html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net

Clássicos de Prestígio

Por Gabriel Carneiro

O Mundo Perdido
Direção: Harry O. Hoit
The Lost World, EUA, 1925.

O final do século XX despontou para os mega efeitos especiais, computadorizados e cheios de CGI. Com o cinema moderno, veio uma urge em se criar um cinema realista. Passou-se a conceber a arte como representação do que vivemos. Os filmes de fantasia diminuíram em quantidade, e, em grande parte, foram desprezados pela crítica. Continuaram existindo, claro, mas seus efeitos visuais são um esplendor de realismo. O grande desafio é fazer monstros realistas, mostrar um acidente como se tivesse sido captado ao vivo... Sem desprestigiá-los, pois são grandes filmes também, mas o sucesso de filmes como Jurassic Park e King Kong (2005) é a capacidade em trazer o irreal para o mundo em que vivemos.

Essa nova visão sobre o cinema e a arte em geral fazem com que o público se esqueça, desconheça ou mesmo renegue o trabalho de grandes artistas dos efeitos especiais. Por isso é tão importante o lançamento em DVD de A 20 Milhões de Milhas da Terra, O Monstro do Mar Revolto e A Invasão dos Discos Voadores, todos sob a tutela de Ray Harryhausen, e devidamente vendidos como obras desse mestre da animação e dos efeitos visuais. É importante também ver o AnimaMundi prestigiando Harryhausen e fazendo uma mini-retrospectiva de seus filmes. Harryhausen parece estar, aos poucos, sendo recuperado pelas novas gerações. Mas não se pode esquecer que o homem que começou com tudo isso e criou Ray foi Willis O’Brien, autor dos efeitos visuais de King Kong (1933) e desse O Mundo Perdido.

Tanto Harryhausen, quanto seu mestre Willis O’Brien, usavam a técnica stop-motion – que hoje é conhecida pelas animações com massinha -, combinada com a filmagem live-action. O’Brien revolucionou o mundo da animação e dos efeitos visuais. O stop-motion é a técnica em que se filma um objeto, como um boneco ou um pedaço de massinha, quadro a quadro para lhe dar movimento. Para dar o efeito, filma-se dois planos separados, que depois são integrados. No caso de O’Brien, filmava-se, geralmente, a ação dos personagens em carne e osso, e se projetava no último plano, enquanto em primeiro plano estava a ação dos bonecos de Marcel Delgado. Para o fundo, quando não havia ação de personagens reais, eram usadas pinturas em vidro. A técnica tinha um objetivo, a de representação daquele mundo ficcional, fantástico, porém se perder de visão o que aquilo era: uma história extraordinária.

O Mundo Perdido, adaptação do livro do Sir Arthur Conan Doyle, narra a aventura de um pesquisador que, ao se deparar com as anotações de um colega desaparecido, quer a qualquer custo desvendar o mistério. Para isso, anuncia a todos, e, com dificuldades, convence uma trupe a explorar a Amazônia, onde há uma chapada que conserva animais pré-históricos, os dinossauros. A história originou King Kong e Jurassic Park – que fizeram, inclusive, melhor uso dela. O que impressiona no filme não é a adaptação. O chamariz da produção está nos grandiosos efeitos especiais. São seqüências invejáveis, de um cinema criativo nos anos 20, feito a custosamente e de estrondoso sucesso. As batalhas entre os dinossauros e a integração das bestas aos seres humanos são a lógica do cinema de entretenimento – e com grande valor artístico.

O cinema clássico vendia ao espectador diversão. Os efeitos visuais feitos com esse intuito, com o intuito de mostrar um mundo fantasioso – e por isso dominar as técnicas de efeitos para além da imaginação, lúdicos -, criaram a tônica do faz de conta, que não está apenas na animação – cuja técnica já rendeu filmes como O Imperador e o Rouxinol, adorável animação de bonecos, de Jiri Trnka -, mas também nos filmes live action, que constroem uma realidade paralela, tal qual a dos exploradores ávidos em conhecer um mundo inimaginável, dominado por dinossauros.

Pensar na perfeição dos modelos em O Mundo Perfeito ajuda a entender o caráter lúdico do filme. Em cada movimento do brontossauro, na textura da cabeça do tricerátops, e na incrível batalha entre ele e um allossauro, vemos o visionário na criação da realidade que está além da nossa.




<< Capa