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Dossiê José Mojica Marins

Horror Palace Hotel
Direção: Jairo Ferreira
Brasil, 1978.

Por Sergio Andrade

No final de julho de 1978, o crítico de cinema e cineasta Jairo Ferreira registrou, com sua câmera Super-8, os bastidores de uma mostra de horror nacional que ocorreu dentro do XI Festival de Brasília. Mojica, claro, foi um dos personagens principais.

Além dele, outras figuras-chave do cinema marginal estavam presentes: Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Elyzeu Visconti, etc.

Logo de início são mostrados trechos de A Sina do Aventureiro, primeiro longa-metragem de Mojica, como se fosse um filme-farol, exemplo a ser seguido pelos cineastas brasileiros.

Entrevistado por Sganzerla, ele reclama da proibição de Ritual dos Sádicos, que na época estava preso na censura fazia 10 anos, e cita um filme que estava desenvolvendo e que poderia ser interrompido caso viesse a falecer. O título: Encarnação do Demônio.

No quarto do Hotel Nacional, a conversa continua. Desta vez eles engatam numa longa discussão sobre genialidade. Sganzerla chama Mojica de gênio, ao que ele pergunta: “mas que tipo de gênio?” “Gênio nato.” Ele gosta da definição: um gênio que nasceu do nada. Para Mojica, como agora todos são gênios, é necessário inventar um novo nome para a palavra, concluindo que ele é uma espécie em extinção.

Segundo Sganzerla, “o cinema brasileiro está tão ruim que só pode melhorar, porque pior é impossível”. Trechos de alguns dos filmes que participaram da tal mostra de horror parecem desmentir essa afirmação: Agonia, Sem Essa Aranha, Os Monstros de Babaloo, em poucos segundos na tela, transbordam criatividade, ousadia, inconformismo.

Outras pessoas dão depoimentos, que acabam tendo alguma coisa a ver com o tema da mostra: Bressane afirma que o horror não está no horror; Sganzerla lembra o projeto inacabado de Orson Welles no Brasil, It’s All True; Rudá de Andrade relembra os conflitos que teve com o pai, Oswald; Dilma Lóes, a única mulher a falar, reclama da diferença de tratamento entre os competidores de 35mm e os de 16mm.

De repente surge na piscina do hotel um garotão cabeludo, tipicamente carioca, cercado por belas garotas de biquíni. Esse é o Ivan Cardoso? É! Ele comenta que levou seus filmes em Super-8 para Brasília, entre eles o clássico Nosferatu no Brasil, mas a organização esqueceu-se de pegá-los no seu quarto para a projeção.

O Horror! Arnaldo Jabor! Cinema Novo! E Mojica empurra Jabor pra dentro da piscina.

O palco da mostra principal é mostrado apenas uma vez, bem de longe.

Para Jairo Ferreira, a seleção oficial estava tão ruim que se tornou marginal, enquanto a mostra Horror Nacional tornou-se “oficial”, assim mesmo, entre aspas como ele diz, devido ao sucesso que obteve entre os jovens.

Outra figura importante presente no Festival, o “presidente” Francisco Luiz de Almeida Salles, também dá seus depoimentos sobre, entre outros assuntos, Mojica, política, senadores biônicos e de proveta, a árdua tarefa de preservação de filmes no Brasil, em que tudo parece se perder.

Ao final, Mojica Marins, visivelmente satisfeito, diz que “a batalha foi vencida, e viva o horror generoso e poético”.

Claro que um filme desses não poderia seguir uma narrativa tradicional. Muitas vezes os depoimentos são interrompidos pela metade; som de tambores ou outras músicas encobrem a fala das pessoas; algumas cenas são escuras demais e outras vezes a tela fica totalmente branca; a câmera faz movimentos inquietos.

Termina de forma abrupta, mas os letreiros finais informam que os demais cartuchos do filme foram perdidos durante a mostra.

O Horror! O Horror!



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