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Dossiê José Mojica Marins

24 Horas de Sexo Explícito
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1985.

Por Sergio Andrade

Em 1985, o pornô já dominava a produção de filmes na Boca do Lixo paulistana e a maioria de seus diretores. Mesmo os mais empenhados tinham aderido ao gênero ainda que a contragosto. Pois nesse ano, Mojica também realizou seu primeiro filme de sexo explícito (A 5ª Dimensão do Sexo era um filme comum ao qual foram acrescentadas cenas explícitas depois). Mas, ao contrário de muitos colegas de profissão, não usou pseudônimo, assinando com seu nome completo.

Como conta na entrevista que deu a Arthur Autran e Eugênio Puppo para o livro-catálogo José Mojica Marins - 50 anos de carreira, ele aceitou dirigir 24 Horas de Sexo Explícito com a condição de que o produtor Mário Lima produzisse também Encarnação do Demônio, caso o filme fizesse sucesso.

Silvio Jr., Walter Laurentis e Antônio Rody, três atores famosos dos filmes pornográficos na época, interpretam eles mesmos. Depois de lerem uma matéria do jornal Notícias Populares que os chama de Os Campeões do Sexo Explícito no Brasil decidem fazer uma disputa de sexo para saber quem é o melhor entre eles. Aquele que conseguir gozar mais vezes em 24 horas será o vencedor.

Para um filme com esse título, a “ação” demora bastante pra começar. Tem até a apresentação musical completa de um certo “cantor convidado”, Marcos Marcil, no restaurante onde Silvio vai pedir emprestada a casa de praia de um amigo.

Conseguida a casa, as garotas e o juiz (gay, obviamente), com 20 minutos de filme tem início a competição. Mas este, definitivamente, não é um filme pornográfico comum.

Para começar, há um certo clima de confronto entre os caras e as garotas. Rody reclama com Silvio da feiúra das moças e pergunta se ele as arrumou na figuração do Zé do Caixão. Durante a suruba, homens e mulheres trocam farpas entre si, provocam uns aos outros com diálogos do tipo:

Ele: “...a minha trombeta está esfolando...parece que você fez transplante de cabaço, porra!”

Ela: “O que é isso, hein? Cabaço só se for no umbigo, porque na orelha já foi há muito tempo.”

Convenhamos que não é o tipo de conversa que se espera ouvir no meio de uma transa. E quando Walter desiste da competição alegando que não consegue mais comer aqueles bagulhos, é obrigado a ir embora ouvindo o coro delas: “broxa, broxa, broxa” - apenas abrindo um parêntese: elas não são tão feias assim, não, algumas são até bonitinhas ou, no mínimo, jeitosas; fecha parênteses.

O juiz também faz seus comentários, incentivando os rapazes na hora do gozo. E lá pelas tantas aparece um papagaio, que não se furta a dar suas opiniões e até tirar um sarro dos caras. São cenas que provocam mais o riso do que a excitação do espectador. Por isso que o filme está mais para a comédia erótica, como as que o próprio Mojica realizou, tal qual Como Consolar Viúvas, do que para um pornô tradicional.

A única cena de sexo mais sensível e excitante é uma transa lésbica, que acontece antes da famosa seqüência explícita da mulher transando com o pastor alemão. E tem uma seqüência logo em seguida, entre um homem e um cavalo (não explícita), que não é tão lembrada. Cachorro e cavalo igualmente tecem seus comentários irônicos sobre a situação. Ah, sim, tem um diálogo entre um pinto e uma xoxota também.

Enfim, 24 Horas de Sexo Explícito fez um sucesso estrondoso, ficando meses em cartaz. Mojica lamenta que Mário Lima não tenha cumprido a promessa de lhe pagar 10% da renda do filme, pois com esse dinheiro ele teria feito Encarnação do Demônio. Teve que aguardar mais alguns anos até conseguir realizar seu sonho.



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