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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...
Por Marcelo Carrard

Eat the Schoolgirl
Direção: Naoyuki Tomomatsu
Kogyaru-gui: Oosaka terekura hen, Japão, 1997.

O Cinema Extremo japonês tem uma tradição transgressora muito expressiva com uma série de produções clássicas nas décadas de 60 e 70, desembocando na filmografia do genial TAKASHI MIIKE, o mais cultuado dos cineastas extremos da Ásia. Porém, correndo por fora, muitos tentam seguir e até superar o Mestre, com obras interessantes como SUICIDE CLUB. Em 2001 foi lançado um filme de zumbis no Japão que me impressionou muito por sua originalidade e por suas referências ao subgênero, com citações de Evil Dead e da Trilogia dos Mortos-Vivos de George Romero, citações feitas com grande sutileza em um roteiro muito peculiar com suas doses açucaradas em meio ás sequências sangrentas. O nome do diretor de STACY, o tal filme de zumbis, é NAOYUKI TOMOMATSU, um talento que merece ser descoberto e que recentemente voltou a trabalhar com filmes sobre zumbis carniceiros japoneses. Mas antes de STACY, em 1997, ele “cometeu” uma obra de curta duração, pouco mais de uma hora, mas com um poder de destruição absurdo, com composições extremas inesquecíveis.: EAT THE SCHOOL GIRL, o nome já diz muita coisa...

Em EAT THE SCHOOL GIRL, vemos desfilar na tela uma infinidade de taras relacionadas a dominação, ao estupro e ao registro explícito dessas imagens por um produtor membro de uma gangue de Snuff Videomakers. O erotismo selvagem do filme tem um perturbador acento misógino, onde a figura feminina é alvo das mais perversas formas de tortura e dominação. A sequência que mostra a gravação do Snuff Video, é criada com várias texturas de imagem construindo um agonizante realismo documental. A câmera de Tomomatsu filma tudo nos limites da censura japa que não permite a exposição do pênis, isso em uma sequência onde uma mulher é currada por vários homens. Elementos da cultura Pop do Japão pipocam pelo filme, além da presença em cena de várias lolitas japonesas, o filme é puro fetichismo.

Oma sequência inusitada do confronto entre dois homens em um túnel me deixou intrigado quando vi o filme pela primeira vez, então me recordei de uma sequência similar em DUBLÊ DE CORPO de Brian De Palma. Interessante encontrar uma referência dessas em um filme oriental tão extremo. Mas a composição mais perturbadora do filme é sem dúvida a de uma fetichista e grotesca cena de assassinato. Filmada de maneira alucinada e inacreditável, vemos um casal onde a mulher passa a sofrer inesperados ataques de um homem que se revela demente ao extremo, numa mistura requintada de sexualidade mórbida e Horror extremo. As vísceras da mulher são arrancadas e como se não bastasse o homem ainda ejacula sobre elas, sim realmente é o que vocês acabaram de ler. Essa composição extrema de sexualidade mórbida me lembrou muito o final de Nekromantik, de Jorg Buttgereit, onde o protagonista mutila o próprio abdômen enquanto ejacula sem parar vendo seu esperma se transfigurar em sangue.

EAT THE SCHOOLGIRL tem além de suas composições extremas, uma montagem muito criativa, e ótima trilha-sonora. Nessa pequena obra perturbadora Tomomatsu conseguiu chegar ao patamar de Takashi Miike, gostaria muito de ver outros filmes dele, que pode e tem chances de tornar o Novo Miike. Só o tempo dirá.




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