Dossiê John Wayne
Onde Começa o Inferno
Direção: Howard Hawks
Rio Bravo, EUA, 1959.
Por Rodrigo Coelho, especialmente para a Zingu!
A parceria entre John Wayne e o diretor Howard Hawks certamente foi uma das mais produtivas do cinema norte-americano, apesar de não ter sido tão numerosa quanto, por exemplo, aquele do próprio Wayne com John Ford ou a do Robert De Niro com o Martin Scorsese. No total, foram 5 filmes, mas todos de altíssima qualidade e importância: o marco zero foi com a obra-prima Rio Vermelho, um dos filmes mais significativos do western; nos anos 60 foram mais dois, o clássico Hatari, e o também genial El Dorado; já em 1970, Wayne participou da despedida de Hawks do Cinema, com o belo Rio Lobo. No meio desse tempo, a dupla realizou, em 1959, aquele que é um dos pontos máximos do cinema de Hawks, a obra-prima Onde Começa o Inferno.
Direção: Howard Hawks
Rio Bravo, EUA, 1959.
Por Rodrigo Coelho, especialmente para a Zingu!
A parceria entre John Wayne e o diretor Howard Hawks certamente foi uma das mais produtivas do cinema norte-americano, apesar de não ter sido tão numerosa quanto, por exemplo, aquele do próprio Wayne com John Ford ou a do Robert De Niro com o Martin Scorsese. No total, foram 5 filmes, mas todos de altíssima qualidade e importância: o marco zero foi com a obra-prima Rio Vermelho, um dos filmes mais significativos do western; nos anos 60 foram mais dois, o clássico Hatari, e o também genial El Dorado; já em 1970, Wayne participou da despedida de Hawks do Cinema, com o belo Rio Lobo. No meio desse tempo, a dupla realizou, em 1959, aquele que é um dos pontos máximos do cinema de Hawks, a obra-prima Onde Começa o Inferno.
Na trama, John Wayne vive o xerife John T., que, juntamente com seus dois ajudantes, um bêbado (Dean Martin) e um velho senil e manco (Walter Brennan), passa a ser ameaçado por um grupo de matadores, ao prender um temido assassino. Como vocês podem perceber, a história aqui é mínima e certamente muitos irão se perguntar como um filme consegue sustentar 140 minutos de duração. Sou um simples cinéfilo e não consigo desvendar por inteiro a mágica que Onde Começa o Inferno carrega, mas sem dúvida um dos fatores que mais colaboram para o êxito da obra é o fato de que poucos no Cinema conseguiram demonstrar tanto poder narrativo quanto Howard Hawks. É como se, depois da ressaca de ter filmado uma mega-produção quatro anos antes (Terra dos Faraós), Hawks decidisse se isolar em seu próprio universo, a fim de realizar um filme mais pessoal. Resultado: um de seus trabalhos mais idiossincráticos, com todos os elementos que tornaram seu cinema famoso.
Entre eles, está o tom essencialmente masculino, com a forte cumplicidade e amizade entre os personagens sendo um dos principais temas de Onde Começa o Inferno. O humor também se faz presente, especialmente ao abordar a figura do velho interpretado por Brennan, um ator adorável que, infelizmente, foi relegado a papéis secundários (mas que teve presença marcante em filmes como esse e Rio Vermelho), ou então na do latino dono de um hotel. Tudo filmado do modo mais simples e seco possível, tornando a ação visceral, com Hawks levando a sua máxima de simplesmente colocar a câmera na altura do ator, sem nenhum outro grande artifício. Aliás, em uma entrevista contida nos extras da excelente edição dupla lançada pela Warner em DVD, Hawks diz algo muito interessante e que expressa muito bem qual o seu projeto de cinema, ao tentar explicar sua indiferença em relação a Meu Ódio Será sua Herança, de Sam Peckinpah: “Posso matar três pessoas, leva-los ao necrotério antes de chegaram ao chão, porque acentuava tudo com slow motion e eu acho que a violência é tão rápida que mal se sabe o que está acontecendo”. É um exímio contador de histórias, entregando uma encenação que muitas vezes beira a perfeição. O que o interessa mesmo é se aprofundar no lado dramatúrgico, de modo que Onde Começa o Inferno apresente um belo estudo de personagens (o de Dean Martin é particularmente fascinante – aliás, creio que o filme todo seja na verdade sobre sua jornada rumo à redenção).
Hawks é um tipo de cineasta que faz falta na atualidade - todo Darren Aronofsky da vida deveria tê-lo como exemplo. Felizmente ainda temos diretores como James Gray e Clint Eastwood fazendo filmes cuja maior preocupação é a de simplesmente nos mostrar dramas humanos, de contar uma história, além, é claro, de John Carpenter, diretor de faroestes disfarçados e fã confesso de Hawks.
Um outro ponto que merece destaque é a habilidade de Hawks ao dirigir seus atores. É um talento que já havia sido provado em seus trabalhos anteriores, como os seus geniais trabalhos com Cary Grant, obras como Levada da Breca, Jejum de Amor e Paraíso Infernal (todos filmaços), e é justamente no elenco que reside uma das maiores qualidades de Onde Começa o Inferno. Parece ser uma espécie de reunião entre amigos, tamanha é a leveza que o filme exala: Dean Martin e Walter Brennan estão realmente geniais, e Ricky Nelson merece elogios também. Já Wayne apresenta como sempre uma capacidade monstruosa, sobrenatural de “preencher” todo o espaço em tela, se fazendo onipresente até nas cenas em que não aparece. Tem um jeito muito característico de andar e falar - imitá-lo sempre é divertido -, uma atuação que alguns podem considerar limitada, mas que possui um carisma e um poder quase sobrenatural.
Onde Começa o Inferno marca justamente o encontro entre dois gigantes do Cinema, sendo um deles atrás das câmeras e o outro na frente delas.
Hawks é um tipo de cineasta que faz falta na atualidade - todo Darren Aronofsky da vida deveria tê-lo como exemplo. Felizmente ainda temos diretores como James Gray e Clint Eastwood fazendo filmes cuja maior preocupação é a de simplesmente nos mostrar dramas humanos, de contar uma história, além, é claro, de John Carpenter, diretor de faroestes disfarçados e fã confesso de Hawks.
Um outro ponto que merece destaque é a habilidade de Hawks ao dirigir seus atores. É um talento que já havia sido provado em seus trabalhos anteriores, como os seus geniais trabalhos com Cary Grant, obras como Levada da Breca, Jejum de Amor e Paraíso Infernal (todos filmaços), e é justamente no elenco que reside uma das maiores qualidades de Onde Começa o Inferno. Parece ser uma espécie de reunião entre amigos, tamanha é a leveza que o filme exala: Dean Martin e Walter Brennan estão realmente geniais, e Ricky Nelson merece elogios também. Já Wayne apresenta como sempre uma capacidade monstruosa, sobrenatural de “preencher” todo o espaço em tela, se fazendo onipresente até nas cenas em que não aparece. Tem um jeito muito característico de andar e falar - imitá-lo sempre é divertido -, uma atuação que alguns podem considerar limitada, mas que possui um carisma e um poder quase sobrenatural.
Onde Começa o Inferno marca justamente o encontro entre dois gigantes do Cinema, sendo um deles atrás das câmeras e o outro na frente delas.
Rodrigo Coelho é apaixonado e obcecado pela 7ª arte desde pequeno. Mora em Fortaleza e atualmente escreve em no blog Toltal Trash.