Dossiê Reynaldo Paes de Barros
FILMES NOSSOS
Por Jairo Ferreira
Seleção e transcrição: Matheus Trunk
FILMES NOSSOS
Por Jairo Ferreira
Seleção e transcrição: Matheus Trunk
Alguns milhões de cruzeiros novos foram investidos na produção de filmes brasileiros- isto só no último trimestre de 68. Abandonando sua fase de empirismo e/ou utopia, o cinema nacional está caminhando rumo a industrialização e/ou maturidade. Só um gringão tipo Dino Sizza duvida de tais fatos. De um lado há um grande esforço dos homens que fazem cinema no Brasil, procurando e já tendo atingido um nível apreciável de qualidade. De outro, está o nosso Institute, que pensa que o ingresso padronizado redimiu o cinema nacional. No primeiro quadrimestre deste ano acumularam-se mais de 30 filmes nas prateleiras, para só falar em São Paulo. O INC ainda não aumentou os dias de exibição, obrigatória para filmes nacionais, estacionados em míseros 56/ano. Os realizadores estão endividados até o pescoço. Um filme se paga e/ou dá lucro na bilheteria, não nas prateleiras ou nas gavetas do INC. A demanda interna é violenta, os filmes são bons e comerciais e vai chegar o momento em que os cineastas brasileiros vão quebrar o pau com o INC, que está encarregado de assegurar o lançamento de nossos filmes. Como é, INC, vai abrir uma brecha no mercado ou não vai ?
O Cangaceiro Sanguinário, Art Palácio, filme de “cangaço” que valoriza o gênero, revela Oswaldo de Oliveira como ótimo diretor-artesão. Galante e Llorente, os produtores, acertaram em cheio. O filme é comercial no bom sentido. Aborda o tema não à moda de certos picaretas, mas com honestidade profissional. Uma equipe idônea e eficiente garante o espetáculo. Há violência e erotismo, mas de maneira válida. Direção firme. Atores corretos. Boa música. Bela fotografia eastmancolor. Nada sério demais nem cansativo- isso é bom.
Outra surpresa: Perigo á Vista, Cine Olido, sensacional direção de Reynaldo Paes de Barros. Agnaldo, por sorte, canta pouco. Prevalece a aventura: cinema é aventura, ritmo, movimentação. A fotografia colorida é das melhores. A montagem de Glauco Mirko Laurelli é genial. Na base do descompromisso, é um filme muito melhor que o do Roberto Carlos.
*Originalmente publicado em 1º de maio de 1969 no jornal “São Paulo Shinbun”.