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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard

Tenebre
Direção: Dario Argento
Itália, 1982

O Giallo é sem dúvida o principal subgênero do Horror Cinematográfico Italiano. Desde os anos 60 essas histórias sobre assassinos misteriosos, mulheres sensuais em perigo e uma violência cada vez mais extrema e barroca tem sido objeto de culto de muitos cinéfilos e críticos da nova geração, mas que no passado eram os filmes favoritos de uma massa operária que consumia um cinema popular, desprezado pela crítica da época, principalmente por sua falta de engajamento político. Sem dúvida o reconhecimento dos filmes Gialli e de suas qualidades artísticas se devem ao trabalho de Dario Argento em filmes geniais como: 4 Moscas sob o Veludo Cinza e de sua Obra-Prima: PROFONDO ROSSO aka PRELÚDIO PARA MATAR. Após sua incursão na mistura surreal entre Fantasia e Horror nos clássicos: SUSPIRIA e INFERNO, Argento lança aquele que é considerado por muitos o Giallo mais violento de todos os tempos: TENEBRE, de 1982.

Na minha opinião, no quesito violência, TENEBRE empata com o extremo Giallo de Lucio Fulci: NEW YORK RIPPER. O que Argento nos apresenta é um perturbador mergulho na mente de um Serial Killer obcecado pelos livros de um autor de histórias de mistério e assassinato. Na abertura vemos trechos do livro sendo lidos pelo assassino diante da lareira. A música do grupo GOBLIN que toca nessa abertura foi sampleada recentemente pelo Duo francês de música eletrônica: JUSTICE, na faixa: PHANTOM. No elenco aparecem Anthony Franciosa, como Peter, o tal escritor, além do veterano John Saxon e da ex-mulher de Argento: Daria Nicolodi. Com sutileza o Diretor começa a criar tensões cromáticas de vermelho e branco, que aos poucos percebemos como fragmento de um pesadelo recorrente do assassino que deseja ardentemente uma bela mulher que está em uma praia, vestida de branco e com fetichistas sapatos vermelhos, que o humilha e pisoteia seu rosto com os tais sapatos diante de outros meninos. Essa seqüência onírica é, ainda hoje, muito extrema, principalmente por encenar o desejo de meninos por uma mulher mais velha, algo complicado para a cabeça dos censores, da época, principalmente nos EUA. Além desse conteúdo sexual o filme traz alguns assassinatos brutais encenados de maneira atmosférica, densa em suspense. No primeiro deles vemos uma bela ladra de lojas sendo obrigada a engolir as páginas de um livro de Peter, justamente intitulado: TENEBRE. O assassino fotografa os corpos das vítimas e parte para uma caçada moralista onde sempre procura por vítimas que ele considera imorais, não dignas de pertencer à sociedade.

A longa seqüência do duplo assassinato do casal de lésbicas é genial em sua engenharia complicada de movimentos onde a câmera percorre toda a casa em um plano seqüência sublinhado pela trilha dos Goblin. Mesmo com a complicação técnica para realizar esse plano seqüência, o resultado valeu a pena e se tornou antológico. A seqüência longa da mulher que enfrenta o cão feroz e acaba se refugiando na casa do assassino é uma verdadeira aula de construção de suspense que culmina em sangrentos golpes de machado. Mas nada supera a seqüência do assassinato na noite de tempestade onde uma bela mulher está em uma casa de paredes brancas, aterrorizada, com a expectativa de que algo terrível pode acontecer. Argento cria uma atmosfera sufocante de tensão e suspense que explode em mutilação e sangue jorrando nas tais paredes brancas como se quisesse demonstrar toda a insanidade do assassino e sua obsessão cromática com o branco e o vermelho que percorreram todo o filme. Além do final surpreendente, o filme consegue o mérito de se aproximar da genialidade de PROFONDO ROSSO e é um Clássico obrigatório do Cinema de Horror Italiano. O roteiro inspirado, a produção de Salvatore e Claudio Argento e os habituais colaboradores de Dario ajudaram mais uma vez na criação de um sangrento yableau com imagens inesquecíveis...




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