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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Ingrid Bergman

Por Gabriel Carneiro

29 de agosto é uma data marcante para uma das musas do cinema clássico. Em 1915, seria seu nascimento, na capital sueca, Estocolmo. Em 1982, sua morte, em Londres. Ingrid Bergman completava 67 anos quando faleceu, devido a um câncer no seio. Foram sete anos de luta. Entre seus 67 anos de vida, Ingrid tornou-se uma das damas de Hollywood, impactando não somente o cinema americano – e mundial -, como o italiano e sueco. Sua beleza e talento lhe garantiram 3 Oscars e muitas ovações.

Ingrid começou cedo nas artes dramáticas. Órfã de mãe aos três anos e de pai aos doze, ela passou o resto de sua adolescência com um tio solteiro, que herdara uma loja de fotografia do pai. Foi sob a tutela dele que fez sua primeira aparição no cinema, não-creditada, com uma garota que espera na fila, no longa Landskamp, de Gunnar Skoglund. Um ano depois, ao se graduar do colegial, entrou para a Escola Real de Arte Dramática, em Estocolmo, cursando por um ano. Nesse ano, 1933, com apenas dezoito anos, estreou nos palcos suecos.

O primeiro papel com falas no cinema veio em 1935, em Munkbrogreven, de Edvin Adolphson. Faria mais três filmes nesse ano, todos eles como protagonista. Em 1936, atuaria no filme que lhe levaria a Hollywood, Intermezzo, de Gustaf Molander. No filme, ela interpreta a filha do professor de piano de um famoso violinista, com quem tem um caso amoroso. O filme chamou a atenção do produtor americano David O. Selznick, que o refilmaria, e levaria Ingrid aos EUA. No intervalo entre os dois Intermezzo, ela fez mais quatro filmes, todos na Suécia. Intermezzo, uma história de amor, data de 1939, e foi dirigido por Gregory Ratoff.

Em 1937, Ingrid se casara com o dentista e futuro neurocirurgião Petter Lindstrom. No ano seguinte, nasceria sua primeira filha, Friedel Pia.

Uma nova da era da vida de Ingrid começaria. Hollywood cairia aos seus pés, assim como o público. Além de o casamento ir de vento em popa. Selznick e Ingrid assinaram um contrato de sete anos – mesmo que só mais dois filmes fossem feitos: o longa Quando fala o coração e o curta American Creed. Em 1940, Ingrid estreou nos palcos americanos, na Brodway, na peça Lilliom.

Em 1941, estrela dois filmes que confirmam a fama de boa moça, de santa, de Ingrid Bergman: Os Quatro Filhos de Adam, de Ratoff, e Fúria no Céu, de W. S. Wan Dyke. O bom mocismo, porém, só serviu para provocar a vivaz garota de 26 anos. Ela queria mais, um papel que fugisse de uma possível estereotipo.

O Médico e o Monstro, versão de Victor Fleming, foi o caminho trilhado. Contam que Ingrid pediu ao diretor e aos chefões da MGM para trocar de papel com Lana Turner. Eles aceitaram, e isso acarretou na mudança de persona da atriz vista nas telas.

O papel que imortalizou Ingrid Bergman, porém, estaria por vir. Em 1942, seria a sensual e enigmática Ilsa Lund, foragida de guerra, em Casablanca. O filme, dirigido por Michael Curtiz, mostra o que de mais puro teve Ingrid: a beleza clássica e plástica de uma musa de outrora. Figura sóbria, de forma simétrica: tudo parece ter sido criado para compor uma escultura renascentista. Tudo está em seu rosto, sua expressão, por mais horripilante que seja, por mais assustada, por mais insossa que seja sua reação, brilha, resplandece luz. Esse é o grande atributo dessa atriz sueca, seja feição fulgurosa está sempre com a mesma placidez. No filme, ela vai, foragida, com seu marido Victor Lazlo, a Casablanca, no Marrocos. Lá reencontra Ricky Blaine, amante dos tempos de Paris, que abandonou sem dar satisfação. O mistério dos olhos de Ilsa sintetiza a vida de Ingrid: ao ver Ricky, paira a incerteza – a paixão está lá, mas a destreza não vive sem a urgência do momento.

Em 1943, estrela Por Quem os Sinos Dobram, de Sam Wood, adaptado da obra de Ernest Hemingway. O filme lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar. Em 1944, com À Meia-Luz, de George Cukor, ganhou seu primeiro Oscar, como melhor atriz. No filme, vive uma ingênua mulher, que se casa com um homem experiente, e ao ir morar na casa da falecida tia, começa a ter alucinações.

No ano seguinte, mais três filmes de êxito: Os Sinos de Santa Maria, de Leo McCarey, que lhe rendeu a terceira indicação ao Oscar; Mulher Exótica, de Sam Wood; e Quando Fala o Coração, sua primeira parceria com Alfred Hitchcock. Em 1946, a segunda parceria com Hitchcock, no célebre Interlúdio, em que interpreta uma jovem, que passa os dias atrás de homens e álcool, após seu pai ter sido condenado como espião alemão durante a 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que é seu papel mais expressivo no cinema.

Mais três filmes se seguiram: O Arco do Triunfo, segunda adaptação de Lewis Milestone da obra Eric Maria Remarque, Joana D’Arc, adaptação da peça coma própria Ingrid – a montagem lhe rendeu um Tony -, e a terceira parceria com Hitchcock, Sob o Signo de Capricórnio.

Em 1949, Ingrid escreveu uma carta para o diretor italiano neo-realista Roberto Rosselini, demonstrando interesse em atuar em algum de seus filmes. No ano seguinte, estrelaria Stromboli, a primeira parceria com o diretor.

Ainda casada com Petter Lindstrom, ela iniciou um caso extraconjugal com o cineasta italiano, e dele engravidou. O casamento de Ingrid, assim como o de Roberto, não ia bem. O adultério foi apenas conseqüência disso. Divorciaram-se, e casaram. A imagem de Bergman nos EUA mudaria muito com esse vento. A imagem de santa já não mais combinava com o moralismo americano. O filho Roberto nasceu antes do casamento. Em 1952, nasceria duas outras filhas, gêmeas, Isolda e Isabella.

Morando na Itália, fez mais cinco filmes, todos com o marido: Europa 51, Viagem à Itália, O Medo, Joana D’Arc de Rosselini e um episódio de Nós, as Mulheres. Em 1956, quebraria o monopólio do marido, indo filmar com Jean Renoir: As Estranhas Coisas de Paris. Com o sucesso do filme francês, Ingrid voltou a ter status nos EUA, e foi chamado para estrelar Anastácia, que lhe garantiu o segundo Oscar de melhor atriz. O casamento com o italiano acabaria no ano seguinte. Casou-se com Lars Schmidt, um produtor teatral sueco, no final do ano.

Durante a década de 60, teria papéis insignificantes em sua carreira, e trabalharia principalmente no teatro e na televisão, então ascendente. Ressurge em Assassinato do Expresso Oriente, em 1974, de Sidney Lumet, que lhe rendeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante. Em 1975, divorciou-se do terceiro marido. No mesmo ano descobriu um câncer no seio. A luta duraria sete anos. No intervalo, atuou no filme de outro famoso Bergman, o Ingmar, com quem não tem nenhum parentesco. Sonata de Outono chegaria aos cinemas em 1978. O último papel foi na televisão, no papel da primeira ministra de Israel, Golda Meir, na cinebiografia, A Woman Called Golda.

Ingrid morreu em sua casa, em Londres, foi cremada, e suas cinzas jogadas nas costas suecas. Parte foi guardada e enterrada no Cemitério Norra Begravningsplatsen, em Estocolmo.

No próximo dia 29 de agosto (de 2008), serão 26 anos sem Ingrid, uma das grandes musas do cinema clássico.




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