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Dossiê José Mojica Marins

O Universo de Mojica Marins
Direção: Ivan Cardoso
Brasil, 1978.

Por Sergio Andrade

Hoje em dia José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é admirado, reverenciado, idolatrado, considerado um gênio, quase uma unanimidade nacional. A maioria de seus filmes está disponível em DVD para quem quiser conferir.

Mas quem era Mojica em 1978? Um ser exótico, com certeza, uma aberração, um objeto não identificado dentro do cinema brasileiro ou uma simples atração de um teatro de horrores. Uma coisa é certa: ele não era levado muito a sério.

E seus principais filmes estavam fora de circulação há muito tempo.
Coube então a Ivan Cardoso, sempre visionário, revelar quem de fato era essa figura estranha, com imensas unhas e que se dedicava a um gênero totalmente desprezado entre nós, o terror.

Ivan foi então à gênese do ator e do personagem. O primeiro depoimento é justamente da mãe de Mojica, que lembra que ele sempre foi um menino obediente, e que desde os 3 anos dizia ao pai que seria artista.

Mojica cresceu cabulando aulas para ver os filmes proibidos exibidos no cinema onde trabalhavam seus pais.

Ela arremata dizendo que o filho é bom, o personagem é que é mau.
Apresentado o homem, Ivan parte para o personagem, e para isso escolheu o discurso de abertura de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”: “Quem sou eu? Não interessa! Como também não interessa quem é você. Ou melhor, não interessa quem somos. Na realidade o que interessa é saber o que somos!”

Outras cenas do filme, de tortura e canibalismo, são exibidas e pela magia da montagem de repente estamos no meio do delírio coletivo dos alunos do curso de interpretação ministrado por Mojica.

E quem é Mojica? O Antônio Conselheiro do subúrbio? O pregador antropofágico de Deus?

Despido do personagem, José Mojica Marins se revela.

Ele conta como nasceu Zé do Caixão, a partir de um pesadelo que teve com um homem de preto que lhe mostrava a lápide com a data de sua morte, um fato hoje em dia já bastante divulgado.

Porque o nome Zé? Porque Zé é brasileiro, é nosso, é caboclo!

E o que o espectador procura nos seus filmes? A catarse, que o libertará de suas pulsões negativas.

A trilha sonora vai de “Aleluia” de Haendel até a hoje banida “Quero que vá tudo pro inferno” do Rei Roberto!

Perguntado sobre sua fé, Mojica diz não ser ateu porque acredita em alguma coisa. Sua religião é o cinema!

Amém, Mojica! Aleluia, Ivan!



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