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Dossiê José Mojica Marins

Fogo-Fátuo
Direção: Goffredo Telles Neto
Brasil, 1980.

Por Sergio Andrade

Fogo-Fátuo é um documentário em curta-metragem, dirigido por Goffredo Telles Neto, filho de Lygia Fagundes Telles, com fotografia de Chico Botelho.

A primeira cena mostra uma pessoa totalmente vestida de preto caminhando por uma rua, ao lado de um muro. Quando ela se aproxima da câmera, joga um triângulo invertido no chão.

Na definição da Wikipédia, fogo fátuo “é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, pântanos, brejos, etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente”.

Mojica, no seu modo intenso de falar, narra sua primeira experiência com o fenômeno, quando passava de moto com um amigo na frente de um cemitério, e como aquilo a princípio o assustou, mas depois resolveu enfrentar o medo e voltou ao cemitério sozinho, esperando pela luz até ela aparecer. Descobrindo o mistério da luz, ele tornou-se um cineasta.

No palco de um teatro, diante de seus alunos do curso de interpretação, Mojica propõe um exercício de improvisação: eles estão num avião que acaba de decolar e, passado algum tempo, entra numa forte turbulência, provocando pânico a bordo. O que se segue é um verdadeiro caso de histeria coletiva, com os alunos gritando desesperados, chorando, agarrando-se uns aos outros enquanto Mojica, totalmente alucinado, vocifera de cima do palco.

Cercado de várias telas que exibem simultaneamente trechos do curso em questão, ele lamenta o pouco caso com que é tratado pela nossa intelectualidade, concluindo, como já havia feito em Horror Palace Hotel, que pertencia a uma espécie em extinção.

O grande físico Mário Schenberg, entre banners de Bruce Lee, Sonia Braga e Homem-Aranha, declara sua admiração por Mojica, que considera um dos maiores cineastas do mundo, tendo nas mãos exatamente um triângulo invertido. Para ele, Mojica não é apenas um grande criador de filmes de terror, mas também um “extraordinário criador da beleza das imagens femininas”.

Lembramos então que o triângulo invertido simboliza o sexo feminino - o que Julio Bressane explicitou em seu recente Cleópatra - e Mojica sempre foi um grande conquistador, enquanto que o personagem Zé do Caixão vive à procura da mulher superior que lhe dará o filho perfeito.

Esse é o fogo do qual Mojica se alimenta: a paixão pelo terror, pelas mulheres, pelo cinema.



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