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Coluna do Biáfora

CUIDADO COM MEU GUARDA-COSTAS

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

“Esta não é a melhor fase do cinema americano. E assim de momento, exceção feita a uns poucos filmes como “A Rosa”, de Mark Rydell, e “Heróis sem Amanhã”, de Ted Kotcheff, quase mais nada lembramos que realmente nos tenha impressionado. Também, ao contrário dos bons tempos da nouvelle vague francesa ou do conseguido pelo cinema italiano pós-Michelangelo Antonioni, foi-lhe fatal a “renovação” (ou inversão?) de valores começada logo o pós-Segunda Guerra (quando quase de batelada todos os “grandes” como King Vidor, Fritz Lang, William Dieterle, Walsh, Siodmak, K. Howard, Brown, Goulding, Val Lewton e outros, foram praticamente alijados em favor de “novos”, tipo Richard Fleischer, John Sturges, Phil Karlson, Stanley Kramer e caterva. Não houve renovação – houve decadência. A imaginação parou. O gosto apurado e a humanidade que lhe eram inerentes em todos os setores, mesmo os mais recônditos ou encontradiços, foram-se. E, estranhamente, junto a essa qualidade singular, que lhe era particularíssima e própria, quase que sumiu também a neurose contrária e odienta que certa maioria de “críticos” e “exigentes” sistematicamente lhe devotavam. Temos agora aqui mais um filme americano. Novo tipo? Em conformidade com nosso tempo? (Um tempo que, aliás, não impede que o cinema iugoslavo que ora estamos tendo na reveladora “Mostra de Filmes Inéditos” nos surpreenda com suas maravilhosas manifestações de arte, coragem, verdade, humanismo e excepcional nível técnico e criativo). De qualquer maneira, a história de um algo abastado, mas franzino ginasiano de Chicago, que, depois de nove anos de escola particular, passa a freqüentar a escola pública e vê-se compelido a “pagar” a proteção de uma Máfia estudantil, ameaçado que é de ser atirado à sanha de um aluno enorme e estranho, cuja reputação de violento coloca todos os outros em pânico. Já tivemos algumas referencias favoráveis, sobre o fato de a fita apesar de seu “mood” elenco e “visual” soar quase a “Almôndegas”, “O Clube dos Cafajestes” ou o “Clube dos Pilantras”, ter um enfoque mais sério, ter o enfoque combativo, que, por exemplo, nos anos 50 tinha “Clube de Moças” (Take Care of My Little Girl), aquele filme dirigido por Jean Negulesco, com Jeanne Crain, Jean Peters e Mitzi Gaynor; ou recuando um pouco mais ter o enfoque dramático que S. Sylvan Simon empregou em 1939, quando lançou Lana Turner como “estrela”, ao lado de Marsha Hunt, Jane Bryan e Anita Louise em “Estas Grãfinas de Hoje” (These Glamour Girls), ambos histórias do que sucedia quando uma estudante de origem modesta ingressava em escolas só para moças ricas ou de famílias finas.”

*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 29/11/81.



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