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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

GRANDES FILMES PERDIDOS DA BOCA - parte 1

Por Matheus Trunk

A Boca do Lixo indiscutivelmente foi o grande momento cinematográfico de São Paulo. Centenas de filmes foram feitos e diversos criativos e talentosos diretores surgiram. Musas inesquecíveis, técnicos brilhantes e incansáveis também fizeram ponto nas ruas do Triunfo, Aurora, Andradas e Gusmões.

Muitos novos subgêneros foram estabelecidos sempre ressaltando uma maravilhosa geração de homens ousados e geniais que tentavam a todo custo realizar seus filmes. A grande maioria deles não tinham pretensões políticas e nem queriam assumir o poder da nação. Também não eram filhos dos Barreto ou de pessoas que jogavam tênis no Coutry Clube de Copacabana. Mesmo assim, fizeram muitos filmes e deixaram algumas lições. Atualmente, graças à Zingu!, ao Canal Brasil e ao Remier Lion, finalmente velhos cineastas finalmente estão ganhando algum reconhecimento.

Diversos grandes filmes da Boca estão perdidos. Não foram reeditados em DVD ou VHS, não passam na TV a cabo e as cinematecas não possuem cópia deles. Reuni aqui dez dos grandes filmes perdidos da Boca que eu gostaria de assistir.

10. Império das Taras (1980)
Direção: José Adauto Cardoso
Hoje radicado no interior paulista, o cineasta José Adauto Cardoso estreou em grande estilo na direção cinematográfica com este “Império das Taras” (1980). A película era um drama erótico com clima policial, bastante semelhante diversos filmes italianos do mesmo período. Com grande elenco com a musa Neide Ribeiro e fotografia do mestre dos mestres Cláudio Portioli.

9. Nua e Atrevida (1975)
Direção: Flávio Ribeiro Nogueira
Flávio Ribeiro Nogueira, industrial de Casa Branca era um fanático por cinema e investiu quase todo seu dinheiro na área. Antes de realizar a fita nacional mais inclassificável de todos os tempos (“Bonecas Diabólicas”), Nogueira fez este “Nua e Atrevida”. Seguinte os familiares do diretor, este seria seu trabalho artístico mais pessoal.



8. Rodeio dos Bravos (1985)
Direção: Coriolano Rodrigo Montana
Coriolano Rodrigo Montana iniciou-se no cinema cuidando dos cavalos do ator/produtor Tony Vieira. Formando na universidade da vida, foi subindo na posição na área até finalmente conseguir dirigir seu primeiro e único longa-metragem como realizador. Inspirado em Mazzaroppi, seu grande ídolo fez um filme livre para o grande público. A chegada do sexo explícito para os cinemas tornou o longa inédito até hoje.

7. Tiradentes, O Mártir da Independência (1976)
Direção: Geraldo Vietri
A Broadway paulistana não produziu somente pornochanchadas. Conhecido diretor de novelas da Tv Tupi, Geraldo Vietri realizou esta reconstituição histórica em resposta ao sucesso de “Os Inconfidentes” de Joaquim Pedro de Andrade. No elenco, contou com grandes estrelas da emissora da época como Adriano Reys, Kate Hansen, Benjamin Cattan, entre outros. A cópia ninguém sabe, ninguém viu.

6. As Duas Lágrimas de Nossa Senhora Aparecida (1972)
Direção: Nelson Teixeira Mendes
Amigo para alguns, picareta para outros, Nelson Teixeira Mendes foi o único produtor da Boca de São Paulo a se especializar em fitas católicas. Católico fervoroso, Mendes era fiel devoto de Nossa Senhora Aparecida e não fazia nada sem a imagem da santa por perto. Por isso, ele produziu e ainda dirigiu este “As Duas Lágrimas de Nossa Senhora Aparecida”, que teve grande resposta nas bilheterias.

5. O Leito da Mulher Amada (1975)
Direção: Egídio Eccio
Incansável batalhador pelo cinema paulista, o nome de Egídio Eccio já era sinônimo de talento e profissionalismo nos tempos da Vera Cruz. E ele deve ser citado em qualquer livro ou publicação sobre cinema brasileiro. Este “O Leito da Mulher Amada” foi feito com pretensões comerciais de extremo bom gosto, merecendo grandes elogios do saudoso crítico Rubem Biáfora.

4. Ninfas Diabólicas (1978)
Direção: John Doo
Todos os cinéfilos que viram “Ninfas Diabólicas” de John Doo não esqueceram dele. Sucesso de público e crítica, a fita mais conhecida do realizador chinês conta a história de duas lindas estudantes (Aldine Müller e Patrícia Scalvi) que seduzem um homem antes de matá-lo. Bem produzido, o longa tinha roteiro do mestre Ody Fraga e fotografia do cineasta Ozualdo Candeias. Infelizmente, a Cinemateca Brasileira só possuí o trailer do filme.

3. A Vingança do Chico Mineiro (1979)
Direção: Rubens da Silva Prado
Nos cinemas poeira do interior e do agreste brasileiro, homens como Tony Vieira e Rubens da Silva Prado, o Alex Prado eram verdadeiros deuses. Faroestes como “Gregório 38” e “A Filha do Padre” influenciaram toda uma geração de cinéfilos tupiniquins. Classificar esses realizadores/atores/produtores como ídolos, é pouco, pois em certos lugares do Brasil eles eram tão populares como Roberto Carlos e Odair José. No auge dos westerns feijoada, Alex Prado realizou este “A Vingança do Chico Mineiro” que teve mais de dois milhões de espectadores em seu lançamento. Poucos colecionadores possuem cópia dessa preciosidade.

2. Me Deixa de Quatro (1981)
Direção: Fauzi Mansur
Nesta antológica fita, o mecânico italianão machista Dino (feito pelo genial Serafim Gonzalez) mantém a bela esposa Rossana Ghessa e a amante Helena Ramos. Além disso, ele suspeita que o único filho homem (Arlindo Barreto) é homossexual. Para tirar a dúvida, ele levará o menino para o “bom caminho”. Em maio de 2008, o genial Fauzi Mansur finalmente retornou a dirigir filmes com o novo “Casamento Brasileiro”. Com o tempo, ver “Me Deixa de Quatro” de qualquer maneira tornou-se obsessão de todo fã de pornochanchada.

1. A Força dos Sentidos (1979)
Direção: Jean Garret
Até 1975, o português José Antônio Gomes e Silva era fotógrafo de fotonovelas da revista “Melodias” e fazia still em alguns filmes da Boca. Eventualmente fazia pontas em alguns filmes de amigos. Mas tudo mudou quando David Cardoso o chamou para ser o realizador de confiança de sua produtora, a Dacar. A partir daí, o rapaz português de 30 anos adotaria o pseudônimo de Jean Garret, dirigiria algumas obras-primas do período, trabalharia com os melhores atores e técnicos da Boca e namoraria as mulheres mais desejadas do país. Este “A Força dos Sentidos”, foi feito na melhor fase do realizador e é um dos poucos filmes dele não relançados em VHS. Carlão Reichenbach fez a fotografia do filme e reconhece este como seu melhor trabalho como técnico em cinema. Quem viu “A Força dos Sentidos” no cinema como Sergio Andrade, Eduardo Aguilar e Beto Ismael teve um privilégio. Hoje, não há meios de ver este raro longa-metragem de um intuitivo e extraordinário realizador.




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