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Dossiê José Mojica Marins

José Mojica Marins – 50 Anos de Carreira (livro-catálogo)
Organização e edição: Eugênio Puppo

Por Raphael Carneiro, especialmente para a Zingu!

A Retrospectiva de 50 anos de Carreira de José Mojica Marins gerou dois “filhos” célebres, obrigatórios para qualquer pessoa que se considere fã de cinema. O primeiro foi o filme A Praga, finalizado especialmente para a ocasião, e que é um dos melhores filmes da carreira do homem. Infelizmente, quem não o assistiu durante as exibições especiais, dificilmente conseguirá vê-lo tão cedo, já que até agora ninguém se animou a lançar comercialmente - ainda é um problema ser cineasta autoral e não fazer concessão no país do Daniel Filho. O outro filho é o livro-catálogo da retrospectiva. Trata-se de uma das obras mais completas e importantes sobre a carreira do mestre, e para completar, vem embalada por um trabalho gráfico de extremo bom gosto.

Organizada e editada pelo incansável Eugênio Puppo (que organizou a retrospectiva, o catálogo e ainda teve tempo para finalizar A Praga), o livro tem como grande destaque uma entrevista exclusiva com Mojica (nascida de uma série de conversas entre o Mestre, Puppo e Arthur Autran). Nela, o cineasta abre seu coração e fala sobre sua carreira, vida pessoal, nascimento da personagem que o marcaria pra sempre, entre outras coisas - é interessante ler as diversas histórias, hoje já folclóricas, de maneira mais detalhadas, como o filme mais assustador já viu.

O que irá fazer a delícia dos cinéfilos são os artigos críticos a respeito dos filmes, que cobrem todas as obras do nosso querido Mojicão – com exceção do filme perdido Dr. Frank na Clínica das Taras. Se não bastassem as fotos da produção, os textos, assinados por nomes como Remier Lion, Inácio Araujo, entre outros, apontam minúcias que passam despercebidas para muita gente, como a força da “brasilidade” do cinema de Mojica, além de seu refinamento estético contrastando com os orçamentos parcos. O melhor desses artigos é perceber, por trás das análises críticas, todo o respeito e admiração que essas pessoas têm por Mojica e seu cinema.

O livro-catálogo, porém, não é só feito de entrevistas e artigos. Há ensaios fantásticos, que dão uma perspectiva mais ampla e universal da obra do homem. Aliás, só esses ensaios já servem para dar um tapa na cara de moleque espinhento que gosta de falar sobre cinema em Orkut e despreza o Mojicão, taxando-o de trash, sem ao menos saber o significado do termo ou ter visto qualquer um de seus filmes. Entre os ensaios, destaco Personagens Antípodas, de Alexandre Agabiti, que discorre a respeito das mudanças pelas quais o personagem Zé do Caixão passou através dos anos. Não preciso nem dizer que o ensaio de Marcos Aurélio Lucchetti, denominado Zé do Caixão e os Quadrinhos é leitura obrigatória para quem gosta de cinema e HQs.

A parte realmente emocionante do catálogo é são os depoimentos pessoais. Gustavo Dahl, Carlos Reichenbach, Tim Lucas, George Michel Serkeis, o inseparável e fantástico Rubens Lucchetti, Nilcemar Leyart (ex-esposa de Mojica e montadora talentosa) e Luiz Elias foram conjurados para dar seu depoimento a respeito de Mojica e de suas obras, e o resultado é não menos que marcante. O carinho e admiração transbordam das páginas do livro.

Para fechar com chave de ouro, temos um glossário da entrevista com o Mestre, com uma micro-biografia de cada pessoa que foi citada durante as conversas, além de breve histórico das empresas que faziam cinema na época. O grande Carlos Primati ainda nos presenteia com um “pequeno” dicionário de cinema fantástico, compilando em 69 verbetes tudo que há de mais importante nesse gênero sensacional.

Trata-se de um trabalho de mestre, com conteúdo simplesmente imperdível, completo, e uma editoração belíssima. Um dos muitos triunfos do evento cultural mais importante de 2007.

Raphael Carneiro é ex-colunista da Ruído, na Zingu!, e fã confesso de José Mojica Marins.




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