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RUÍDO

ETTA JAMES - AT LAST!

Por Laís Clemente

Assinar contrato com a gravadora Chess foi, sem dúvida, um acerto na então recente carreira de Etta James. Em 1960, após realizar algumas gravações com a banda de Johnny Otis, ela viajou até Chicago, onde estavam localizados os estúdios da gravadora, para começar a trabalhar. Apesar de especializada em blues, R&B e música gospel, a Chess contratou Miss Peaches acreditando que se tratasse de uma competente cantora de baladas. Durante todo aquele ano de 60, no entanto, ela revelaria a competência e inventividade que a fariam conquistar a confiança de seus contratantes em seu potencial, tanto que permaneceu no selo até 1975.

Talvez por esse desabrochar da cantora, o fruto das gravações daquele primeiro ano de Etta na Chess tenha sido um álbum tão difícil de ser classificado. Nesse disco, intitulado At Last!, a temática das canções é puro blues. São composições que contam histórias de mulheres que querem paixões que durem mais do que uma noite (Sunday kind of love); que já tiveram esse amor, mas que lamentam tê-lo perdido (All I could do is cry); ou que finalmente conseguiram estar com a pessoa desejada (At Last!). A voz, por muitas vezes, rouca de Etta está, nessas faixas, limpa, com uma nitidez e força que reforçam a vulnerabilidade exigida pelos temas.

A limpidez da interpretação de Etta se transforma em agressividade jazzística em outros momentos do disco, porém. Assim é a versão cheia de malícia de I just want to make love to you que, de tão enérgica, chegaria a, tempos mais tarde, influenciar Janis Joplin em seu modo de cantar.

A essa mistura já rica de ingredientes, somam-se as baladas do álbum. A música tema At Last! é o maior exemplo disso. Balada da categoria tão-romântica-que-chega-a-ser-brega, ela atingiu o público em cheio, chegando ao 2º lugar na parada de R&B, de acordo com o rock and roll hall of fame, e provando que tinha de fato uma forte veia popular. A canção ficou eternizada em sua voz e é, até hoje, uma das músicas mais executadas em casamentos.

Agora imagine essa atmosfera blues, interpretações que beiram o jazz e baladas envolventes cercadas pela suavidade de um coral de apoio e a classe de um conjunto de violinos. Foram essas as sugestões do co-fundador da gravadora, Leonard Chess, que acabaram servindo como a cereja no bolo de Miss Peaches, conferindo uma marca única ao disco que iniciaria uma carreira douradora. Etta James, apesar de seus altos e baixos provocados pelo vício em heroína, está em ação até hoje, aos 70 anos, provando, apesar de já não mais com o mesmo vigor e criatividade do passado, que se pode cantar blues, jazz e soul tudo ao mesmo tempo e sem abrir mão do apelo popular.



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