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Dossiê Reynaldo Paes de Barros

A PARCERIA DE REYNALDO E JEAN GARRETT

Por Matheus Trunk



Natural do distante arquipélago dos Açores, José Antônio Nunes Gomes e Silva sempre se demonstrou um realizador diferenciado. Tornou-se o “menino de ouro” da Triunfo com o pseudônimo de Jean Garrett. Seus três primeiros longas-metragens foram produzidos pelo produtor e ator David Cardoso. Sua primeira realização, “A Ilha do Desejo”, teve como diretor de fotografia o quase desconhecido Wellington Trindade.

Com grande sucesso de bilheteria, David e Jean pensaram em um novo filme. Dessa vez, queriam um produto mais requintado. Apesar dos bons resultados, “A Ilha do Desejo” não conseguiu o mesmo desempenho na crítica. Bastante pretensioso, Jean pensava em misturar um filme policial com toques eróticos. Com produtores associados como José Ermínio de Morais e Gulherme Melão, surgiu “Amadas e Violentadas”, o segundo longa-metragem de Jean Garrett na Boca paulista.

Esse filme marca o início da parceria de Jean com o sul-matogrossense Reynaldo Paes de Barros. O técnico já havia trabalhado com Cardoso antes e foi apresentado por ele a Jean. A história do filme gira em torno de Leandro (David Cardoso), jovem escritor de livros policiais, famoso pelo realismo de suas obras. Todas as mulheres que passam por sua vida acabam sendo assassinadas misteriosamente.

Com um capricho tanto na parte formal quanto técnica, este filme é um marco na cinematografia do realizador e do ator-produtor. Para Reynaldo, este é um dos seus melhores trabalhos como técnico. “O Jean sempre foi um cara bastante preocupado com a realização das películas. Embora eu tenha algumas críticas a maneira dele de dirigir os atores, é importante dizer que ele sempre me deixou trabalhar tranqüilo. Conseguimos uma boa parceria”, analisa o técnico sul-matogrossense.

“Amadas e Violentadas” conseguiu trazer 700 000 pessoas para as salas de cinema. A colaboração entre Reynaldo e Garrett se estendeu para o terceiro longa do cineasta português no cinema brasileiro: “Possuídas Pelo Pecado”. Este seguiu a risca a mesma fórmula dos filmes anteriores da Dacar (produtora de David): bom elenco, produção impecável e clima policial-erótico. O milionário Leme (Benjamin Cattan, sempre genial) frustrado por não ter filhos, mantém duas secretárias que também são suas amantes (Helena Ramos e Zilda Mayo). Seu esperto motorista André (David Cardoso) planeja um golpe para adquirir seu patrimônio.

Apesar dos cuidados, os críticos continuaram falando mal dos filmes da dupla Jean-David. Em um artigo publicado no Jornal do Brasil de 22 de janeiro de 1977, a jornalista Mirian Alencar chegava a classificar “Possuídas” como um “pornoconfusão”: “Não apresenta novidades, exaurida que foi por dezenas de outros filmes (...) Poderia até ser um filme plausível, classe B, como dezenas que são facilmente consumidos se o tratamento dado não fosse o mais indigente possível”.

Após essa produção, a parceria entre David Cardoso e Jean se desfez. Segundo David, o realizador passou a cobrar mais caro, e por isso, o ator-produtor percebeu que era a hora dele dirigir seus próprios filmes. Assim ele foi fazer “Dezenove Mulheres e Um Homem”.

Garrett investiu seu sangue e suor em “Excitação”, produção do português Augusto Cervantes, que conseguiu uma boa bilheteria e boa recepção da crítica (em especial de Jairo Ferreira da Folha de São Paulo). Porém, para este filme o diretor preferiu como diretor de fotografia Carlos Reichenbach.

Mas a parceria de JG com Reynaldo voltou a acontecer pela última vez em “Noite em Chamas” (1979). Caso único na cinematografia paulista da época, este era um filme catástrofe. “Essa foi uma realização bastante difícil. Foi meu último trabalho com o Jean e o único com o produtor Cervantes. Praticamente tudo filmado naquele hotel, que no filme era destruído por um incêndio. Dentro dos padrões e limitações que nós tínhamos, saiu um produto comercial de grande qualidade”, avalia Reynaldo.

Jean continuaria sua saga dirigindo outros filmes cada vez mais audaciosos que lhe garantiriam a fama de ser um dos melhores realizadores do período. Seus diretores de fotografia em filmes posteriores foram Cláudio Portioli, Carlos Reichenbach e A.J. Moreiras. Nunca mais voltaria a trabalhar com o sul-matogrossense Reynaldo Paes de Barros.

Depoimento:
“Acho que praticamente todos esses trabalhos com o Reynaldo foram bastante tranqüilos. Na minha opinião, ele sempre foi um cara excepcional dentro e fora do set de filmagem. Por ter currículo no Exterior e tudo mais, eu sempre enxerguei ele como uma pessoa diferenciada da maioria das pessoas da Boca.”
Luiz Gonzaga dos Santos, cineasta que foi assistente de direção de Jean Garrett em “Amadas e Violentadas”, que tem fotografia de RPB.



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