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Dossiê José Mojica Marins

A Estranha Hospedaria dos Prazeres
Direção creditada: Marcelo Motta
Direção não-creditada: José Mojica Marins
Brasil, 1975.

Por Sergio Andrade

A Estranha Hospedaria dos Prazeres tem uma história de bastidores que vale a pena ser contada. O filme leva a assinatura de um certo Marcelo Motta. Mas quem é esse cara? Mojica, na entrevista que deu ao livro-catálogo elaborado para acompanhar a mostra José Mojica Marins – 50 Anos de Carreira, esclarece que Marcelo era um aluno dele. Quando um produtor francês sugeriu a realização de um filme, Mojica, que queria incentivar alguns dos alunos a seguir carreira de diretor, indicou o nome de Marcelo, porque ele sempre se mostrava interessado em aprender e em ajudar no que fosse preciso. Mas Marcelo tinha problemas com a namorada, por quem era apaixonado e fazia questão que ela o acompanhasse nas filmagens. A garota, porém, não gostava dele. Mojica tentou convencê-la a continuar com o namoro pelo menos até o filme ficar pronto. Não adiantou muito, porque ela logo em seguida terminou o relacionamento. Marcelo pirou e deixou o filme sem pé nem cabeça, fazendo com que Mojica assumisse a direção. Deixou, porém, o crédito de diretor com o aluno, aparecendo apenas como supervisor.

O filme começa com um ritual satânico do qual participam belas mulheres de lingerie e pessoas com máscaras monstruosas, tudo remetendo mais a um passeio no trem-fantasma de parque de diversões do que a algo realmente tenebroso.

Depois dessa introdução, digamos assim, tem início a trama propriamente dita. Mojica representa aqui um personagem bem diferente do Zé do Caixão - mas as unhas e a barba continuam as mesmas. Ele é o gerente da Hospedaria dos Prazeres, onde, numa noite tempestuosa de uma sexta-feira 13 do mês de agosto, chegam diversas pessoas procurando vagas e ficam surpresas ao saber que já tinham reserva.

Trata-se de uma fauna humana bem diversificada: namorados, adúlteros, hippies, viciados em jogos, empresários corruptos, ladrões de jóias, suicidas, etc. Todos terão uma longa noite de loucuras, em que todos os excessos serão permitidos, até chegar o momento em que a terrível realidade será revelada aos personagens e aos espectadores.

Apesar dos problemas de produção, o filme é bem amarrado, com uma narrativa envolvente que inclui algumas das cenas mais surrealistas criadas por Mojica. E é também um dos melhores exemplos daquilo que o físico Mario Schenberg mais admirava no cinema dele, a celebração da beleza feminina.

Quando no final, confrontado pelos hóspedes, alguém lhe pergunta quem afinal ele é, o gerente da hospedaria responde: “Não desperte a besta que vive em mim; deixe que o meu descanso seja a sua ressurreição”. Falar mais o que depois de uma dessas?




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