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Dossiê José Mojica Marins

Entrevista com Rubens Francisco Lucchetti

Por Matheus Trunk

Rubens Francisco Lucchetti, 78, é um dos maiores roteiristas da história do cinema brasileiro. Fez ao todo vinte roteiros, todos de gêneros terror e fantástico. Para José Mojica Marins, seu parceiro mais constante, fez 11 roteiros, entre eles, dos filmes O Estranho Mundo do Zé do Caixão, Finis Hominis, Exorcismo Negro e Delírios de Um Anormal.

Além desses trabalhos, Lucchetti é escritor de vários livros que se tornaram best sellers como O Crime da Gaiola Dourada e O Fantasma de Tio William. Sua colaboração na imprensa sempre foi intensa, tanto em jornais como em revistas.

Zingu! falou rapidamente com este grande nome da cinematografia nacional durante o lançamento da pedra fundamental do Centro de Documentação e Referência de Cinema de Altinópolis, município do interior paulista, em março deste ano.

Zingu! - O que o senhor está achando do Museu de Cinema feito em Altinópolis?

Rubens Francisco Lucchetti - Bom, tudo que se faz pela cultura cinematográfica eu acho importante. Isso falta, você vê um local onde as pessoas podem se reunir, onde tem material sobre filme brasileiro. Eu acho que todo esse material é difícil você conseguir reunir em um único local porque as coisas estão muito dispersas e a maioria está perdida.

Z - O senhor acha que é mais importante em uma cidade grande ou pequena?

RFL - Mais importante em uma cidade menor. Porque numa cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro se perde, aqui é mais fácil concentrar, pra tudo. Isso também ajuda pra chamar atenção a essa cidade, pra não ficar somente em Rio, São Paulo...

Z - Você ainda vai fazer muitos roteiros?

RFL - Isso eu não sei, está muito difícil. O gênero que a abordamos não tem muita aceitação. Eles querem um tipo de cinema que seja bastante focado na realidade. Eu não gosto disso, eu gosto de ficção mesmo.

Z - Suspense, terror.

RFL - É, suspense, terror, fantasia. Tudo isso me interessa.

Z - Como o senhor desenvolveu a veia por esses gêneros?

RFL - Bem, eu li muito. Edgar Allan Poe foi uma das primeiras leituras que tive. Robert Stevenson, Conan Doyle, esses autores todos foram me levando. Eu vim pro interior aos quinze anos, pra Ribeirão Preto e depois voltei pra São Paulo, Rio. Mas consegui desenvolver minha carreira de cinema. Na época, eu escrevia muito texto, histórias pra publicar em revistas, livros.

Z - E jornalismo?

RFL - Fiz muita colaboração pra jornal, mas sem ser jornalista. Escrevi muito sobre cinema, só que eu não fazia crítica de filmes, eu comentava. Era mais um cronista sobre cinema. Eu comentava certas coisas que o crítico comum não dá atenção. Essa parte chamava mais atenção pra mim. Implicava muito com o roteiro, o argumento. Minha preocupação sempre foi essa.

Z - Antes de conhecer o Mojica, o senhor pensava em desenvolver roteiros pra esse tipo de cinema?

RFL - Duas coisas que eu sempre quis fazer eram quadrinhos e cinema. Só que eu me imaginava sendo diretor de cinema. Eu tinha essa pretensão da realização cinematográfica plena. Mas depois que eu conheci como é fazer cinema, abandonei totalmente a idéia de dirigir. Mas roteiros eu gosto de fazer, tenho uma paixão.

Z - Dos seus roteiros, o senhor tem algum preferido?

RFL - Tenho, tenho. Eu gosto muito de As Sete Vampiras, de Escorpião Escarlate, de O Segredo da Múmia. Do Mojica, eu posso dizer que O Estranho Mundo do Zé do Caixão e Ritual dos Sádicos foram as melhores histórias. Depois botaram essa bobagem desse título besta de O Despertar da Besta. Besta é quem pôs esse título.

Z - O senhor gosta também de Mundo - Mercado de Sexo?

RFL - Esse eu nem lembro se assisti. Porque a maioria dos filmes... é uma coisa gozada comigo. Os filmes do Mojica eu só vim a assistir depois de vinte anos, mais ou menos, não conhecia nenhum. Eu fui assistir Ritual dos Sádicos em uma cabine de laboratório. Vi O Estranho Mundo de Zé do Caixão também num cinema que eu nem me lembro. Depois eu fui ver tudo isso no Cine Cauim, aqui em Ribeirão Preto, em 1986. Na ocasião, foi feita uma homenagem ao Mojica e eu consegui rever esses filmes. Agora eu recebi as caixas de DVDs, então tenho alguma coisa. Mas eu não gosto de rever. Eu gosto de ver a fase de preparação, quando o filme está começando. Depois de pronto...

Z - Perde um pouco o gosto?


RFL – Perde, porque eu sei que eu vou ver o que eu não fiz. Raramente vejo o que fiz, o que eu imaginava que ia sair. Normalmente, sai tudo ao contrário.

Z - Mas isso tanto nos trabalhos do Mojica como nos do Ivan?

RFL - Sim. Tem alguns filmes que revendo hoje...eu acho que o Mojica seguiu muito o meu pensamento n’O Estranho Mundo de Zé do Caixão. Principalmente na última parte, do episódio Ideologia, ele seguiu bem o que eu escrevi. O Ivan Cardoso em O Segredo da Múmia também. Precisava de mais dinheiro para completar o filme, mas não conseguiu e ficou meio inacabado. Então, desses filmes foi uma média de 50 a 60% do roteiro filmado. O Segredo da Múmia está mais completo porque ele tinha alguma coisa filmada, então foi um material adicional e conseguimos adaptar. Esse filme ficou mais ou menos completo, mas os outros ele não conseguiu fazer. As Sete Vampiras, então, foi um desastre. Mesmo também Escorpião Escarlate filmou 60% e só. Então, ficou uma coisa bastante confusa.



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