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Dossiê José Mojica Marins

A Mulher que Põe a Pomba no Ar
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1977.

Por Matheus Trunk

O crítico e ensaísta Paulo Emílio Salles Gomes tornou-se bastante conhecido por sua defesa intransigente do cinema nacional. Uma de suas frases mais famosas diz que na impossibilidade de fazer um filme similar ao modelo estrangeiro, nossos cineastas populares conseguem criar algo novo e diferenciado.

Uma fita que está completamente relacionada com essa frase é A Mulher Que Põe a Pomba no Ar, de José Mojica Marins. O elenco, o enredo e mesmo os efeitos especiais lembram muito as histórias contadas, em programas populares de rádio AM, por Eli Corrêa, Gil Gomes, Altieres Barbiero, entre outros.

Também se pode estabelecer comparações da fita com histórias vinculadasa publicações femininas para mulheres de origem humilde como Ti Ti Ti, AnaMaria, entre outras, e à obra de cantoras cafonas que cantam as histórias das “amadas amantes” como Cláudia Barroso e Carmem Silva.

Única pornochanchada umbandista da história, o filme foi bancado por Rosângela Maldonado, atriz que faz o papel principal da película. Ela é a doutora Adelaide, uma milionária idosa que tem uma missão na vida: combater os homens mulherengos. Para isso, ela cria uma ordem de mulheres, que irão se reunir em uma casa para reuniões secretas. Por conta dos feitiços e macumbas das mais engraçadas e estranhas, a doutora e suas seguidoras conseguirão invocar pombas gigantes e voadoras.

Os animais irão atacar os pobres maridos justamente quando eles estão com as amantes. Alguns são agredidos enquanto estão numa pescaria, outros num baile de carnaval e assim por diante. A louca história irá tornar-se motivo de debate nacional, pauta de todos os jornais e presente em publicações de todos os tipos. Todos estão preocupados em não serem vítimas dos estranhos defensores das mulheres.

A idéia da vingança da mulher sobre os homens aparece em alguns filmes do período como Liliam, a Suja, de Antônio Meliande, e A Reencarnação do Sexo, de Luiz Castellini. Porém, a temática e a originalidade da dupla Maldonado/Mojica é realmente imbatível. Ninguém consegue parar de rir ao ver pessoas vestidas como ridículas aves gigantes - em disfarces picaretas que parecem saídos do programa do Sérgio Mallandro -, ferindo diversas pessoas com suas bicadas.

Por favor, amigo leitor, não espere de A Mulher Que Põe a Pomba no Ar uma obra-prima máxima de qualquer diretor europeu metido a besta. Trata-se de um filme extremamente divertido, feito na cara e coragem por um realizador autodidata que antes de iniciar sua carreira cinematográfica trabalhou numa fábrica de fósforos. De origem bastante humilde, José Mojica Marins nunca precisou freqüentar qualquer faculdade ou curso de cinema para intelectuais. Mojica é um criador oriundo da mesma universidade que formou os melhores diretores da história do cinema paulista como Tony Vieira, Alex Prado, Jean Garrett e tantos outros: a universidade da vida.

Talvez essa vivência da rua e do asfalto falte aos nossos novos criadores. Eles estão muitas vezes presos aos livros e aos professores. Falta a audácia, a coragem e mesmo a picaretice da geração anterior.



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