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SUBGÊNEROS OBSCUROS...

APOCALYPSE MOVIES - parte 1

Por Sergio Andrade

“Se você estiver lendo este texto...”. Quantas vezes nos últimos meses você se deparou com artigos publicados na imprensa escrita que começavam dessa forma? Eles geralmente se referiam ao acelerador de partículas instalado na fronteira da França com Suíça que estava para entrar em funcionamento. Temia-se que o acelerador provocasse o aparecimento de um buraco negro que sugaria a Terra, pondo fim a nossa existência, mas ele acabou sendo uma verdadeira decepção. A única coisa que provocou até agora foi um tédio mortal nos cientistas que participam do projeto. Recentemente o tsunami do mercado financeiro mundial alimentou novas esperanças para os profetas do apocalipse.

Neste artigo selecionamos alguns filmes que tiveram o fim da raça humana como tema. Marcelo Carrard já comentou na Zingu! número 15 os filmes apocalípticos italianos. Aqui iremos tratar de filmes de outras procedências.

O Fim do Mundo (When Worlds Collide) – Rudolph Maté (1951) – Astrônomos descobrem que uma estrela entrou em rota de colisão com a Terra, calculando inclusive a data em que ela atingirá nosso planeta (num dia 12 de agosto!). A esperança é que ela traz junto um planeta, Zyra, que parece ser habitável. Os cientistas correm contra o tempo para construir uma espaçonave que levará 40 pessoas, escolhidas por sorteio, para povoarem esse novo planeta. O filme (que ganhou Oscar de Efeitos Especiais) hoje em dia pode ser considerado politicamente incorreto, já que não há nenhum negro, ou descendente de asiático ou árabe, entre os sorteados. Um dos personagens, um empresário milionário preso a uma cadeira de rodas que financia a construção do foguete com a condição de ter um lugar assegurado, parece ter inspirado Stanley Kubrick na criação do Dr. Strangelove.



Godzilla, O Monstro do Mar (Godzilla) – Inoshiro Honda (1954) - Filmes com animais mutantes devido à radiação atômica constituem um subgênero específico. Mas vou incluir este Godzilla, o original japonês, na lista de filmes apocalípticos porque o lagartão exteriorizava na tela o medo que a população japonesa tinha da destruição atômica. As seqüências em que ele destrói a cidade de Tóquio, soltando fogo pela boca e queimando diversos civis, e principalmente as cenas que mostram os feridos após os ataques, num estilo semi-documental, remetem diretamente aos horrores reais das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

O Diabo, A Carne e O Mundo
(The World, The Flesh and The Devil) – Ranald MacDougall (1959) - O começo, com Harry Belafonte caminhando por uma Nova York deserta, ainda impressiona. Ele e uma mulher branca são aparentemente os únicos sobreviventes de um acidente nuclear. A chegada de um terceiro sobrevivente, um homem branco, irá provocar os ciúmes e o conflito entre eles. Os dois iniciarão uma pequena batalha pelas ruas desertas, até perceberem o ridículo da situação. O final sugere um ménage à trois inter-racial, algo bem ousado para a época.

O Dia em que a Terra se Incendiou (The Day the Earth Caught Fire) – Val Guest (1961) – Uma forte onda de calor atinge a Inglaterra, provocando recordes de temperatura, ao mesmo tempo em que outros países sofrem com alterações meteorológicas. Um jornalista inglês vai investigar e descobre que União Soviética e EUA detonaram duas bombas atômicas, simultaneamente, nos pólos norte e sul, tirando a Terra de seu eixo e lançando-a em direção ao Sol. Somente a explosão de outras bombas talvez consiga reverter essa situação. Um filme que deixa o espectador suando de nervosismo.

The Last Woman on Earth
– Roger Corman (1961) - Um casal em crise e seu advogado, passando férias em Porto Rico, são os únicos sobreviventes de um estranho acontecimento que deixou a Terra sem oxigênio por várias horas. Os três só escaparam porque estavam praticando pesca submarina no momento. Enquanto procuram um modo de conseguir sair da ilha, a mulher e o advogado iniciam um caso, o que não agrada nem um pouco o marido. Lembra um pouco O Diabo, A Carne e O Mundo, tirando o fator racial.

Pânico no Ano Zero (Panic in Year Zero) - Ray Milland (1962) – O ator Milland prova mais uma vez ser um talentoso diretor. Uma típica família de classe média americana (pai, mãe, filho e filha adolescentes) sai em viagem de férias quando avistam estranhos clarões e uma enorme nuvem branca encobrindo a cidade de Los Angeles. Descobrem que a cidade foi destruída por um ataque nuclear, e agora é cada um por si. O filme surpreende por mostrar um típico pai de família roubando, agredindo, matando a sangue frio as pessoas, tudo para manter a família unida e sobreviver nesse mundo entregue ao caos. A certa altura eles passarão a viver numa caverna. O final é ambíguo, tanto pode significar um retorno à normalidade quanto o início de novas dificuldades a serem enfrentadas pela família.

The Day of the Triffids – Steve Sekely (1962) - Uma chuva de meteoros sobre a Inglaterra provoca a cegueira na maior parte da população (José Saramago teria visto este filme?). Apenas um marinheiro e uma menina que, por motivos diversos, não olharam para o céu naquele momento conseguem enxergar. Logo eles descobrem que o fenômeno foi universal. Pior: os meteoros trouxeram uma espécie de planta extraterrestre carnívora, de enormes proporções e capaz de se locomover, que ameaça devorar toda raça humana. Enquanto isso um casal de cientistas isolados numa ilhota e cercados pelas triffids tentam descobrir um modo de destruí-las.

The War Game – Peter Watkins (1965) - Produzido para a TV inglesa, o filme teve a exibição cancelada por ter sido considerado chocante demais para os espectadores. Realizado como se fosse um documentário mostra, em apenas 48 minutos, o que aconteceria caso a Inglaterra sofresse um ataque nuclear. Os fatos apresentados são baseados em estudos científicos, e as imagens ainda hoje são assustadoras.

O Dia em que os Peixes Saíram d’Água (The Day the Fish Came Out) – Michael Cacoyannis (1967) - Que filme fazer depois de ter realizado duas obras-primas como Electra e Zorba? A resposta do diretor grego foi uma fantasia pop-gay apocalíptica. Inspirando-se num caso real acontecido na Espanha, o filme passa-se num futuro próximo (no caso 1972), numa ilha da Grécia onde um avião militar, carregando duas bombas atômicas e uma caixa com material radioativo, sofre um acidente e cai no mar. Homens do exército são enviados para lá, disfarçados como se tivessem saído de um cruzeiro gay (e os figurinos são assinados pelo próprio Cacoyannis!). Enquanto isso os dois pilotos, apenas de cuecas, tentam se esconder da população local. Um pastor de cabras encontra a caixa e a leva para casa para abri-la, pensando que contém algo de valor (o que faz lembrar o caso do Césio 137 em Goiás). A mulher do pastor, temendo ser descoberta, joga as pedras encontradas na caixa no reservatório de água da ilha, tornando o final realmente aterrador, quando a equipe do governo vê o mar repleto de peixes mortos durante uma noite festiva na ilha, onde todos bebem da água alegremente.

The Bed Sitting Room – Richard Lester (1969) – Representantes de todas as classes sociais interagem numa Inglaterra devastada pela guerra atômica. A intenção do diretor Lester parece ser satirizar a sociedade inglesa, mas as piadas, situações e personagens talvez sejam muito british para serem entendidas por todos.

No próximo número a parte final deste artigo. Isso se o mundo não tiver acabado até lá...



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