html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
Carta ao leitor.

Trio de esquecidos


A obra de diretores como Ody Fraga, Tony Vieira
e Jean Garrett permanece ignorada

Há um provérbio popular que diz que os grandes homens vivem pouco tempo. No cinema paulista, três importantes criadores tiveram pouco tempo de vida: Ody Fraga (60 anos), Tony Vieira (52 anos) e sobretudo Jean Garrett (49 anos). Personagens únicos da cinematografia nacional, com suas trajetórias e contradições próprias que permanecem ignorados pela crítica oficial.

Paras os cinéfilos, restam poucas informações sobre os diretores. Suas trajetórias foram traçadas poucas vezes, muitas vezes se restringem a publicações da imprensa alternativa como a Zingu!

Ody Fraga e Silva ganhou destaque como um dos maiores roteiristas da história do cinema tupiniquim. Bastante inteligente, desenvolveu um olhar crítico sobre a classe média e intelectual. Isso fica claro em A Dama do Zona, por exemplo, em que uma equipe de filmagens de Cinema Novo termina fazendo uma comédia erótica. Verdadeiro profeta, Ody sabia que a pornochanchada chegaria a um esgotamento. Isso fica provado em uma entrevista do esteta a revista Filme Cultura: “Hoje, estão sobrevivendo na Boca os empresários. O resto vai acabar. Em cinco anos, não tem mais. Esse é o negócio”.

Já Mauri de Oliveira Queiroz, o Tony Vieira, era um ator, realizador e produtor eminentemente popular. Seus faroestes e policiais tinham forte aceitação nos bairros e cidades mais distantes. Quase sempre, o diretor era pauta de publicações como o jornal Notícias Populares e da revista Cinema em Close Up. O pesquisador professor da Unicamp, Nuno César Abreu definiu de maneira feliz a trajetória de Tony: “Posiciona-se firmemente na trincheira da Boca do Lixo. Ao contrário de outros cineastas da Rua do Triunfo, ele não procura revestir seu trabalho de um verniz cultural, ou mesmo alegar falta de recursos”.

Natural do arquipélago dos Açores, José Antônio Nunes Gomes e Silva, o Jean Garrett foi indiscutivelmente um dos maiores autores da cinematografia nacional. Sua obra reunia filmes bem cuidados e que trafegam por diversos gêneros. Excitação é um suspense, Noite em Chamas é um filme-catástrofe e películas como O Fotógrafo e A Mulher Que Inventou o Amor são dramas eróticos. Seu trabalho chegava a ser muitas vezes reconhecido por parte da crítica. O jornalista Jairo Ferreira escreveu sobre Excitação para a Folha de São Paulo em 7 de junho de 1977: “Talento deflagrador, o jovem diretor nascido em Portugal, tem um apurado senso de narrativa, conseguindo envolver tanto o grande público como os espectadores mais exigentes. (...) Um filme que satisfaz plenamente. (...) O espectador sai do cinema com a impressão de ter assistido um dos melhores filmes do ano. Não perca”.

Tem-se no caso, três diretores bastante diferentes, mas com algumas características em comum. Todos fizeram suas carreiras na Boca do Lixo paulista e permanecem esquecidos pela mídia oficial. Eu pergunto: por que isso acontece? Por que eles não fizeram public relashionship que grande parte dos realizadores nacionais faz? Ou será também porque eles não possuem influent friends em órgãos como a Brazilian Cinema Academy?

Eu e uma meia dúzia ainda aguardamos uma resposta verdadeira.

Matheus Trunk
Editor-chefe da Zingu!



<< Capa