html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net

Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Stella Stevens

Por Diego Costa Assunção, especialmente para a Zingu!

Com quinze anos, Stella Stevens casou-se. Teve um filho aos 16. Precocemente, viveu uma vida de dona de casa em alguma cidade no estado de Mississipi, mas deixou essa vida quando largou seu marido, com 17 anos, para seguir outro rumo.

Como tantas outras atrizes que fizeram fama mais pela beleza física do que por destreza nas artes dramáticas, Stella Stevens começou como modelo no final dos anos 50, foi coelhinha da revista Playboy no mês de janeiro de 1960 e, num desfile numa loja em Memphis, encantou um executivo da United Artists, quem a convidou para começar uma carreira nas telas do cinema.

Seu primeiro trabalho no cinema foi em 1959. Sob a direção de Frank Tashlin, o mentor de Jerry Lewis, ela fez uma coadjuvante em Prece para um Pecador, filme que tinha no elenco Bing Crosby interpretando pela milésima vez um padre e Debbie Reynolds como uma dançarina que deseja atuar numa casa noturna, contra a vontade do seu pai.

Loira, de belo corpo e com uma presença sedutora na tela, Stella foi chamada para ser uma das garotas de Elvis Presley no filme Garotas! Garotas! Garotas!, de 1962. Despontava ali mais uma candidata a substituir o mito de Marilyn Monroe?

Não, pois Stella tinha um estilo muito particular, único. Foi coadjuvante de luxo em diversas ocasiões, representando, inclusive, uma “Helm-Girl” em O Agente Secreto Matt Helm, de 1963, filme que funcionava como uma espécie de James Bond americano no qual Dean Martin fazia o herói do título.

Esteve em vários filmes dos mais variados gêneros, mas sua presença não servia somente em cena para eclipsar de beleza breves momentos que antecedessem ações, suspense, drama. Sua presença era capaz de eclipsar todo um filme.

Poder este que John Cassavetes reconheceu quando lhe entregou o papel da garota que seduz dois amigos no A Canção da Esperança (Too Late Blues, 1961). Ali, Stevens faz a mulher responsável por destruir e reconstruir os laços de amizades entre dois integrantes de uma banda de jazz.

O cinema apareceu na vida dela como um instrumento de libertação do poder que poderia exercer perante os homens, mas a atriz nunca deixou escapar o estigma “materno”, de mulher caseira e confiável. Stella era um híbrido, entre a mãe e a puta. Conseguia ser as duas ao mesmo tempo.

Ela conseguia uma proeza raríssima: bancar a puta mais indiferente e gélida do mundo ao mesmo tempo em que mantinha um calor maternal, pacificador, em seu olhar. Em seus melhores momentos no cinema, Stella Stevens conseguia ser uma mulher simples do Mississipi e a exibicionista convencida do seu poder de sedução, consciente do seu apelo sexual.

Ao contrário de Marilyn Monroe, que sempre que aparecia em cena como um vulcão, esquentando a tela, ou das “louras geladas” de Hitchcock (excetuando aí Grace Kelly e Ingrid Bergman, outras musas que tinham atributos similares da Stella), a atriz era capaz de gelar e esquentar a tela, potência que só foi bem aproveitada em três ocasiões, por três cineastas: no filme de John Cassavetes, em O Professor Aloprado, realizado por Jerry Lewis em 1963 e sob a direção de Sam Peckinpah no faroeste cômico musical A Morte não manda Recado, de 1970.

É claro que isso não quer dizer que não tenha trabalhado com outros gênios da direção ou com artesões competentes em papéis memoráveis. No mesmo ano do emblemático filme de Jerry Lewis, por exemplo, ela fez uma das três pretendentes do viúvo Glenn Ford no filme Papai precisa casar, dirigido por Vincente Minnelli.

Mas na maioria desses filmes, só se aproveitavam de suas qualidades de mulher objeto. O que, convenhamos, não era necessariamente um “uso negligente”, mas que restringia demais aquilo que a atriz poderia fazer, render.

Pois Stella tinha a vocação para ser uma atriz completa, que significa nada além de ser mulher na plenitude do termo. Ser atriz para ela equivaleria dizer que “uma mulher é uma mulher”, ou seja, um misto entre a mãe – como a dona de casa do Mississipi - e a puta – como a modelo de vitrines de loja.

Uma mulher completa que, como disse apropriadamente o diretor Joseph L. Mankiewicz, “pode afirmar e negar ao mesmo tempo, mulher que deseja e não deseja ao mesmo tempo, pois elas mentem e dissimulam infinitamente melhor do que o homem”.


Partindo dessa concepção, como interpretar, decifrar aquele olhar que ela dá ou o gesto que faz para ajudar o atrapalhado professor Kelp a se desprender de um armário no qual foi colocado por um aluno brutamontes em O Professor Aloprado? Seria um olhar de ternura? De sedução? Um gesto de pena? De amor?

Como apreender toda a cena do encontro entre ela e Jason Robards no prostíbulo no filme de Peckinpah? Ela faz um strip-tease, mas antes o ajuda a se lavar. O que ele pretende: transar com ele ou pegá-lo no colo?

Por esses motivos e outros, Stella representou na tela do cinema, especialmente nesta trinca de filmes (A Canção da Esperança, O Professor Aloprado e A morte não manda recado), a mulher na plenitude do termo.

Gelar a tela ou esquentar? Ser puta ou mãe? Má ou Boazinha? Todos são dilemas, dúvidas que nos aterrorizam e, também, esses são todos os atributos inerentes às mulheres, dignos de fazê-las especiais, como Stella foi quando não perdeu tal essência, seus atributos naturais.

FILMOGRAFIA:

1959 - As Aventuras de Ferdinando (Li'l Abner)
1959 - Prece para um Pecador (Say One for Me)
1961 – A Canção da Esperança (Too Late Blues)
1962 - Papai Precisa Casar (The Courtship of Eddie's Father)
1962 - Garotas e Mais Garotas (Girls! Girls! Girls!)
1963 - O Professor Aloprado (The Nutty Professor)
1964 - Avance para a Retaguarda (Advance to the Rear)
1965 - Os Ressuscitados (Synanon)
1965 - O Segredo do Meu Sucesso (The Secret of My Success)
1966 - O Agente Secreto Matt Helm (The Silencers)
1967 - Na Pista dos Bandoleiros (Where Angels Go, Trouble Follows)
1968 - Como Salvar um Casamento e Arruinar sua Vida (How to Save a Marriage And
Ruin Your Life)
1968 - Fúria Assassina (The Mad Room)
1968 - Sol Madri (Sol Madrid)
1970 - A Morte Não Manda Recado (The Ballad of Cable Hogue)
1971 - Uma Cidade Chamada Inferno (A Town Called Hell)
1972 - A Chacina (Slaughter)
1972 - O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure)
1972 - Montanha do Perdão (Climb an Angry Mountain)
1972 - O Salário do Carrasco (Hangman's Wages- Hec Ramsey)
1973 - O Crime da Praia (Linda)
1974 - O Dia em que a Terra Tremeu (The Day the Earth Moved)
1975 - Cleópatra Jones e o Cassino de Ouro (Cleopatra Jones and the Casino of
Gold)
1976 - A Morte num Beijo (Kiss Me... Kill Me)
1976 - Na Trilha de Butch Cassidy (Wanted, the Sundance Woman)
1976 - No Mundo do Cinema (Nickelodeon)
1977 - Charlie Cobb: Uma Boa Noite para um Enforcamento (Charlie Cobb: Nice Night
for a Hanging)
1977 - Assassinato em Peyton Place (Murder in Peyton Place)
1978 - Manitou, o Espírito do Mal (The Manitou)
1979 - O Super Trem - Expresso para o Terror (Express to Terror)
1980 - Faça Uma Oferta (Make Me an Offer)
1981 - Wacko - Uma Comédia Maluca (Wacko)
1983 - Correntes do Inferno (Chained Heat)
1986 - O Azarão (The Longshot)
1986 - Uma Festa Mortal (A Masterpiece of Murder)
1986 - O Monstro do Armário (Monster In the Closet)
1987 - Poder Selvagem (Power, Passion & Murder)
1987 - Confissão Fatal (Fatal Confession: A Father Dowling Mystery)
1989 - Deus me Acuda...Ou Não? (Down the Drain)
1990 - Revanche (Last Call)
1991 - Ira de Mutantes 2 (The Terror Within 2)
1991 - Marcas de um Exílio (Exiled in America)
1992 - 976: Chamada para a Morte (Night Caller)
1993 - Sob o Domínio do Desejo (Hard Drive)
1993 - O Aniversário do Demônio (Little Devils: The Birth)
1993 - Cidade Violenta (Eye of the Stranger)
1994 - Molly & Gina - Confusão em Dobro (Molly & Gina)
1994 - O Ponto da Sedução (Body Chemistry 3: Point of Seduction)
1994 - Uma Paixão Incontrolável 3 (Point of Seduction: Body Chemistry III)
1995 - Uma Paixão Incontrolável 4 (Body Chemistry 4: Full Exposure)
1995 - Granny - A Maldição da Eternidade (The Granny)
1995 - Star Hunter - Jogos de Extermínio (Star Hunter)
1995 - O Jogo Final (Grid Runners)
1995 - Mamãe Invisível/Querida Você Sumiu! (Invisible Mom)
2000 - Caravana do Destino (By Dawn's Early Light)

Diego Costa Assunção é estudante de jornalismo e é redator da revista Cinética. Também colabora na Folha da Região de Araçatuba, interior de São Paulo, e edita o blog Sétima Arte.




<< Capa