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Dossiê José Mojica Marins

Mojica Goes West*

Por Rodrigo Pereira, especialmente para a Zingu!


D'Gajão Mata para Vingar

A Sina do Aventureiro
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1958.

O Diabo de Vila Velha
Direção: Armanda Miranda e Ody Fraga
Direção não creditada: José Mojica Marins
Brasil, 1965.

D’Gajão Mata para Vingar
Direção: José Mojica Marins
Brasil, 1972.

Por pouco o carioca César Galvão não tira de José Mojica Marins o título de cineasta pioneiro do horror nacional. Em 1963, os jornais A Notícia e O Dia anunciaram a produção de um longa-metragem intitulado Zorga, o Médico Louco. Tal projeto, contudo, jamais saiu do papel. No ano seguinte, estreava À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) e, com ele, o personagem Zé do Caixão. César Galvão, que já havia dirigido um filme em 1958, só voltaria à direção com Ambição e Ódio (1973) – um faroeste, gênero no qual Mojica havia se exercitado antes e que voltaria a explorar outras duas vezes ao longo da carreira. Faroeste e terror, por sinal, sempre andaram de mãos dadas na cabeça dos cineastas brasileiros adeptos do cinema popular.

Não faltam exemplos: em 1954, o mineiro Luís Renato Brescia, deixou inacabado um western que se chamaria Sambruk, mas conseguiu concluir Phobus, o Ministro do Diabo (rodado entre 1965 e 1970, mas só lançado comercialmente em 1974); a filmografia do carioca Adolpho Chadler inclui, entre outros gêneros, westerns (O Tesouro de Zapata, de 1969, e Jerônimo, o Herói do Sertão, de 1972) e filmes de terror (os quatro episódios de Incrível, Fantástico, Extraordinário e um dos três episódios de O Impossível Acontece, ambos estreados em 1969); o italiano radicado no Brasil Raffaelle Rossi sai de O Homem Lobo (1971) para o bangue-bangue Pedro Canhoto, o Vingador Erótico (1974), voltando ao terror com Seduzidas pelo Demônio (1975); após dirigir e protagonizar uma série de westerns feijoada nos anos 70, o mineiro Tony Vieira retratou um serial killer em O Matador Sexual (1979); e o filme mais recente do paulistano Rubens da Silva Prado (criador, diretor e intérprete do caubói Gregório) é o ainda e injustamente inédito O Maníaco do Parque (concluído em 2002).

Muito antes de se tornarem diretores, todos eles foram moleques tarados por cinema, daqueles que batiam incessantemente os pés no chão quando o mocinho aparecia em cena a cavalo e berravam quando o monstro estava prestes a agarrar a heroína. Via de regra, os westerns e filmes de terror daquela época eram másculos e violentos, do tipo que a maioria das mulheres detesta. Além disso, trata-se de gêneros gráficos por excelência, baseados mais na força das imagens do que na complexidade dos roteiros – e imagens seriam a matéria-prima básica das obras cinematográficas que esses pirralhos viriam a criar quando adultos.

Como Mojica cresceu numa sala de cinema de bairro, da qual seu pai era gerente, não surpreende que tenha estreado na direção de longas com um western. Este ficaria relegado a uma nota de rodapé na história do cinema nacional caso o diretor não houvesse depois criado Zé do Caixão. No entanto, muitas reavaliações desse filme e dos outros dois westerns de Mojica vêm sendo feita apenas sob a ótica de sua produção terrorífica. Embora constitua um dado relevante, há outros aspectos levar em conta. Falta avaliar A Sina do Aventureiro (1958), O Diabo de Vila Velha (1965) e D’Gajão Mata para Vingar (1972) como aquilo que realmente são: faroestes brasileiros realizados num período em que o Brasil produzia muitos filmes desse gênero. Ou melhor, faltava.
Comecemos por A Sina do Aventureiro. O argumento escrito pelo próprio diretor acompanha as aventuras de Jaime (Acácio de Lima), um fora-da-lei que inferniza o sertão. Ferido num confronto com a polícia, ele encontra abrigo numa fazenda onde se apaixona por Dorinha (Shirley Alves), filha do proprietário. Arrependido da vida de crimes, se entrega à justiça, cumpre pena e volta convertido num honesto peão. Quando seus futuros sogros e Dorinha são assassinados pela gangue de Xavier (Amides Martines), Jaime descumpre a promessa que fizera de nunca mais pegar num revólver e parte em busca de vingança. Historiadores e críticos desinformados têm defendido três mitos acerca desse filme, que precisam urgentemente ser corrigidos:

1) O de que o A Sina teria inaugurado o western no Brasil. Quando Augusto Pereira e sua namorada Nilza de Lima produziram a estréia de Mojica na direção, faroestes eram moeda corrente na cinematografia nacional. O sucesso de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, havia gerado uma série de aventuras rurais, que começou com Da Terra Nasce o Ódio (1954), de Antoninho Hossri, e teve pelo menos outros 12 títulos antes de A Sina;

2) O de que teria sido esta a primeira produção brasileira rodada em Cinemascope, processo que gera imagens com uma largura maior que a dos filmes comuns. Na verdade, um outro faroeste rural, O Capanga (1957), de Alberto Severi, havia inaugurado o Cinemascope no Brasil um ano antes. Também caberia a Severi a direção do primeiro filme brasileiro rodado em Cinemascope colorido: Luta nos Pampas (1965) – novamente, um faroeste;

3) O de que as cenas de violência antecipam o estilo cru e realista dos filmes de Zé do Caixão. O faroeste de Mojica não era nem mais, nem menos violento que seus predecessores. Mulheres violentadas na trama? Todos têm. Mortes? Sim, muitas. Pancadaria? Também. Final trágico? Basta lembrar de A Lei do Sertão (1956), de Antoninho Hossri, cuja última seqüência mostra o herói (Maurício Morey) com uma faca cravada nas costas, tentando se manter em pé enquanto dá adeus à mulher que ama.

O que salta aos olhos em A Sina é o talento do diretor para registrar na memória cenas de outros filmes e recriá-las à sua maneira – algo que Quentin Tarantino pratica hoje, sem as restrições orçamentárias que Mojica e demais cineastas instintivos do Brasil sempre enfrentaram. Além do fim trágico do herói, também remete a A Lei do Sertão a cavalgada inicial do protagonista, em contraluz, sob os créditos o filme. O uso de toadas sertanejas na trilha sonora, outra constante do ciclo, também se faz presente – e não deve ter sido à toa que algumas das canções, com letras horrorosas escritas por Mojica e músicas compostas por Enibalú, foram entregues aos Titulares do Ritmo, conjunto vocal que antes havia gravado Canção do Boiadeiro para o pioneiro Da Terra Nasce o Ódio.

A posição de Jaime no começo, escondido atrás de uma casa de esquina, faz lembrar Fugitivos da Vida (1957), de Massimo Sperandeo, que também se vale de tiroteios como uma espécie de prólogo para introduzir seus personagens. Radiofônicas e solenes, as narrações em off que apresentam os protagonistas são praticamente irmãs. A de Fugitivos: “Este é um perseguido do destino. Seus rumos são espreitados. Sua vida de tragédias gerou em sua alma o desprezo da vida alheia, apegando-se à própria com desespero. Besta humana. Resta-lhe apenas o instinto físico da conservação”. A de A Sina: “Mas ele também é humano. Seus olhos já espelharam inocência um dia. Sua boca já chamou pelos outros. Que estranha força o impeliu para o mal? Que história fora a sua? Ninguém poderia dizer. Somente em seu cérebro doentio aninha-se a razão de tanta torpeza. Entre o bem e o mal, não há passagem de nível para ele. Somente sabe que é preciso sobreviver. E para sobreviver aprofunda-se cada vez mais no lamaçal repugnante da corrupção”.

Pouco importa se Mojica buscou ou não inspiração nesses westerns feijoada. Talvez as idéias tenham vindo diretamente dos mesmos westerns hollywoodianos que inspiraram os cineastas brasileiros. Fato é que a matéria-prima não eram ainda os filmes de terror, e sim os bangue-bangues (nacionais ou não). O que de mais inovador A Sina trouxe à versão tupiniquim do gênero foi o erotismo da cena em que as atrizes Shirley Alves e Ruth Ferreira banham-se nuas num rio. Trata-se de um banho inocente, entre amigas, mas antecipa a exploração da nudez feminina que se tornaria comum nos faroestes brasileiros a partir da década de 1960.

O próprio Mojica embarcaria nessa onda ao relançar A Sina em 1963, com cenas adicionais de mulheres fazendo striptease num bar. As chamadas no cartazete que anunciava a nova versão no Cine Apolo, especializado em filmes eróticos, pareciam até pertencer a um outro filme: “Belos nus! Violência ao extremo! Bang-bang de jangunços”, “Jamais foram apresentadas cenas tão inéditas”, “O filme ‘western sexy’ do novo cinema nacional”, “A beleza das camponesas em toda sua natureza!”, “Seduzidas pelos brutos no dia do seu casamento!”.

A Sina foi um dos primeiros westerns feijoada a fazer carreira no chamado “circuito secundário”. A maioria dos exemplares anteriores estreava em circuitos com um grande número de salas, encabeçados por cinemas de renome como o Art-Palácio e o Marabá. O faroeste de Mojica, ao contrário, foi lançado numa única sala, a do Cine Tangará, em Santo André. De lá seguiu pelo interior do estado, só chegando à capital paulista no ano seguinte, a 19 de agosto de 1959 – exatos oito meses após a estréia santo-andreense –, também numa única sala, a do Cine Coral. Cinemas de segunda linha no centro das capitais, cinemas de bairro e cinemas interioranos se tornariam, nas décadas seguintes, o principal refúgio dos bangue-bangues made in Brazil.

Em comparação com os outros westerns feijoada do período, o calcanhar de Aquiles de A Sina é seu protagonista. Àquela altura, a moda dos faroestes nacionais já consagrara três galãs com pinta de durão sob medida para viverem cangaceiros e peões: Alberto Ruschel, Maurício Morey e Hélio Souto. Acácio de Lima, não chegava aos pés das botas deles. Ele sequer era ator. Ganhou o papel por insistência de sua irmã, Nilza de Lima, co-produtora da fita e firmemente decidida a encaminhar na vida o irmão bon-vivant. Na pele de Jaime, Acácio carece de carisma para conquistar a simpatia do público e nem mesmo o talento artesanal de Mojica na condução do filme consegue salvá-lo. Quem se sai surpreendentemente bem é o próprio Mojica como Gregório, um dos capangas do vilão Xavier. Nem sinal das caras, bocas e trejeitos que se tornariam sua marca registrada após viver Zé do Caixão em À Meia-Noite Levarei Sua Alma.


O Diabo de Vila Velha

O oposto se dá em O Diabo de Vila Velha (1965). Apesar de covarde e submisso, o prefeito Fagundes interpretado por José Mojica Marins em tudo lembra Zé do Caixão. Criador e criatura mostram-se já então condenados a andar sempre juntos – fenômeno que se repete nos filmes de outros diretores, a exemplo de O Cangaceiro Sem Deus (1969), de Osvaldo de Oliveira, em que Mojica faz do beato Zé das Penitências um clone de seu Zé mais famoso. O argumento de O Diabo foi concebido pelo produtor Nelson Teixeira Mendes, recém-saído do grande êxito de bilheteria do filme de cangaço O Cabeleira (1963), de Milton Amaral. Ele resolveu investir os lucros desse nordestern rodado no interior paulista numa outra produção do gênero, dessa feita a ser rodado no Paraná.

As filmagens começaram em Curitiba, em cenários construídos no então em obras Teatro Guaíra. Ody Fraga respondia pela direção, mas desentendimentos constantes com o produtor quase botaram tudo a perder. Segundo relato do jornalista Aramis Millarch publicado décadas depois no jornal Estado do Paraná, Nelson Teixeira Mendes havia se apaixonado por uma das atrizes do filme durante a produção, não medindo esforços para fazer dela uma estrela. Talvez viessem daí os conflitos entre produtor e diretor. Fato é que Fraga acabou afastado e Mojica, originalmente contratado apenas como ator, assumiu a direção do que faltava – nos créditos, ele aparece como “diretor de externas”, rodadas em Vila Velha, em Foz do Iguaçu e algumas até em São Paulo. O criador de Zé do Caixão responde ainda pela canção-tema do filme, com direito a outra de suas letras pueris. Consta que o português Armando de Miranda e o produtor Nelson Teixeira Mendes também sentaram, em diferentes momentos, na cadeira de diretor, embora apenas Fraga e Mojica sejam creditados como diretores. Nessas condições, o resultado não poderia mesmo ser dos melhores.

O pistoleiro Lorenzo (Milton Ribeiro) chega à região de Vila Velha e é logo cooptado pelo coronel Amaro (Roque Rodrigues), cujas malvadezas lhe valeram o apelido que dá título ao filme. Pela primeira vez em muitos anos, o prefeito Fagundes (Mojica), protegido de Amaro, terá um opositor nas urnas. O coronel encomenda a Lorenzo a morte do candidato de oposição e de sua família, mas a filha dele (Aci Maria) sobrevive. Disfarçada de homem, ela se alista na polícia, à espera de uma chance para executar sua vingança. Se a trama principal parece confusa, o que dizer dos conflitos paralelos? Há uma mina onde Amaro mantém trabalhadores num regime de semi-escravidão, prostitutas levadas para lá e mantidas prisioneiras e até uma reviravolta sem pé nem cabeça, na qual Lorenzo revela um plano para se vingar de Amaro, que anos atrás matara seus pais.

É provável que a idéia da jovem que se faz passar por homem, inspirada no livro Grande Sertão: Veredas, tenha sido uma contribuição ao roteiro de Ody Fraga – um intelectual formado pela vida, que se consagraria posteriormente como roteirista de pornochanchadas e diretor de filmes de sexo explícito. A eficiente execução das cenas de batalha campal e o feliz aproveitamento das formações rochosas de Vila Velha, que evocam o Monument Valley dos westerns de John Ford, devem ser creditadas à intimidade de Mojica com o cinema de gênero. Contudo, não há traços autorais em quantidade suficiente para determinar quem seria o verdadeiro autor do filme.

A exemplo do que se verifica em A Sina do Aventureiro, o protagonista de O Diabo de Vila Velha constitui um sério problema. Consagrado por seu desempenho como o cruel capitão Galdino de O Cangaceiro (1953), Milton Ribeiro se tornara prisioneiro da figura do vilão sanguinário, que repete pela enésima vez nesta produção – anos antes, Mojica chegara a lhe oferecer o papel de Zé do Caixão. Embora fosse o único ator famoso do elenco, Milton não tinha forças para carregar o filme inteiro nas costas. Mas é o nome dele que aparece em destaque nos cartazes e nos créditos de abertura. A situação fica ainda pior com a função de herói distribuída entre a inexpressiva Aci Maria e o canastrão Nelson Teixeira Mendes, que reservou para si o papel de capitão Alencar (assim como o produtor Augusto Pereira fizera o tenente Osvaldo em A Sina). A grande atuação fica a cargo de Roque Rodrigues, que voltaria a viver um coronel no filme seguinte de Mojica, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967) – o segundo episódio da trilogia de Zé do Caixão.

A trilogia de westerns feijoada de José Mojica Marins termina com D’Gajão Mata para Vingar (1972). Não dá para analisar essa obra sem levar em conta o nome do herói. D’Gajão é uma clara tentativa de se criar um nome cuja sonoridade se assemelhe ao popular Django, personagem recorrente nos faroestes produzidos na Itália – o uso de verbos de ação no título também busca essa semelhança com os chamados “westerns spaghetti”. Na trama, um capataz (Nivaldo Lima) mata a filha do coronel ao tentar violentá-la. Para não ser punido, atribui a morte da moça a ciganos acampados na região. O coronel (Édio Ismânio) ordena a seus homens que dizimem todos os ciganos. Única sobrevivente do massacre, a cigana Nadja (Ana Nilsen) é levada como prisioneira à fazenda do coronel. Marido dela, o também cigano D’Gajão (Walter Portella) parte a fim de resgatá-la e vingar sua gente.


D´Gajão Mata Para Vingar

A análise de D’Gajão passa também pela relação de seu diretor com os produtores M. Augusto de Cervantes e Nilza de Lima. “M. Augusto de Cervantes” era o pseudônimo adotado pelo espanhol Manoel Augusto Pereira em algum momento de sua carreira como produtor. Após A Sina do Aventureiro e o dramalhão Meu Destino em Tuas Mãos (1963), Augusto desfizera a parceria com Mojica. Voltou a procurá-lo ao perceber o enorme sucesso que À Meia-Noite Levarei Sua Alma vinha fazendo. Assim, associaram-se no segundo filme de Zé do Caixão, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Em vez de produzir o que seria o fecho da trilogia Encarnação do Demônio com os lucros do segundo episódio, Augusto de Cervantes preferiu investir em Meu Nome É... Tonho (1969), um western feijoada dirigido pelo ex-caminhoneiro e genial cineasta Ozualdo Candeias. Nascia um clássico do gênero.

Conduzidas por Cliton Villela, as primeiras filmagens de D’Gajão não renderam sequer uma cena aproveitável – entre outras razões, porque o diretor vivia bêbado no set. Augusto e Nilza convocaram Mojica para salvar a produção com o que restava do orçamento. Bancado pelos mesmos produtores, D’Gajão Mata para Vingar é filho direto de Meu Nome É... Tonho. Os três principais intérpretes masculinos haviam desempenhado papéis de destaque no bangue-bangue de Candeias: Walter Portela (que além de ator era advogado de vários artistas da Boca do Lixo, incluindo o próprio Mojica), Nivaldo Lima (que tivera papéis distintos nos dois primeiros filmes de Zé do Caixão, entre eles o do corcunda Bruno) e Édio Ismânio (um artista de rua de força descomunal, presente em faroestes nacionais desde a década de 1950). Íntimo da estética do western feijoada, o trio sabe exatamente como se portar em cena – embora Nivaldo e Édio tenham rendido bem mais no filme de Candeias.

Se em A Sina Mojica demonstrava já ter assistido a muitos westerns nacionais ou hollywoodianos, em D’Gajão ele dá provas de que vira muitos westerns spaghetti nos últimos anos. As locações em Ponta Grossa e Porto Amazonas, no estado do Paraná, evocam com êxito o clima dos faroestes peninsulares – o tiroteio numa fazenda e as cenas com os penhascos de Vila Velha ao fundo são exemplares nesse sentido. Apesar da evidente escassez de recursos, o criador de Zé do Caixão conduz o espetáculo com o mesmo prazer juvenil de quando vibrava com os bangue-bangues em cartaz no cinema gerenciado por seu pai. Muito superior ao caótico O Diabo de Vila Velha e menos amadorístico que A Sina do Aventureira, D’Gajão Mata para Vingar é a obra-prima entre os westerns feijoada de José Mojica Marins. A não ser que ele resolva, agora que concluiu com Encarnação do Demônio (2008) a trilogia de seu mais célebre personagem, voltar aos gênero. Que tal um filme sobre um fora-da-lei arrependido e um cigano pistoleiro que, em busca de vingança, enfrentam um exército de cangaceiros mortos-vivos?

*As reflexões sobre a relação entre o horror e o faroeste nacionais contidas neste artigo são fruto da troca de idéias com os pesquisadores Carlos Primati, Laura Canepa e Beatriz Saldanha.

Rodrigo Pereira é jornalista, pesquisador e mestre em Comunicação e Poéticas Visuais. Organizou a coletânea Inesquecível – Histórias de Viagem Contadas por Quem Sabe (Ediouro, 2006) e escreveu com Daniel Camargo e Fábio Vellozo a biografia Anthony Steffen – A Saga do Brasileiro que se Tornou Astro do Bangue-Bangue à Italiana (Matrix, 2007). Atualmente prepara o livro-reportagem Rogo a Deus e Mando Bala, baseado em sua dissertação de mestrado, Western Feijoada: o Faroeste no Cinema Brasileiro (2002).



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