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Especial Carlos Imperial

OS FILMES DE IMPERIAL E A CRÍTICA

Seleção e transcrição: Matheus Trunk

Em breve, o Canal Brasil irá exibir alguns dos filmes de Carlos Imperial. Como não conseguimos ter acesso aos trabalhos dele, Zingu! publica aqui algumas críticas dos filmes publicadas originalmente na época de lançamento das películas.

UM EDIFÍCIO CHAMADO 200, 1973

UM EDIFÍCIO CHAMADO 200

Extraído de uma peça que ficou bastante tempo em cartaz, o filme focaliza a vida de um daqueles cariocas que vegetam em um conjugado de Copacabana, fugindo ao trabalho, esperando acertar na sorte grande ou os treze pontos. O anti-herói Gamela (Milton Morais) se envergonha de sua origem suburbana, cultiva o moralismo e se acredita mais esperto que os outros. Há nele bastante de cafajeste e um pouco sonhador ingênuo- o que, sem dúvida, contribui para tornar o personagem simpático ao público.

Mas a transposição da peça para a tela não resultou em um espetáculo: cenas e diálogos que talvez foram engraçadas no palco ficam muito monótonos no cinema, já que a direção raramente aproveita a câmera em outro décor que não seja das quatro paredes do minúsculo apartamento onde o personagem convive com duas mulheres e centenas de fantasias de grandeza. Também aquilo que pode existir de patético no anti-herói é pouco explorado, colocando-se em relevo apenas o que pode provocar riso fácil, através de piadas banais e de situações que lembram as velhas chanchadas. Apesar do argumento desperdiçado, houve, no entanto, a tentativa de fugir da vulgaridade que predomina em certas produções nacionais, o que deve ser considerado como um ponto a favor do filme.
Crítica de Maribel Portinari publicada originalmente em “O Globo” em 25 de outubro de 1974

CONHEÇA O NOVO CARLOS IMPERIAL
Se você ainda está pensando que Carlos Imperial é um simples apresentador de programas de rock, compositor especializado em certas pilantragens que lhe renderam alguns milhares de cruzeiros ou um caçador de vaias de auditório da televisão paulista- você está muito enganado. O Imperial de hoje, depois de se destacar em todos os setores em que conseguiu penetrar- música, teatro, jornalismo, divulgação, promoção, o diabo a quatro- é hoje um produtor cinematográfico responsável, que descobriu que trabalhar com seriedade, dentro dos prazos, respeitando compromissos, ainda é o melhor negócio deste mundo.

Aquele Imperial barbudo, de camiseta bordada, chinelão, calça caída, morreu. Veja a última foto deste homem que lutou contra todas as forças que Deus lhe deu para ser mais cafajeste e não conseguiu: em seu lugar apareceu um sujeito que merece o respeito e a confiança de banqueiros, atores, atrizes, iluminadores, diretores da Embrafilme e do próprio público, que, agora, é obrigado- na falta de coisa melhor- a discutir seus trabalhos mais recentes, entre os quais A Banana Mecânica e Um Edifício Chamado Duzentos.

Aqui está o nosso companheiro Antônio Ivan, que não nos deixa mentir: no lançamento de Um Edifício Chamado Duzentos, ontem, no Cinema Leblon foi um sucesso. E, no São Luis, ali no Largo do Machado, perto do butiquim das celebridades, não havia lugar disponível pelo menos na sessão das 10. Na tela, Milton Morais dando um show digno dos melhores atores obrigados a funcionar nas condições oferecidas pela produção e direção de filmes do gênero. E Tânia Scher. E Kate Lyra. Tudo limpo. Sem apelação. Sem qualquer apelo a pornografia. Enfim: todo mundo fazendo um trabalho sério. Um Edifício Chamado Duzentos é um filme bom? É um péssimo filme? Isso absolutamente não interessa a cidade. Um Edifício Chamado Duzentos é uma realização de Carlos Imperial. Um homem sério, que agora sabe quando custa o talento alheio.
Publicada originalmente em “A Notícia” em 24 de outubro de 1974

O SEXO DAS BONECAS, 1974

E aí que de repente, o filme “O Sexo das Bonecas” foi liberado para maiores de 14 anos, numa prova que não se trata, de um trabalho a serviço dos maus pensamentos. Se a Censura Federal tomou essa medida, é porque viu na obra de Carlos Imperial, um trabalho sério, com uma mensagem muito importante para os jovens. Espantam-se os falsos moralistas. Entre deslumbrados e perplexos, ficaram se perguntando: por quê?

Ora, quando Carlos Imperial entrou no mercado do cinema todos os mortos e vivos se transformaram em cartomantes e vaticinaram uma enxurrada de pornochanchadas, o erotismo na tela livre e a preços módicos, como nas famosas revistas suecas e dinamarquesas. No entanto, Carlos Imperial de outra maneira e chegou até mesmo a produzir filmes infantis, entrando pelo cano.

Se nem mesmo os falsos moralistas assistiam aos filmes infantis, era necessário um trabalho de produção mais rígido. E nesse trabalho não poderia faltar o picante de uma cena proibida, mas que nunca chegou a ser realizada. Como bem disse o produtor, nas cenas em que o relacionamento íntimo entre casais se tornava mais íntimo do que nunca, sempre acontecia alguma coisa. Ora a cama quebrava; ora alguém abria a porta e interrompia aquilo. Portanto, não havia o que reclamar.

Hoje, com o filme liberado para maiores de 14 anos, conclue-se que Carlos Imperial está fazendo cinema sério, sem pensar em ganhar dinheiro a custa das taras. E ele vem aí com “Esquadrão da Morte”, outro grande filme que, espero, estoure nas bilheterias como “O Sexo das Bonecas” está fazendo. Quanto aos falsos moralistas, estes sim, deviam ser proibidos.
Publicado originalmente em “A Notícia” em 8 de julho de 1976

O ESQUADRÃO DA MORTE, 1975

ENCENAÇÃO ARTIFICIOSA NO “ESQUADRÃO DA MORTE”

Ao entrar no difícil campo do filme policial, Carlos Imperial teve como ponto de partida um caso real. Em setembro de 1967, ladrões assaltaram uma fábrica no Estado do Rio, levando 500 mil cruzeiros. Durante a fuga, a polícia matou ou prendeu marginais envolvidos no roubo, mas, curiosamente nunca conseguiu recuperar o dinheiro.

A ação do “O Esquadrão da Morte”- apesar do título, o filme não tem nada haver com o sinistro esquadrão que vez por outra aparece em cartaz nos jornais- se passa em 1973 quando Rato Branco (Stênio Garcia), um puxador de carros, é posto em liberdade. Juntamente com Beto (Carlos Vereza), companheiro de presídio, Rato parte no rastro de um tal de Gringo, que, segundo afirma, teria ficado com os 500 mil. Durante a busca, a câmara registra sem revelar o rosto do criminoso, assassinatos de pessoas relacionadas com o misterioso Gringo.

Apesar de escudado na realidade, o roteiro, de autoria de Imperial e Hélio Soveral, troca a linha-documental por uma encenação de mistério artificiosa e mal solucionada em termos cinematográficos. O enfoque psicológico, tanto em relação a Rato Branco quanto a Beto, surge na tela de forma primária e gratuita. Os personagens agem com exagero e a direção mostra-se incapaz de controlar os atores, particularmente os excessos histéricos de Carlos Vereza.

O próprio Imperial ainda não acertou como diretor. Como no seu filme anterior, O Sexo das Bonecas, o atual também se ressente de falta de ritmo e um imobilismo cênico que amarra a ação, permitindo que, por vezes, a monotonia se faça sentir. Ou, ainda, que certas cenas alcancem o ponto de saturação. E o fato de querer acertar, de querer se impor como cineasta, embora seja um objetivo louvável, por si só, não é suficiente para que O Esquadrão da Morte seja o bom filme que Imperial gostaria que fosse. E isto, é claro, nada tem haver com as peripécias que Imperial fez ou faz fora da tela. É uma análise, certa ou errada, mas exclusivamente cinematográfica. Impessoal e independente.
Crítica de Valério Andrade publicada em “A Última Hora” em 4 de outubro de 1976

O SEXOMANÍACO, 1976


NADA DE NOVO

De acordo com o que haveria ocorrido numa cidade do Paraná, surgiu esse O Sexomaníaco. Uma maníaco sexual invadiu a residência de um casal da sociedade, amarrou o marido dentro de um armário e violentou a mulher. Preso, fugiu e retomou o seu método de ataque pondo em pânico a cidade. Diretor, roteirista, produtor, autor dos diálogos e co-montador, Carlos Imperial fez o que pôde para esticar o filme até transformá-lo em um longa-metragem, sem que a história tivesse substância para isso. O excesso de funções também não foi benéfico, pois claudica tanto na direção como na interpretação de atores e coadjuvantes. Acima de tudo, a câmera inutilmente em seqüências tolas (para esticar o filme) faz com que se acentue ainda mais, a queda do ritmo, tão necessário a esse tipo de fita, que pretende ser comédia. O resultado de uma pornochanchada tão inútil quanto centenas de outras.
Publicado originalmente no “Jornal do Brasil” em 05 de agosto de 1977

CINEMA - “O SEXOMANÍACO”

Numa cidade do Paraná, um homem invade a residência de um casal de alta sociedade, prende o marido num armário e submete a mulher a violências sexuais. Preso, é mantido sob vigilância constante em um manicômio judicial, de onde consegue fugir, em busca de novas vítimas.

Inspirando-se no acontecimento dramático, e que renderia mais um filme policial, Carlos Imperial elaborou o argumento e o roteiro de sua mais nova comédia “O Sexomaníaco”, que estréia na próxima segunda-feira, dia 1º de agosto nos cines Ópera I, Vitória, Tijuca-Palace, Astor, Olaria, Paz (Caxias), Éden (Niterói) e Vitória, em Vitória no Espírito Santo.

No papel título está o próprio Carlos Imperial, responsável também pela produção, direção e cenografia do filme. Os principais papéis femininos foram confiados a Sandra Escobar, Ana Maria Kreisler, Marluce Martins, Ivone Gomes e Lia Farrel. Jota Barroso, Isa Rodrigues, Teresinha Batista, Celeste Aida, Laja, “Radar”, Evaldo Medeiros e o locutor Roberto Figueiredo completam o elenco. A fotografia é de José Rosa e a música de Zé Rodrix.
Publicado originalmente em “A Luta Democrática” em 28 de julho de 1977

DELÍCIAS DO SEXO, 1980

DELÍCIAS DO SEXO

Carlos Imperial é uma das figuras mais populares do Brasil. Há três décadas ele se tornou famoso utilizando os veículos de comunicação-de-massa. E atingindo a extravagância como estilo, opção bem pensada de quem acha, que como a vida é curta, tem de ser aproveitada a cada momento e de todas as formas. Ele troca a estética e manda ás favas a ética. Nesta comédia alucinada, que fará Imperial até mais rico, ele é simultaneamente argumentista, roteirista, diretor, músico, montador e produtor além de ator principal. O enredo é simples: um casal sem preconceitos monta uma festa em casa, perto da ceia de Trimalquião, que Petrônio Arbiter tão bem descreve em “Satiricon”, é uma centena de vezes mais desinibida. Tudo ocorre em termos de sexo e sadismo. Imperial reuniu mulheres lindas e só uma, atriz de verdade, Ana Maria Kreisler, acolitada por um marido complacente, o excelente Celso Faria. O resto é um amontoado de barbarismos lingüísticos e solecismos cinematográficos. É só para alguns intelectuais iniciados, Imperial inventa uma indagação esotérica, que é refrão do pornodrama: “Onde está o Falcão?” Isto pode dar samba, cinema nunca.
Critica de Salvyano Cavalcanti de Paiva publicada originalmente no “O Globo” sem referência de data

MULHERES, 1981

UM POEMA ERÓTICO

A mulher está morrendo e todos choram em torno, de repente, ela começou a gritar: “Fausto! Fausto! Vem meu amor! Antes de morrer quero ter seu último orgasmo!” E Fausto aparece, transtornado, cambalente, cheio de angústia, com as mãos cobrindo o rosto. Mas o público começa a rir, porque Fausto e Carlos Imperial, gigantesco, grotesco, com sua máscara impressionante, interpretando o instrumento através do qual a moribunda atingirá o seu clímax derradeiro. Assim é o início do novo filme de Imperial, intitulado Mulheres e cujo enredo é impossível de prosseguir nesta revista. Principalmente, porque se baseia num dos mais eróticos contos de Píer Paolo Pasolini, o poeta e cineasta italiano tragicamente morto em 1975. Para realizá-lo, Carlos Imperial gastou um mês de imagem, mas levou dois anos criticando, preparando e montando cena por cena, com um requinte e um senso poético à altura do leitor do conto. O resultado é um poema cinematográfico digno de figurar entre as obras-primas do erotismo. Sem contar que as atrizes do filme são todas escolhidas a dedo: Soninha Montenegro, Cláudia Castelli, Rosângela Bernardi, Marly Mendes e Dália Drumond, cada qual interpretando um pesadelo do próprio Imperial, cuja figura lembra os magistrais Emil Jannings e Raimu.
Critica de Justino Martins publicada originalmente na revista “Manchete” de 17 de outubro de 1981



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