Barros;
- `Este Rio Muito Louco’ (1977), de Luiz de Miranda Corrêa;
- `O Barbeiro do Rio’ (1996), de Giovanni Veronesi;
- `Copacabana’ (2001), de Carla Camurati.

*Adilson Marcelino é jornalista e edita o site Mulheres do Cinema Brasileiro




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