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Mojica é um cineasta que, como é artista, é como um dos nossos mais importantes pintores naïf. São geniais, são inventores, quando trabalham com total independência. O grande pintor naïf não pinta para agradar crítico, pinta para ele. Mojica é um artista primitivo em sua melhor essência. Há uma religiosidade tão incubada. O fato de, às vezes, você não ter condições financeiras para realizar seu filme é o passaporte para sua liberdade.

Sua genialidade está na ausência em querer ser gênio. Ele é um artista absolutamente instintivo, no melhor sentido do termo. Ele é puro instinto. É tanto instinto que ele cria um personagem fictício para retratá-lo.

Existem dois grandes personagens no cinema brasileiro: Antônio das Mortes, do Glauber, e Zé do Caixão. São personagens que estão além do bem e do mal. Justamente por estarem além dessa dicotomia, vivem em nosso imaginário. São personagens angustiados. A importância de Zé do Caixão vai além de sua importância para o cinema de horror nacional, sua importância é para a dramaturgia cinematográfica brasileira. Há uma tradição da tragédia da grega, sobre a dualidade bem e mal. Passa-se questionando o tempo inteiro. Zé do Caixão vai até o inferno para descobrir que o homem vive nessa dicotomia. Só hás dois personagens cinematográficos brasileiros que reconhecem essa perspectiva trágica: Antônio das Mortes e Zé do Caixão.

Como pessoa, Mojica é uma doçura, um cavalheiro, uma simpatia. Um gênio!

Carlos Reichenbach é cineasta, músico, fotógrafo e já atuou. Diretor de Dois Córregos, Alma Corsária, Filme Demência, Falsa Loura, entre outros, fez pontas nos filmes Ritual dos Sádicos e Finis Hominis, de José Mojica Marins



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