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Coluna do Biáfora

HOMENS EM LUTA (Perla w koronie)

Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade
“Este filme havia sido importado pela “Franco Brasileira” em 1975, mas a nossa Censura teve muito por mal proibi-la em todo este território nacional e não vamos descarregar a culpa disso apenas nas costas do então chefe daquele departamento, Rogério Nunes, porque quando uma coisa dessas acontece, não acontece simplesmente pelo momento de vacilação, ou mau humor, ou incompreensão de uma só pessoa, mas sim porque todo um estado de coisas e a ação, ou a falta de atitude de muita gente, inclusive boa parte dos setores ditos “intelectuais” e “avançados” em media está pensando ou cuidando ou querendo outras coisas. No ano passado, porém, com o estardalhaço feito em todos os lados em torno da denominada “abertura”, “Perla W Koronie” felizmente acabou sendo liberada sem cortes. Já a vimos há alguns meses, em sessão especial. E não sabemos por que durante todo esse tempo ainda não havia sido programada e só esperaram agora, esta triste e revoltante manifestação de mais outro abuso do stalinismo, sempre dito como morto, mas ininterruptamente vivo e atualmente, tal nova e infernal Fênix, que renasce, não das próprias cinzas como a ave da mitologia, mas sim em função de seu cinismo, sua voracidade e inerente canalhice, esperaram agora dizíamos, que o falso regime socialista da URSS, repetindo o que já fez na Checoslováquia, Hungria, Romênia, Albânia, Alemanha Oriental, Afganistão e a lavagem e perversão cerebral que ele manobra em todo o planeta, apronta o que está aprontando na Polônia, de Lech Walesa, de João Paulo II e, na verdade, de todo o ser humano realmente solidário e pensante. “Homens em Luta” tem sua ação passada em inícios da década de 30, quando após a revolta do povo silesiano em 21, o país recuperou parte da Silésia mas várias de suas minas de carvão ficaram nas mãos dos alemães. E a fita gira em torno dos prenúncios e preparação de uma greve de período ilimitado que um grupo de 243 operários decidiram a fim de resistir à ameaça de inundação das autoridades silesianas (meio com jeito de “gauleiters” e Quislings), cujos nomes, e ações predatórias hoje em dia quase ninguém recorda apesar de que a tão comentada II Guerra Mundial começou há 41 anos e terminou há apenas 36, meio com jeito da triste ação que está cabendo aos fantoches organismos vermelhos (diga-se o PC) da heróica nação e está também cabendo aos autodeterminados patriotas internos e ao general Jaruzelwski. Faz 800 anos ou mais que a Polônia vem sendo o corredor de toda a estúpida sede de expansionismo que devora a humanidade e os poderosos que esta cria ou deixa dominar as cúpulas, mas a coisa – é para se ter certeza – passará, embora possa se repetir ad infinitum, e não só lá. Mas voltemos a este lindo filme, que pode, em vista de seu tempo de projeção, ter suas assimetrias de ritmo, mas é uma precisa e sugestiva reconstituição de época, uma narrativa de lindos momentos e, inclusive, traz uma figura feminina envolvente como Lucja Kowolki e um corretíssimo e convincente protagonista como Olgierd Lukaszewicz, fotografia e colorido perfeitos e uma humana direção e “script” de Kazimierz Kutz. Sobretudo agora, obrigatório.”

*Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 20/12/81.



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