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Especial Bobby de Carlo

Entrevista com Bobby de Carlo

Por Matheus Trunk

Roberto Caldeira dos Santos, 61 anos, foi um dos grandes astros da Jovem Guarda. Com o pseudônimo de Bobby de Carlo, teve na música “Tijolinho” seu grande sucesso no programa. A repercussão foi tamanha, que o cantor ganhou o troféu Chico Viola e gravou dois LPs pela gravadora pernambucana Mocambo. Hoje, o ex-ídolo leva uma vida discreta no Pari, zona norte de São Paulo. Zingu! realizou uma entrevista por com este astro da JG.

Zingu! - Como você começou sua carreira artística?

Bobby di Carlo- Comecei em 1960, quando o rock apareceu no Brasil fazendo sucesso com nomes como Celly Campelo, Tony Campelo, Ronnie Cord, Carlos Gonzaga e mais alguns cantores. Lançamos pela gravadora Odeon (hoje BMG) 3 discos em 78 rpm. As canções desses primeiros discos foram Oh Eliana, Quero Amar, Amôr de Brotinho, Gatinha Lilly, Broto Feliz e Hey Lilly. Na época, eu estava com 14 anos e tive que dar um tempo na carreira porque estudava e não podia conciliar as duas coisas.

Z- Você gostava do Elvis? Qual foi o cantor que mais te influenciou?

BC- Gostava de algumas canções do Elvis. Mas os meus cantores preferidos eram o Little Richard e o Rick Nelson.

Z- E os Beatles?

BC- Até hoje, continuo gostando dos Beatles. Penso que todos da minha geração foram influenciados por eles tanto nas canções, como na maneira de se vestir e mesmo na irreverência.

Z- Como foi sua participação no programa “Jovem Guarda”?

BC- Em 1966, acontecia o programa Jovem Guarda na TV Record. O Sérgio de Freitas que era radialista me convidou para voltar a gravar. Ele me apresentou ao Wagner Tadeu Benatti, compositor que dentre várias musicas me mostrou “Tijolinho”. Gostei e fomos à cata de uma gravadora. Acertamos com a Mocambo, gravamos e a canção fez um relativo sucesso. A Record me contratou para o programa do Ronnie Von aos sábados e no Jovem Guarda aos domingos.

Z- Havia uma concorrência muito forte entre o senhor e os outros cantores jovens da época?

BC- Não vejo como concorrência. Na verdade, havia uma disputa para alcançar as paradas de sucessos. Mas sempre houve espaço para todos os intérpretes e grupos musicais da época.

Z- Cantores da Jovem Guarda como o senhor, Erasmo Carlos, Marcos Roberto e tantos outros eram tidos como bregas. O que o senhor pensa disso?

BC- Na verdade, o que é moda hoje, amanhã poderá ser brega. Na minha época, nosso estilo musical poderia ser considerado cafona.

Z- Havia muito preconceito contra a música jovem na época?

BC- A competividade entre os cantores da época podia até gerar um certo preconceito das pessoas mais velhas. Mas naquele momento nem eu, nem os outros cantores que estavam começando pensávamos nisso. Porque tudo girava em torno da Jovem Guarda, que era um grande movimento musical de toda uma geração.

Z- Um de seus maiores sucessos foi "Boneca que Diz Não". Como surgiu essa música?

BC- Na verdade, “A Boneca que Diz Não”, é uma versão gravada originalmente por Michael Polnareff um cantor belga. Como ele estava no topo das paradas, acabamos fazendo essa versão que teve grande repercussão e fez bastante sucesso.

Z- Como surgiu "Tijolinho"?

BC- O compositor da canção, o Wagner fazia parte do grupo Os Megatons. Gravamos essa canção como música de trabalho do meu primeiro LP e o resultado foi muito bom. Esse LP foi excelente porque não havia restrições na escolha das músicas, arranjos, em nada. E “Tijolinho” acabou sendo o meu maior sucesso.

Z- O segundo disco foi feito da mesma maneira?

BC- Gostei muito do resultado do primeiro. Infelizmente, o segundo foi feito de uma maneira não muito satisfatória. A escolha das músicas, os arranjos, a pressa para se lançar, a capa. Enfim, o resultado não foi muito bom.

Z- Hoje, você avalia que o resultado do segundo disco não ter sido satisfatório prejudicou a sua carreira?

BC- Embora não tenha ficado como eu queria, não abalou os meus propósitos.

Z- Como era o assédio do público feminino aos cantores da JG?

BC- Comparado aos dias de hoje, o assédio era mais comedido. Porém, era muito grande. Para nós, na verdade, esse tipo de coisa era muito bom.

Z- Como foi sua participação nos filmes “Adorável Trapalhão” e “Juventude e Ternura”?

BC- Minha participação no “Adorável Trapalhão” foi pequena. Eu aparecia cantando “Cuidado Pra Não Derreter”, que era uma das músicas de trabalho do meu disco. Já no “Juventude e Ternura”, meu papel era maior. Eu fazia um guitarrista, chamado Paulinho que tocava na banda da Wanderléa. Ela fazia a personagem Beth. Curiosidade: os dois filmes eram produções do Jarbas Barbosa, irmão do Chacrinha.

Z- Após o fim do programa, o senhor continuou a carreira musical?

BC- Sempre gostei de música e continuo como músico, arranjador e produtor de um estúdio. Espero ainda um dia poder mostrar mais algumas coisas para o grande público.

Z- O Roberto Carlos proibiu a comercialização da biografia “Roberto Carlos Em Detalhes” de Paulo César de Araújo. O que o senhor achou disso?

BC- Na verdade, eu não sei te dizer. Não li a obra literária e não saberia dizer os motivos que levaram a proibição do livro.

Z- Pra encerrar, o que a Jovem Guarda significou para o senhor?

BC- Pra mim, foi algo maravilhoso e inesquecível. Eu sempre gostei de música, e durante o programa eu conseguia fazer o que eu mais gostava com o reconhecimento do grande público.



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