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GRANDES FILMES PERDIDOS DA BOCA: realizadores de um filme único - parte 2

Por Matheus Trunk

Como ainda existem diversos realizadores que estão esquecidos, Zingu! não perdeu tempo e coloca aqui outros diretores da Boca de um único filme. Tratam-se de filmes malditos completamente ignorados pela crítica oficial do cinema tupiquim. Aqui reuni outros diretores que estão completamente esquecidos.

5. O CONTO DO VIGÁRIO (1984)

Direção: Kleber Afonso
Num passado não muito distante, os cinemas “poeira” do interior do Brasil viviam lotados. O chamado “filme sertanejo” era o gênero preferido desses espectadores. Os dois primeiros filmes protagonizados pelo ídolo Sérgio Reis (O Menino da Porteira e Mágoas de Um Caboclo) tiveram expressivas bilheterias. O ator Kleber Afonso resolveu fazer uma fita semelhante utilizando o cantor e apresentador Barros de Alencar e a cantora Nalva Aguiar. Apesar das boas intenções, o resultado foi pívio e Afonso nunca mais fez outro filme.
Depoimento:
“Esse filme tem uma coisa muito engraçada. Ele foi feito duas vezes, porque a Censura Federal não aceitou a primeira versão. Só então, eles me procuraram para montar esta película. O curioso é que no material não tinha nada erótico ou mesmo político. Eles resolveram proibir o filme porque não tinha nenhuma qualidade. Creio que 1/3 foi refilmado, com outro diretor de fotografia também. Na verdade, o argumento e a direção deste filme foram concebidos e feitos de uma maneira completamente amadora. Tentaram fazer algo com cantores sertanejos mesmo, numa coisa desse estilo musical. Todas as falas dos personagens eram fundamentadas para serem compreensíveis para as crianças, como são hoje os filmes da Xuxa, por exemplo. Tanto que nas salas em que foi exibido, “O Conto do Vigário” era programado nas matinês. Acredito que provavelmente a fita não se pagou e deixou o diretor e produtor em sérios problemas monetários.” Máximo Barro, montador de “O Conto do Vigário”.

4. PRÍNCIPE NATAN E A PRINCESINHA CURIOSA (1988)
Direção: Pedro Luiz Nóbile
Em 1988, a Boca do Lixo estava dominada pelo cinema explícito. Os poucos realizadores que sobraram na rua do Triunfo faziam filmes pornográficos buscando um lucro rápido e fácil. Mas alguns ainda tentavam fazer trabalhos livres para um público popular. Pedro Luiz Nóbile foi um desses. Técnico de som em inúmeras pornochanchadas nos anos 70 e 80, ele sonhava em finalmente conseguir dirigir um longa-metragem. Acreditem se quiser: Nóbile conseguiu fazer um filme infantil nos tempos que a Boca estava dominada pelo cinema pornô.
Depoimento:
“Foi realmente uma fita infantil. Foi uma coisa bem diferente dos filmes que fizemos na Boca como “Histórias Que As Nossas Babás Não Contavam”, por exemplo. Era bem Rá-Tim-Bum mesmo. Informações sobre a comercialização do filme eu não sei, só participei da fotografia mesmo”. Rubens Eleutério, diretor de fotografia e câmera de “Príncipe Natan e a Princesinha Curiosa”.

3. OS PANKEKAS E O CALHAMBEQUE DE OURO (1979)
Direção: Antônio Moura Matos
A comédia foi o gênero cinematográfico mais explorado pelos cineastas nacionais. Isso é regra na cinematografia tupiniquim desde os tempos das chanchadas carnavalescas. Na Boca de São Paulo, não era diferente. Muitos realizadores faziam comédias eróticas tão bem acabadas, que com certeza podem ser comparados a mestres como Monicelli e Dino Risi. Antônio Moura Matos foi para a área cinematográfica pelas mãos do ator Mário Benvenutti, seu grande amigo. Fez essa fita na linha das películas que seu amigo José Miziara realizava. Contando com um bom elenco repleto de humoristas consagrados da televisão como Ronnie Cócegas, Clayton Silva, Gibe e Theobaldo.

2. POR QUE AS MULHERES DEVORAM OS MACHOS? (1980)
Direção: Alan Pek
Natural de Porto Alegre, José Alexandre Paledzki chegou em São Paulo em 1964. Interessado em ingressar na área cinematográfica, adotou o pseudônimo de Alan Pek. Todos são unânimes quanto a influência de Glauber Rocha e de seu Revisão Crítica do Cinema Brasileiro neste diretor gaúcho. Pek foi assistente de câmera do fotógrafo Waldemar Lima em “As Libertinas” (de João Callegaro, Antônio Lima e Carlos Reichenbach). Sua única incursão na direção foi um drama erótico sobre a opressão do homem pela mulher. A cópia ninguém sabe, ninguém viu.
Depoimento:
“Faz décadas que não tenho notícias do Alan. Eu vi esse filme dele no cinema somente no lançamento. Era uma coisa bastante machista. Dava para perceber que era um trabalho bastante pessoal, fugia do lugar comum e talvez por isso o filme tenha tido uma carreira tão limitada. Eu tive um contato muito esporádico com o Alan e por isso não posso dar muitas informações sobre ele”.
Carlos Reichenbach, cineasta que teve Alan Pek como seu assistente de câmera em “As Libertinas” (1968).

1. VIÚVAS PRECISAM DE CONSOLO (1979)
Direção: Ewerton de Castro
Secretárias, empregadas, freiras, viúvas. Todos os tipos de mulheres eram exploradas pelas nossas pornochanchadas. Ator consagrado do teatro e televisão, Ewerton de Castro ingressou na direção de longas-metragens justamente neste vilão. No elenco, haviam veteranos como Hélio Souto e Henriqueta Brieba e iniciantes como Ênio Gonçalves, Marcos Caruso e a musa Aldine Müller. A fotografia foi de Carlos Reichenbach e a montagem do professor Máximo Barro. Comédia requintada, o filme passou despercebido em seu lançamento.
Depoimentos:
“Foi ótimo fazer esse filme. O Ewerton tratava a gente como uma mãe mesmo, muito legal. Foi nesse filme que eu fui introduzido a um dos melhores diretores de fotografia da época: Carlos Reichenbach”. Tony Gorbi eletricista em “Viúvas Precisam de Consolo”.

“Eu fui um dos sócios do filme do Ewerton. Ele fez tudo nesse filme, somente não trabalhou como ator. Quase tudo foi filmado numa mansão no bairro do Ipiranga, onde tinha sido uma novela que o Ewerton tinha feito. Foi uma produção muito bem feita, tínhamos atores de todas as idades. Durante toda a parte de montagem, o diretor permaneceu do meu lado e a nossa relação foi a melhor possível. O resultado de bilheteria não foi satisfatório e ele acabou se decepcionando com isso. Até hoje somos amigos, principalmente porque somos dois grandes amantes da música clássica. Ele utilizou muitas músicas soviéticas clássicas durante a película já que não pagamos os direitos autorais das trilhas sonoras dos filmes da época”. Máximo Barro, montador e co-produtor de “Viúvas Precisam de Consolo”.

“Na verdade, esta fita do Ewerton não pode ser chamada de pornochanchada. Ela se baseava naqueles filmes do Luigi Comencini, aquelas comédias italianas de situação de caras como o Steno. Tinha um elenco enorme, muitos vindos da TV Tupi. O Ewerton sempre foi um ator de formação verdadeiramente teatral e isso acaba refletindo na direção dele. Esse trabalho como outro que eu fiz na época como técnico, “Doce Delírio” do Manuel Paiva não podia ser comparado com a comédia erótica costumeira daquele período. O título “Viúvas Precisam de Consolo” não tinha relação nenhuma com o conteúdo. Pra dizer a verdade, era um excelente produto cinematográfico. Era um filme popular feito com requinte e sofisticação, que não foi lançado como merecia verdadeiramente. De todos os diretores que eu trabalhei somente como diretor de fotografia, o Ewerton foi um dos melhores, tão intuitivo quanto o Jean Garrett. Ele era excepcional e seguro: sabia o que queria de mim, dos outros técnicos e de todos os atores da produção. Me lembro que todos ficamos no set de filmagem com extremo bom humor. Sinto hoje falta de diretores como ele que tinha grande talento.” Carlos Reichenbach, cineasta e diretor de fotografia de “Viúvas Precisam de Consolo”.




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